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Felipe Salto diz que país está num momento 'muito grave do ponto de vista fiscal'

Especialista em contas públicas alertou sobre a necessidade de controlar o aumento das despesas e, nesse sentido, defendeu corte de subsídios

O Brasil atravessa um momento complicado, que vem deteriorando a confiança do mercado e justifica o forte aumento dos juros pelo Banco Central e do dólar, que passou de R$ 6,20, nesta terça-feira (17/12). É o que afirma o especialista em contas públicas Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos. 

“Nós estamos vivendo um momento muito grave do ponto de vista da situação fiscal”, disse Salto, ao participar do seminário CB.Debate — Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta, que acontece na sede do Correio Braziliense.

O analista defendeu o controle do aumento de despesas, mas elogiou o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na aprovação do novo arcabouço fiscal e das medidas de aumento de receita junto ao Congresso. Ele ainda reconheceu um problema recorrente do governo atual, que é a dificuldade de cortar gastos.

"Essa é a parte positiva, mas a parte negativa é a seguinte: aqui, o governo não gosta muito da tesoura. Essa que é a verdade. E os gastos públicos precisam ser cortados, contidos. Trata-se de você adequar o crescimento da despesa pública, que vem crescendo, em termos reais (descontada a inflação), de maneira significativa”, afirmou Salto na abertura do primeiro painel do evento, que abordou políticas públicas e equilíbrio fiscal.

Pelos cálculos de Felipe Salto, o pacote de corte de gastos apresentado por Haddad e que precisa ser aprovado pelo Legislativo tem um impacto de R$ 56 bilhões e não de R$ 71,9 bilhões inicialmente previstos, e ainda está longe do necessário para equilibrar as contas públicas.

O analista lembrou que a sinalização do Banco Central, na semana passada, de um aumento na taxa básica da economia (Selic), atualmente de 12,25% ao ano, para 14,25% anuais, está ocorrendo em função da deterioração do quadro fiscal, que vai exigir, cada vez mais, um superavit primário superior a 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para a redução da trajetória da dívida pública.

“Os juros estão subindo, em parte, devido ao desajuste fiscal. Nós temos que produzir um resultado primário positivo e não vai ser da noite para o dia. Daí a importância desse pacote fiscal que foi anunciado que eu acho que foi um acerto no governo”, defendeu Salto.

Crítica ao Congresso

Para ele, o pacote fiscal é insuficiente mas vai na direção correta e o Congresso, ao insistir em não dar transparência nas emendas parlamentares, como determinou o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem sua parcela de responsabilidade porque vai na contramão desse processo, criando mais despesa em vez de contribuir para o ajuste fiscal.

“Ou todo mundo colabora para o ajuste fiscal ou ele não vai acontecer. Não adianta o Congresso ficar liberando R$ 4 bilhões por dia de emenda parlamentar, enquanto o ministro da Fazenda tenta aprovar o projeto de lei para conseguir R$ 2 bilhões com a idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares”, alertou.

Salto defendeu também um consenso para um pacto nacional em torno do ajuste fiscal. “Hoje, infelizmente, não existe e, enquanto isso não acontecer, nós vamos continuar às voltas com esse problema que é um problema estrutural antigo, não é de hoje, mas que está exacerbado no momento atual”, apontou.

O economista reforçou que a dimensão do ajuste fiscal que é necessária é muito maior do que o previsto no pacote fiscal. “O pacote já nasceu correndo atrás do prejuízo. Precisamos compreender e o Congresso parece que não entende isso, porque enquanto nós estamos aqui discutindo, o dólar está batendo R$ 6,20 e os juros futuros seguem subindo", alertou.

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Felipe Salto voltou a defender um corte linear em todos os subsídios como forma de tentar começar a fazer um ajuste mais justo e com impacto efetivo na redução da dívida pública em relação ao PIB. Ele não poupou críticas aos subsídios da Zona Franca de Manaus e aos incentivos para a indústria paulista.

“Tem espaço para cortar. É preciso liderança para fazer isso”, frisou. Existe um rearranjo para fazer também nos benefícios sociais e o sinalizado por Haddad ainda é pouco, na avaliação dele.

O evento Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta é realizado pela Arena Comunicação, com patrocínio da Brasal e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban); e apoio de comunicação do Correio Braziliense.

 

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