conjuntura

Dólar bate em R$ 6,20, mas recua e fecha nos R$ 6,09

Além das incertezas em relação ao pacote de corte de gastos, mercado ainda ficou histérico com mentiras sobre Galípolo. Leilões e Lira ajudaram na derrubada

Não bastassem as desconfianças do mercado financeiro em relação ao governo federal e o Congresso sobre o pacote de corte de gastos e a reforma tributária, um perfil mentiroso no X (antigo Twitter) ajudou a aumentar a histeria em relação ao dólar. Resultado: a moeda norte-americana alcançou exorbitantes R$ 6,20 pela primeira vez na história. Mas, com o decorrer da tarde, foi arrefecendo até fechar em R$ 6,096.

Dois fatores levaram à queda, que, mesmo assim, é uma alta de 0,02% em relação ao valor de encerramento do mercado na segunda-feira: 1) o Banco Central (BC) voltou a atuar com dois leilões extraordinários, com venda da moeda no mercado à vista — o primeiro, de US$ 1,2 bilhão, e o segundo, de US$ 2,015 bilhões; e 2) o anúncio do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), de que parte do pacote de corte de gastos seria votado.

"Não estou garantindo a aprovação ou rejeição, mas vamos votar", sentenciou Lira. Em seguida, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse que as medidas também serão apreciadas no Senado nas próximas horas. Depois disso, as coisas foram se acalmando.

Mas, na parte da manhã, a histeria tomou conta do mercado. Isso porque um perfil falso no X chamado "insidercapital" — que foi deletado — atribuiu várias mentiras ao futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo. Uma delas era sobre "uma nova moeda do Brics", que, supostamente, protegeria o mercado da pressão do dólar.

Além disso, divulgava que Galípolo considerava a alta da moeda norte-americana "artificial" e que, por isso, não via o cenário com preocupação. Atribuía ao futuro presidente do BC a "meta" fazer o dólar "retornar aos R$ 5,00" em 2025.

Fim de ano

Para manter a moeda pressionada, operadores apontam uma demanda típica de fim de ano para remessas de lucros e dividendos ao exterior. Há relatos de que empresas e fundos teriam adiado compra de dólares à espera de que a taxa de câmbio baixasse. Como isso não se materializou, correram para fechar operações nesta semana, a última com liquidez razoável ainda em 2024.

"Há muita demanda de moeda nesta última semana útil do mês e o cenário externo segue adverso, com dólar forte, diferentemente do que vimos em dezembro do ano passado", afirma a economista-chefe e CEO da Buysidebrazil, Andrea Damico, acrescentando que ainda falta o governo recuperar a confiança na política fiscal.

"O BC fez leilão maior à tarde, suprindo a demanda por divisas, o que ajudou a acalmar um pouco o dólar. E depois vieram as notícias sobre a possibilidade de aprovação do pacote fiscal neste ano, o que diminuiu o clima de incerteza", afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, para quem o BC deve ter identificado uma "disfuncionalidade" do mercado, com uma demanda pontual muito forte por divisas.

"O BC já deixou bem claro que não olha o nível da taxa de câmbio. Foi mais uma atuação para dar liquidez ao mercado", acrescentou.

O BC injetou US$ 12,760 bilhões no mercado cambial em dezembro, com leilões de linha baseados no compromisso de recompra e venda de moeda à vista. Trata-se da maior intervenção da autoridade monetária para um único do mês desde março de 2020, marcado pela chegada da pandemia de covid-19 ao Brasil. (Com Agência Estado)

 

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