O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro perdeu fôlego, registrando crescimento de 0,9% no terceiro trimestre do ano, ante um avanço de 1,4% no trimestre anterior. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia movimentou R$ 3,0 trilhões no período, em valores correntes.
Com o resultado, de janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,3%. Já o crescimento anualizado, dos últimos quatro trimestres, a alta foi de 3,1%. Frente ao 3º trimestre de 2023, o indicador cresceu 4,0%.
Dois dos três grandes setores econômicos sob a ótica da produção avançaram. Serviços, setor que mais emprega e tem maior peso no indicador, apresentou o maior avanço no período, de 0,9%. A indústria também ajudou a sustentar a alta, registrando um crescimento de 0,6%, com destaque para alta de 1,3% nas indústrias de transformação.
Em contrapartida, a agropecuária, que teve grande destaque no PIB no ano passado, registrou queda de 0,9% no período. As quedas na produtividade do milho, da cana-de-açúcar e da laranja fizeram com que a participação do setor caísse no indicador.
Para o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), apesar do crescimento contínuo, a desaceleração observada sugere que a economia brasileira pode estar enfrentando limitações em sua capacidade de expansão. "A retração no setor agropecuário, por exemplo, pode ser atribuída a condições climáticas adversas e à volatilidade dos preços das commodities", destacou.
Para a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, ainda que o resultado trimestral tenha sido mais fraco que o do trimestre anterior, não gera, por ora, uma preocupação com uma possível desaceleração brusca da atividade econômica. Segundo ela, a desaceleração ainda não tem influência do novo ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic, mas sim da base de comparação elevada. "A política monetária mais restritiva não tem efeito nenhum sobre esse terceiro trimestre, já que o primeiro aumento foi já no final de setembro", destacou Palis, que lembrou ainda que o impacto dos juros sobre a economia costuma ser defasado.
Consumo e investimentos
Pela ótica da demanda, todos os indicadores cresceram. O consumo das famílias, uma das variáveis mais importantes do indicador geral, avançou 1,5%, impulsionado por um mercado de trabalho robusto e condições de crédito favoráveis. Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que determina taxa de investimentos, que reflete acresceu 2,1%, refletindo maior confiança dos investidores na economia. Já o consumo do governo subiu 0,8%, enquanto os investimentos tiveram ganho de 2,1% no trimestre.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que "pode revisar para cima" a projeção de crescimento para 2024, atualmente em 3,4%. A entidade empresarial observa que a industria de transformação segue por cinco trimestres consecutivos sem queda. E destaca a "contínua recuperação do investimento, com ritmo superior ao do PIB, caracterizando uma alta da taxa de investimento". Um dado preocupante veio do setor externo. No período, houve uma queda de 0,6% nas exportações de bens e serviços, enquanto as importações cresceram 1,0%.
O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, alerta que a tendência é de desaceleração da atividade. "Tendo em vista a pressão das expectativas de inflação e o dólar elevado, o Banco Central deve endereçar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade", disse Salto.
Ranking
O crescimento médio do PIB dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) foi de 0,4% no terceiro trimestre de 2024. O indicador brasileiro ficou acima da média internacional, com 0,9%. O Brasil ocupa o sexto lugar no ranking de países com maior crescimento no período, empatado com China e Israel.
No topo do ranking estão Dinamarca, Indonésia, Índia, Lituânia e México, com crescimento acima de 1%. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, registraram alta de 0,7% no trimestre. Entre as maiores retrações estão Suécia, Turquia, Letônia, Hungria e por último Noruega, cuja economia caiu 1,8%.