O Boletim Focus divulgado ontem mostra uma deterioração das expectativas, em especial da inflação. Economistas do mercado financeiro voltaram a elevar as projeções para inflação, câmbio e taxa básica de juros (Selic) neste ano. Segundo os dados do relatório publicado semanalmente pelo Banco Central, a mediana para o IPCA de 2025 subiu pela décima semana consecutiva, de 4,60% para 4,84% — acima do teto da meta, de 4,50%.
A mediana da inflação projetada para 2026, por sua vez, permaneceu em 4,0% — há quatro semanas era de 3,78%. Já a estimativa para 2027 subiu de 3,66% para 3,80%, em comparação com os 3,51% registrados há um mês. A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e em 2025. A margem de tolerância para que ela seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.
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No último dia 11, o BC não só elevou os juros pela terceira vez, para 12,25% ao ano, como também indicou que deve subir a taxa novamente no começo de 2025. Segundo o Focus, a mediana das expectativas para a taxa básica de juros ao fim do próximo ano agora é de 14,75%, de 14% na semana anterior. Para o fim de 2026, o mercado financeiro elevou a projeção de 11,25% para 11,75% ao ano.
Para o fechamento de 2027, a projeção do mercado para a Selic ficou estável em 10% ao ano. Já em relação ao dólar, a projeção para a taxa de câmbio para o fim de 2024 subiu de R$ 5,99 para R$ 6. Para o fim de 2025, a estimativa avançou de R$ 5,85 para R$ 5,90. Enquanto a projeção do PIB passou de 2,01% para 2,02%.
Expectativas
Segundo Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, o Boletim Focus desta semana traz um cenário de maior pessimismo para a economia brasileira. "A projeção do IPCA subiu para 4,84% em 2025, consolidando expectativas de inflação acima da meta. Além disso, a previsão para a taxa Selic aponta um aumento para 14% no curto prazo, refletindo as preocupações com o controle da inflação e o impacto do pacote fiscal. O dólar também deve seguir pressionado, com projeções em torno de R$ 5,90, o que traz desafios adicionais para importadores e setores dependentes de insumos externos", afirmou.
"A expectativa de um aumento na taxa Selic reflete a preocupação crescente do Banco Central em conter a inflação, especialmente diante de um cenário fiscal desafiador e pressões cambiais. O mercado financeiro já precifica esse movimento, interpretando-o como uma sinalização de maior compromisso com o controle inflacionário, mas também com impactos significativos no crescimento econômico e no custo do crédito para empresas e famílias", explicou Monteiro.
Para Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, o movimento do Focus reforça a necessidade de uma política monetária mais rígida para conter pressões inflacionárias, mas também intensifica o custo do crédito e limita o consumo, afetando setores sensíveis à demanda doméstica. "Além disso, o aumento nas expectativas para o câmbio eleva os custos de importação e traz desafios adicionais para diversos segmentos da economia. No setor da construção civil, os juros altos tornam o financiamento de projetos mais oneroso, dificultando novos empreendimentos e informações sobre as margens das empresas", disse.
Fechamento
No último dia de operações antes da véspera de Natal, o dólar registrou alta robusta de 1,87%, cotado a R$ 6,18, com as atenções ainda voltadas para o exterior. Na semana passada, o Federal Reserve (Fed) - o Banco Central dos EUA — surpreendeu o mercado, com a projeção de um ritmo mais moderado nos cortes da taxa de juros no ano que vem. Na reunião encerrada na última quarta-feira, o Fed reduziu os juros no país em 0,25%, para um patamar de 4,25% a 4,50% ao ano.
Em uma semana de menor liquidez e poucas divulgações econômicas pelo feriado, os mercados ainda digerem o comunicado e as projeções publicadas pelo Fed, na avaliação da gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, Paula Zogbi. "As projeções de taxas de juros altas por mais tempo, com inflação mais elevada e precificação de apenas dois cortes em 2025, trouxeram volatilidade para os ativos de risco e mais força para o dólar, que tem ainda mais força em relação ao real do que a outras moedas, graças aos riscos fiscais domésticos", avaliou.
Já o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) encerrou o dia em queda de 1,09%, aos 120.766, com os agentes do mercado ainda digerindo o pacote fiscal enviado pelo governo federal, aprovado no Congresso Nacional na semana passada. No último fim de semana, o Ministério da Fazenda atualizou o impacto que a desidratação dos projetos teve no parlamento para R$ 2,1 bilhões. Com isso, a nova previsão do governo é economizar R$ 69,8 bilhões até 2026, ante R$ 71,9 bilhões da projeção anterior.
As ações da Petrobras (PETR4) subiram 0,03%, mesmo com a queda no preço do petróleo no mercado internacional. Preocupações com um excedente de oferta no próximo ano, diante de um comércio mais fraco, além da valorização do dólar, fazem a commodity perder valor no exterior. Os papéis da Vale (VALE3) subiram 0,42%, no mesmo ritmo da alta do minério de ferro na China.