O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os quase seis anos da sua gestão à frente da autarquia foram marcados por vários desafios na condução da política monetária. Em uma live de despedida realizada ontem, no canal do BC, ele recordou os impactos da pandemia da covid-19 e de outros acontecimentos desde 2019, e destacou que "deu um exemplo de transição suave" durante o processo de mudança do comando da autarquia para Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
"Eu não posso dizer que os últimos seis anos foram calmos — na verdade, eu acho que, se pensarmos todos os tipos de problemas que poderiam ter dado, eu sempre digo que estamos com um álbum de figurinha completo", disse o banqueiro central, citando, além da pandemia, a tragédia de Brumadinho e a crise na Argentina.
Campos Neto citou a conquista da autonomia institucional como uma das principais mudanças na instituição durante a sua gestão, iniciada em 2019. O banqueiro central disse que esse processo representou um ganho institucional, mas ainda não está terminado.
"Acho que coloca a instituição à frente das pessoas, à frente da ideologia, à frente dos governos, à frente do tempo político, com um tempo diferente do tempo político, com um tempo institucional mais adequado às características necessárias para o cumprimento das nossas missões", disse o presidente do BC, acrescentando que o valor da autonomia foi demonstrado durante a transição no comando da autarquia.
A autonomia operacional do BC foi uma bandeira da gestão de Campos Neto, que tomou para si a tarefa de articular com parlamentares a aprovação da medida. Mesmo assim, o banqueiro central não conseguiu avançar na autonomia financeira. Uma proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre o tema está parada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Essa medida deverá ficar nas mãos do futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, que já assume a chefia da autarquia interinamente a partir de hoje e definitivamente em 1º de janeiro.
O mandato de Campos Neto só termina em 31 de dezembro, mas o banqueiro central anunciou na quinta-feira que entrará em recesso.
Entre as principais mudanças do seu mandato, Campos Neto também citou o ganho de reconhecimento da sociedade, devido à implementação de produtos como o Pix. Mencionou também a cultura de inovação no BC. Mencionou, também, o Open Finance e o Drex, a agenda de tecnologia e inovação da autarquia.
Independência
Campos Neto comentou ainda, na live, o processo de mudança do comando da autarquia para Galípolo. "A gente sabia que essa autonomia é muito testada, é a primeira mudança de governo dentro de uma autonomia, então isso é superimportante", afirmou. "A gente teve muito ruído nessa transição, mas eu acho que a minha parte para contribuir com esse processo é fazer uma transição suave, e a gente está dando o exemplo de uma transição que é muito suave."
Na quinta-feira, durante uma entrevista coletiva, Campos Neto e Galípolo relataram que, nos últimos meses, o papel do futuro presidente do BC nas decisões da autarquia tem crescido. Galípolo é hoje diretor de Política Monetária, mas já teve um peso maior na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), por exemplo.
Campos Neto relembrou que gostaria de ter aprovado a "autonomia total" do BC, que inclui, além da independência operacional, a financeira, orçamentária e administrativa. Sem essas dimensões, a própria autonomia operacional pode ficar em xeque, porque pode haver constrangimentos pela via financeira, ele disse.
"Eu acho que, para ter uma blindagem melhor do ciclo político, precisa ter autonomia financeira e administrativa. Então, acho que a gente caminhou muito no sentido da blindagem, mas a gente precisa avançar um pouco mais. Lembrando que a blindagem vem também com experiência e com tempo e com os enfrentamentos que são naturais", afirmou o presidente do BC.