INFLAÇÃO

Entenda o que levou o Focus a aumentar expectativa do IPCA para 4,71%

Segundo os dados do último Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 passou de 4,63% para 4,71%

Economistas do mercado financeiro voltaram a elevar suas projeções para a inflação neste ano, após a divulgação das medidas de corte de gastos por parte do governo. Segundo os dados do último Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 passou de 4,63% para 4,71%.

Caso a projeção se concretize, a inflação fechará o ano acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,50%. As expectativas também foram elevadas para 2025, passando de 4,34% para 4,40%. A projeção para 2026 passou de 3,78% para 3,81%, enquanto para 2027, a estimativa caiu de 3,51% para 3,50%.

De acordo com analistas, a postura já cautelosa do BC diante das persistentes incertezas econômicas e a situação fiscal têm pesado para o aumento das estimativas de inflação. Segundo João Kepler, CEO da Equity Fund Group, o pacote fiscal ficou aquém do esperado. Ele destacou que o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que sua efetividade pode depender de revisões.

"O mercado esperava um plano mais detalhado e cortes mais robustos no curto prazo, mas o plano concentrou os maiores esforços apenas para 2026 e, com isso, foi considerado com estimativas superestimadas e insuficientes para enfrentar os desafios imediatos de equilíbrio fiscal e recuperação da confiança", avaliou.

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, há um descompasso entre política fiscal e monetária. "A recorrente elevação das projeções de inflação reflete tensões latentes, agravada pela dificuldade do governo em conter os gastos públicos de forma eficaz. Esse descompasso entre política fiscal e monetária mantém as expectativas inflacionárias acima do desejado, prejudicando o controle do Banco Central e a condução do novo presidente, Gabriel Galípolo", ponderou.

Selic

A projeção para a taxa básica de juros da economia (Selic) permaneceu estável em 2024, ficando em 11,75%. Atualmente, a taxa está em 11,25%, o que sugere mais um aumento até o fim do ano. Os economistas, no entanto, passaram a prever uma alta maior de juros no próximo ano. Para 2025, a estimativa foi elevada de 12,25% para 12,63% ao ano.

O dado foi o que mais chamou atenção do mercado. "A insistência em juros elevados é um reflexo da necessidade de ancorar as expectativas de inflação, mas acarreta custos significativos para o crescimento econômico e o consumo. O mercado já precifica um ciclo prolongado de juros altos, o que limita a recuperação econômica e pressionará setores sensíveis ao crédito", observou Lima

No âmbito fiscal, o analista também considera que as recentes sinalizações de ajustes no orçamento ainda são insuficientes para convencer o mercado de um compromisso robusto com a sustentabilidade. "Sem uma resposta clara para os desequilíbrios fiscais, o cenário para 2025 e 2026 tende a se deteriorar ainda mais, como demonstrado no Focus com alteração da inflação para 2025 e 2026, com menor confiança na estabilidade de longo prazo", completou.

Dólar em alta

Para o câmbio, a estimativa para o dólar ao final de 2024 permaneceu em R$ 5,70. Ontem, a moeda norte-americana bateu recorde, fechando pela primeira vez acima de R$ 6,06. O desconforto do mercado veio em parte também das medidas fiscais do governo, que se traduziram em aumento do prêmio de risco, em meio às ameaças do presidente Donald Trump de taxar em 100% as importações dos países do Brics que substituírem o dólar em transações comerciais.

O analista da Ouro Preto Investimentos destaca que esse contexto pressiona o real e outras moedas emergentes, elevando o dólar. "A valorização é intensificada por declarações de política cambial que mantêm o Banco Central em posição passiva, sem intervenções significativas para conter o movimento. Combinada à fragilidade fiscal interna, essa dinâmica cria um cenário de alta volatilidade cambial, com o dólar buscando novos recordes", disse.

A mediana das projeções para a moeda em 2025 subiu de R$ 5,55 para R$ 5,60. Para 2026, a estimativa passou de R$ 5,50 para R$ 5,60, enquanto a projeção para 2027 permaneceu em R$ 5,50.

Para o Produto Interno Bruto (PIB), a mediana das projeções subiu de 3,17% para 3,22% para este ano. Já a previsão para 2025 permaneceu em 1,95%, assim como para 2026 e para 2027, que ficaram nos mesmos 2,0%. Os investidores aguardam hoje a divulgação dos dados referentes ao crescimento da economia no terceiro trimestre de 2024. A expectativa dos analistas é de que o indicador apresente uma desaceleração moderada.

 


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