Comércio exterior

Acordo Mercosul-UE volta à mesa de negociação entre líderes dos blocos

Mesmo com forte oposição da França, chanceler uruguaio garantiu haver consenso para assinatura negociada há 25 anos. Caso se concretize, o acordo vai reduzir e até zerar o imposto de importação de mercadorias produzidas nos dois blocos

A 65ª Cúpula do Mercosul tem início hoje, em Montevidéu, no Uruguai, e pode ficar para a história. Após 25 anos de impasses e negociações interrompidas, o bloco deve fechar o aguardado acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE).

Ontem, o chanceler do país anfitrião, Omar Paganini, afirmou que "todas as partes" demonstraram apoio ao texto final do acordo, que deverá ser oficializado hoje.

O acordo, que começou a ser negociado em 1999 e teve um avanço significativo em 2019 com a assinatura dos termos, enfrentou anos de estagnação devido a questões ambientais, econômicas e políticas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen declarou que "a conclusão do acordo está à vista".

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, destacou que este é "um marco histórico" para o Mercosul. "Estamos demonstrando que, juntos, podemos nos posicionar como um parceiro relevante no cenário global", afirmou.

Para os países do Mercosul — Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia —, o acordo representa uma oportunidade de ampliar o acesso ao mercado europeu, especialmente para produtos agrícolas, que enfrentam barreiras tarifárias e não tarifárias. Além disso, pode atrair novos investimentos estrangeiros e impulsionar o crescimento econômico da região.

Considerado um dos maiores tratados de livre-comércio do mundo, o acordo vai abranger um mercado de mais de 780 milhões de pessoas. Ele promete facilitar o comércio de bens e serviços, reduzir tarifas e criar um ambiente mais favorável para investimentos entre os dois blocos. No entanto, também enfrenta críticas.

Na última segunda-feira, durante coletiva de imprensa, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, já havia comentado que a assinatura do acordo "tem um significado além do comercial, porque tem uma importância política também muito considerável, nesse momento de conflitos, antagonismos recorrentes, protecionismo, ameaças unilaterais".

Resistências

Setores agrícolas da Europa temem a concorrência de produtos sul-americanos. Isso ficou explícito com o recente boicote e os comentários sobre a qualidade da carne bovina brasileira, feitos pelo presidente do Carrefour na França, Alexandre Bompard.

Os franceses são o maior empecilho para que o acordo seja efetivado. O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a defender, ontem, que o acordo, da maneira que está, é "inaceitável". O perfil oficial do governo francês na rede social X informou que Macron voltou a dizer isso, ainda ontem, à presidente da Comissão Europeia. "Continuaremos a defender incansavelmente a nossa soberania agrícola", concluiu a postagem.

A confirmação oficial e os detalhes do acordo serão divulgados hoje, após a reunião de líderes dos blocos. Caso aprovado, o texto ainda precisará passar pelos processos de ratificação nos parlamentos dos países envolvidos, o que pode levar meses ou até anos.

"Mesmo com o anúncio do acordo Mercosul-UE, ainda há um longo caminho adiante. Será necessário chegar a um texto final e a assinatura não sairá antes do início de 2025. Depois, ao menos 15 países dos 27 que integram a UE deverão chancelar o acordo no Conselho Europeu", explicou o cientista político, Márcio Coimbra.

O especialista atentou que, caso a França consiga o apoio da Itália, na resistência da parceria comercial, o acordo pode ser bloqueado. Lula realizou reunião bilateral com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, durante a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ela falou em fortalecer relações comerciais entre os países, mas não comentou o acordo com a União Europeia.

Alianças

Segundo os especialistas, Lula tem tido grande papel de articulação política internacional, por ter presidido o G20 deste ano, quando realizou várias negociações bilaterais. Inclusive, ontem, quando chegou à capital uruguaia, reuniu-se com o presidente da Bolívia, Luis Arce. O país sul-americano terá a incorporação ao bloco oficializada hoje, durante a cerimônia. Com isso, o bloco, agora, abrange 73% da população sul-americana. O Panamá também deve aderir ao Mercosul e tornar-se o primeiro país da América Central no bloco.

Lula aproveitou o dia para se encontrar com o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Na ocasião, ele concedeu ao grande aliado político e símbolo progressista mundial, a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. A medalha é a maior honraria brasileira a estrangeiros.

"Essa é a comenda mais importante do Brasil. Essa medalha que estou entregando ao Pepe Mujica não é pelo fato de ele ter sido presidente do Uruguai, é pelo fato de ele ser como ele é", afirmou Lula, abraçando Mujica, que agradeceu a homenagem. O presidente ainda disse que o uruguaio é "a pessoa mais extraordinária" que conheceu.

 

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