Apesar de mais uma intervenção do Banco Central, o dólar parou de subir, mas fechou o último pregão do ano acima de R$ 6 e bateu novo recorde histórico. No ano, a divisa norte-americana ganhou de vários tipos de aplicações, inclusive, da renda fixa e até mesmo da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que amargou prejuízos desde janeiro, conforme levantamento feito pela consultoria Elos Ayta. Segundo a entidade, apenas o dólar de Hong Kong conseguiu se valorizar frente ao dólar americano em 2024, com um aumento de 0,51% entre 27 economias analisadas.
Pouco antes da intervenção do BC, que injetou, ontem, US$ 1,8 bilhão no mercado à vista, o dólar comercial chegou ao pico de R$ 6,237 para a venda, subindo 0,71% em relação ao fechamento de sexta-feira (27). No fim do dia, a moeda norte-americana encerrou cotada a R$ 6,18, com queda de 0,21% no dia, e, no ano, acumula alta acima de 27%, a maior variação desde a pandemia da covid-19, em 2020.
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A escalada do dólar, segundo analistas, está relacionada desde o anúncio do pacote fiscal, no fim de novembro, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou medidas de corte de gastos em torno de R$ 70 bilhões, e, ao mesmo tempo, confirmou que o governo pretende isentar do Imposto de Renda os trabalhadores com salário mensal de até R$ 5 mil até 2026. O mercado não gostou e o dólar disparou desde então, ultrapassando a barreira de R$ 6, refletindo o aumento da desconfiança na capacidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conseguir equilibrar as contas públicas.
Analistas avaliaram a medida do BC sem muito efeito, pois o problema fiscal tende a persistir e, mesmo que a autoridade monetária continue queimando reservas, que somaram US$ 332,3 bilhões, uma redução de US$ 34,1 bilhões em relação aos US$ 366,4 bilhões de 28 de novembro.
Na avaliação do ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas Gomes, assessor externo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), fez um alerta sobre o risco do esforço da autoridade monetária em tentar conter a alta do dólar fazendo intervenções, correndo o risco de apenas "enxugar gelo", ao fazer intervenções no mercado. "O importante é que o BC não mostre fraqueza. Temos muitas reservas e, como os juros reais estão elevados, é difícil para o mercado carregar qualquer posição", disse. Para ele, o Banco Central errou ao antecipar as duas próximas altas da taxa básica da economia (Selic), atualmente, em 12,25% ao ano.
Desempenhos
Enquanto o dólar dispara, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, encerrou o último pregão do ano com uma pequena oscilação negativa, de 0,01%, aos 120.283 pontos. No ano, o IBovespa acumulou queda de 10,36% e praticamente todos os indicadores da B3 apresentaram queda, de acordo com Einar Rivero, CEO da Elos Ayta. Entre os três índices com ganhos na B3destaca-se o BDRX, de empresas estrangeiras listadas na Bolsa brasileira, que acumulou uma rentabilidade de 70,59% apenas em 2024. Foi o segundo melhor investimento no ano, de acordo com o levantamento de Rivero, perdendo apenas para o Bitcoin, que saltou 183,25% no ano.
De acordo com o levantamento da consultoria, até a caderneta de poupança teve ganho maior do que o da Bolsa, de pouco mais de 7% no acumulado no ano. Já as aplicações em renda fixa, indexadas ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha a taxa básica de juros (Selic), rendeu 10,78%, no acumulado do ano, pelos cálculos de Rivero.
O economista Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), reconheceu que, no Brasil, é muito difícil para ele recomendar investimento na Bolsa. "Nos últimos 30 anos, até o CDI bateu a Bolsa. No começo do ano, ela até que no começo do ano estava indo bem, e havia uma esperança de que o IBovespa alcançasse 150 mil pontos, mas, depois, acabou recuando", lamentou.
Analistas lembram que, ao longo de 2024, houve aumento da desconfiança com as mudanças no arcabouço fiscal, quando o governo mirou no piso da meta, que permitia um rombo de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB). O economista Alexandre Espirito Santo, da Way Investimentos, também reconheceu que a Bolsa foi muito penalizada neste ano, "refletindo o desajuste fiscal e a escalada dos juros para cima", mas ele acredita que será possível uma reversão desse quadro na segunda metade de 2025. "O preço dos ativos na Bolsa estão baratos historicamente, e, por isso, a nossa projeção para o IBovespa em 2025 é de 144 mil", disse o economista.
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