Aumentar a lucratividade e impulsionar o capital de giro são alguns dos desafios recorrentes para micro e pequenos empreendedores no controle das finanças de sua empresa. No caso das mulheres, o acesso a recursos financeiros e a redes de apoio podem ser empecilhos ainda maiores para gerenciar um pequeno negócio. Por conta disso, o aumento da oferta de linhas de microcrédito específicas com condições especiais para o público feminino incentiva cada vez mais mulheres a alcançar novas metas.
Com o objetivo de investir em maquinário, lavatório e outros produtos de salão de beleza, Priscila Dantas contratou uma linha de microcrédito em 2018. Ao lado do marido, ela gerencia um salão de beleza em Valparaíso (GO) especializado em cabelos cacheados, a Zig Zag Cachos. "Somos um salão naturalista. Trabalhamos com extratos, manteigas, tudo à base de plantas e a gente consegue entregar um resultado muito melhor para o cabelo", explica.
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Quando optou pelo microcrédito, a ideia de Priscila era investir em produtos de melhor qualidade para atrair mais mulheres ao estabelecimento. Apesar de não ter financiado um valor alto, ela afirma que o montante foi essencial para abastecer o capital de giro e ter uma estrutura melhor para atender os clientes.
"Eu atendia no fundo da minha casa, com a cadeira que era da mesa da minha cozinha e a gente conseguiu comprar pelo menos um lavatório, um espelho, uma cadeira própria, as tesouras e os produtos para eu conseguir já atender. Além disso, também consegui pagar parte de um curso, e a partir daí já conseguimos fazer coisas mais elaboradas para investir mesmo nesse ramo", conta.
Segundo a dona do salão, sem o recurso não seria possível dar o primeiro passo. "Eu acho que para a gente dar o primeiro passo é super importante ter alguém que acredite, ter esse empurrão, porque não é sempre que a gente vai ter um dinheiro no bolso sobrando para a gente poder investir", completa Priscila, que aconselha a contratação de microcrédito para as mulheres que estão no início da carreira de empreendedora.
Formada em gestão de negócios, Carolina Neves abriu em 2020, com o ex-sócio, a NM Gestão Financeira. Com o objetivo de atuar em outras empresas por terceirização no controle financeiro, a empresa atua em mais de 50 outros negócios.
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Com a saída do antigo sócio, no ano passado, ela resolveu contratar um microcrédito para conseguir manter o fluxo de caixa em dia, sem prejudicar as contas da empresa. "Foi muito importante para alavancar a empresa e o bom é que eu só começo a pagar a partir do ano que vem. Nesse tempo, consegui ter um bom capital de giro", relata Neves.
Atualmente, a empresária possui uma estagiária e um funcionário efetivado no quadro de trabalhadores. "Com o microcrédito, espero que futuramente consiga aumentar o quadro de funcionários e também melhorar a estrutura da empresa para atender melhor os clientes", acrescenta.
Planejamento
Os maiores bancos do país, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, oferecem microcrédito para MPEs. Também há as cooperativas e outras instituições financeiras que atuam neste serviço. Atualmente, há bancos que oferecem planos específicos para mulheres, com juros menores ou prazos maiores para pagar, como é o caso do Banco do Povo, Banco do Nordeste, entre outros.
Uma das principais razões que levam mais mulheres a abrir um pequeno negócio é o fato de serem as principais provedoras dos lares brasileiros, como explica a planejadora financeira Gabriela Vale. De acordo com ela, a maioria dos empreendedores abrem uma empresa em busca de melhorar a renda familiar.
"Nesse sentido, é interessante contratar microcrédito, se bem planejado", destaca a especialista, que afirma que toda e qualquer linha de crédito deve ter uma destinação antes mesmo dessa contratação. "É necessário ter um planejamento do que será feito com o recurso e em quanto tempo ele trará retorno para a empresa. E assim agir de maneira célere para investir o recurso e logo ele trazer o retorno esperado", avalia.
Antes de contratar um microcrédito, a mulher deve levar em consideração a saúde financeira do seu negócio, assim como cuidar das vendas e da produção. "Para que ela mantenha o seu negócio saudável, sua empresa deve ter receitas maiores do que as despesas e ela deve acompanhar as entradas e saídas dos recursos com regularidade", aconselha Vale.
Elas empreendem
O acesso a recursos financeiros é uma das principais barreiras para as mulheres quando abrem um pequeno negócio. Neste contexto, elas podem enfrentar mais desafios relacionados à desconfiança de manter o empreendimento ativo e saudável ao longo do tempo. Uma pesquisa feita pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, há 3 anos, mostrava que 42% das mulheres que buscavam crédito tiveram suas solicitações negadas.
Além disso, outras dificuldades enfrentadas pelas mulheres são o acesso à informação e tecnologia digital, materiais e redes de apoio, e o equilíbrio entre a vida familiar e profissional. No último mês de abril, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou a Estratégia Nacional do Empreendedorismo Feminino — Elas Empreendem.
A iniciativa é uma articulação entre as ações governamentais, sistema bancário e ações da sociedade civil para impulsionar a inclusão social e econômica das mulheres por meio do empreendedorismo, como explica a coordenadora-Geral da Área de Inclusão Socioprodutiva e Empreendedorismo Feminino do Ministério do Empreendedorismo (MEMP), Raquel Ribeiro Martins.
Segundo ela, o programa tem quatro eixos principais: acesso ao mercado e inclusão produtiva, acesso a crédito, educação empreendedora e acesso à inovação e tecnologia. "Dentro desses quatro eixos, o comitê e as suas instituições vão desenvolver programas, aprimorar iniciativas que já acontecem. Temos muitos ministérios que já atuam com a pauta do empreendedorismo, mas a gente quer focar na formação, no estabelecimento de redes e de mentorias para essas mulheres, impactando as mais de 10 milhões de empreendedoras que existem no nosso país", explica.
A ideia é que a iniciativa seja lançada no próximo ano. "Acesso a crédito é um dos principais desafios levantados pelas mulheres quando elas querem começar, quando elas querem abrir um negócio. Então a gente precisa garantir o acesso a crédito com condições especiais para a realidade dessas mulheres e quando a gente fala em mulheres empreendedoras, a gente tem uma diversidade de mulheres", acrescenta a coordenadora.
Outra ação criada pelo governo neste ano foi o Procred 360, que prevê que empresas lideradas por mulheres possam obter empréstimos de até 50% do faturamento do ano anterior, enquanto que para os demais, o benefício vai até 30%.
Para o diretor de Produtos de Varejo da Caixa, Luiz Francisco de Barros, a ideia vai ao encontro da realidade do país. "A maioria dos empreendedores informais são mulheres, são mães de família, muitas delas que tocam sozinhas a vida com seus filhos. Isso vem totalmente ao encontro da realidade do país", comenta.
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