Quatro anos após o seu lançamento, o Pix se consolidou como o meio de pagamento mais difundido entre os brasileiros. O serviço de transferência instantânea, criado pelo Banco Central (BC), é usado por 76,4% da população. Segundo os dados da pesquisa O Brasileiro e sua Relação com o Dinheiro", publicada em dezembro pela autoridade monetária, em seguida, figuram o cartão de débito (69,1%) e o dinheiro (68,9%). O cartão de crédito aparece em quarto lugar, sendo utilizado por 51,6% da população.
Agilidade e praticidade fazem parte do sucesso do Pix, que aos poucos vem substituindo o dinheiro físico e ganhando espaço até mesmo disputando com o segmento de cartão de crédito no parcelamento de compras. "Desde o seu lançamento, o Pix tem se mostrado uma importante oportunidade para o Brasil reduzir a necessidade do uso de dinheiro em espécie em transações comerciais e também se tornou uma importante ferramenta para impulsionar a bancarização no país, trazendo novos clientes para o sistema financeiro. Suas operações continuam em ascensão e batem consecutivos recordes", avalia Walter Faria, diretor-adjunto de Serviços da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
De acordo com a pesquisa do BC, o Pix é amplamente usado por brasileiros de ambos os sexos, de todas as classes sociais e nas cinco regiões do país. No recorte por gênero, 74,5% das mulheres o utilizam. Com relação aos homens, o percentual é um pouco maior: 78,4%.
Na comparação por idade, a utilização é maior entre os mais novos: 87% entre as pessoas de 16 a 24 anos; 91,2% entre 25 e 34 anos; 91,1% entre 35 e 44 anos; 71,4% entre 45 e 59 anos; e 43,9% a partir de 60 anos.
O Pix também é usado por pessoas de todas as faixas de renda. Os percentuais são de 67,8% para quem recebe até dois salários mínimos; 79,9% no grupo de dois a cinco salários mínimos; 80,0% no grupo de cinco a dez salários mínimos; e 91,7% para a faixa superior a 10 salários mínimos.
Segundo o diretor de Administração do BC, Rodrigo Teixeira, a pesquisa mostra que a agenda de digitalização está mudando os hábitos de pagamento dos brasileiros. "E a tendência é de aumento do Pix para os próximos anos. Com o Pix automático e o Pix por aproximação, certamente teremos um novo mapa de pagamentos no país, que deve ser refletido na próxima pesquisa", projeta.
Novas funcionalidades
Com recorde de usuários, as novas funcionalidades do meio de pagamento digital prometem facilitar a vida de consumidores e lojistas. Até mesmo as contas de consumo no dia a dia, normalmente pagas por meio de boleto, ganharam a opção de serem pagas com o Pix.
Já é possível realizar o Pix agendado recorrente, nova modalidade permite que qualquer pessoa agende pagamentos de mesmo valor para cair na conta do recebedor sempre no mesmo dia de cada mês. Com previsão de lançamento em 2025, o Pix automático também possibilitará o pagamento de contas recorrentes de forma programada.
A principal diferença entre o automático e o agendado está no destinatário da transferência. Enquanto o Pix automático é restrito para o pagamento de clientes a empresas, o agendado é uma forma de automatização voltada a pagamentos entre pessoas físicas.
Para o economista Juan Ferrés, CEO da Teros, as novas ferramentas para o Pix devem impulsionar ainda mais o sistema financeiro. "Não tenho nenhuma sombra de dúvida de que vai expandir o uso do Pix para segmentos adicionais de pagamentos que, hoje, estão bloqueados em outras formas, o que também vai acirrar a competição. E vai ser rápido, a minha impressão é que vai ser muito rápido", avalia.
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Crediário digital
Utilizando a plataforma do Pix, o Pix parcelado tem se apresentado ao mercado como um fiel aliado dos consumidores que preferem não utilizar os cartões na jornada de compra, seja por não gostarem do método de pagamento tradicional, por não terem acesso a ele ou por contarem com um limite baixo. O meio de pagamento também possibilita o acesso ao parcelamento para pessoas que não poderiam adquirir algum produto por não possuírem o dinheiro total à vista.
Apesar de não ser uma funcionalidade totalmente difundida e tão popular, existem dois modelos de Pix parcelado. Um por meio do cartão de crédito, em que é feita a compra ou transferência com o Pix parcelado, e o valor não é descontado na hora, diretamente da sua conta. Em vez disso, entra na fatura do seu cartão como uma compra convencional, e será cobrado em parcelas mensais a partir do próximo vencimento.
A outra maneira é oferecida diretamente por lojas ou instituições financeiras e permite dividir o valor de uma compra em várias parcelas, sem a necessidade de um cartão de crédito. O método de pagamento é uma escolha interessante para quem não gosta ou não quer usar o cartão de crédito. Ou ainda, quem está com pouco limite disponível no cartão.
Funcionando como uma espécie de crediário digital, ele é mais recorrente no comércio, em comparação com indústria e serviços. Para usá-lo, é preciso possuir uma conta em um banco. Assim, na hora que o usuário for transferir uma quantia para outra pessoa ou empresa, ele solicita um valor emprestado à instituição e escolhe a quantidade de parcelas. O parcelamento pode ser em até 24 vezes, com juros entre 2,09% e 3,99% que variam de acordo com cada instituição. No entanto, quem recebe o dinheiro tem acesso ao valor integral imediatamente.
Com a modalidade, esses consumidores conseguem parcelar suas compras sem um cartão de crédito, aproveitando, dessa forma, mais promoções e comprando mais itens — ou seja, aumentando o ticket médio da compra. Além disso, o Pix parcelado também pode ser vantajoso para aqueles que não querem comprometer o limite de crédito do cartão.
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Eduardo Zucareli, CCO da Pagaleve, fintech que oferece Pix parcelado por meio de uma plataforma tecnológica, acredita que o cartão de crédito nunca teve um concorrente que o desafiasse. "O Pix surge como um outro jeito de pensar tanto para pagamentos à vista quanto no parcelamento, de forma muito mais democrática do que o cartão de crédito. Atualmente, 38% da população brasileira não tem acesso a este meio, e, dos que possuem o cartão, a média do limite oferecido é baixa, cerca de R$ 1,3 mil", afirma.
Uma das principais queixas dos consumidores em relação aos métodos tradicionais de pagamento — seja o cartão de crédito ou mesmo TED, DOC e boletos —, é que, hoje, o Pix parcelado oferecido pelos bancos nada mais é do que uma nova roupagem para empréstimo pessoal, em que são cobradas altas taxas de juros.
O foco do Pix parcelado sem cartão é o e-commerce. De acordo com Zucareli, a modalidade já está disponível em mais de 4,5 mil lojas on-line. "O Pix parcelado surgiu para preencher uma lacuna nos meios de pagamentos digitais e se apresentou como um método de parcelamento fácil, intuitivo, democrático e atual", avalia.
Vilões da inadimplência
O cartão de crédito é um dos principais vilões da inadimplência no Brasil, juntamente com empréstimos em bancos e financeiras. De acordo com o estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o cartão de crédito lidera a lista das principais contas em atraso, contribuindo com 31% dos casos de inadimplência.
Em seguida, estão os empréstimos em bancos ou financeiras (26%), crediário (21%), cheque especial (15%). Essas dívidas levaram muitos consumidores a terem seus nomes negativados. Entre as razões que colocam o cartão de crédito como uma armadilha financeira estão altas taxas de juros, além do crédito rotativo.
A modalidade de crédito é ativada automaticamente quando o cliente não paga o valor total da fatura do cartão de crédito até a data do vencimento e é a mais cara do país. No ano passado foi aprovada uma lei que limita os juros do crédito rotativo a 100%, ou seja, uma dívida só pode alcançar o dobro de seu valor em juros. No entanto, a decisão entrou em vigor este ano e vale apenas para as dívidas contraídas a partir de janeiro.
Segundo o presidente da CNDL, José César da Costa, o consumidor inadimplente está devendo para os bancos e essas dívidas possuem juros altos. "É preciso responsabilidade na tomada de crédito e verificar a disponibilidade financeira para quitação, assim como todas as taxas envolvidas na negociação. E para sair desta situação, ele precisa fazer uma boa negociação e um planejamento realista, sem que gere novos atrasos nos pagamentos das contas", destaca o economista, que afirma que é preciso estabelecer uma boa regra entre despesas instantâneas e a crédito.
Para evitar o endividamento, é importante educar-se financeiramente e não usar o cartão de crédito como uma extensão do salário. Uma forma de se programar é não deixar o limite do cartão ultrapassar 30% do salário mensal.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, afirma ainda que a recuperação do consumo das famílias depende de uma gestão responsável do crédito. "Apesar de um leve aumento do endividamento, o impacto na renda mensal tem diminuído, refletindo o esforço das famílias em manter suas contas equilibradas mesmo diante de adversidades econômicas", observa.
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