Comércio exterior

Brasil e Itália estreitam os laços, aponta embaixador italiano em Brasília

No ano de comemoração dos 150 anos da imigração italiana, comércio bilateral cresce na casa de dois dígitos. Vinda de Giorgia Meloni ao G20 marca a volta de um primeiro-ministro ao país desde 2010

No ano em que a imigração italiana no Brasil completa 150 anos, o comércio bilateral segue crescendo na casa de dois dígitos, enquanto o total das exportações brasileiras encolheu 5,3%, de janeiro a outubro deste ano.

Na avaliação do embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, as comemorações que estão ocorrendo ao longo deste ano são uma oportunidade de ampliar os laços entre os dois países. O diplomata, que acaba de completar um ano à frente da representação italiana no país, vê com bons olhos o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

"Assim como ocorreu com o Canadá, há 20 anos, esse acordo tende a ampliar o comércio bilateral, após sanar alguns entraves", afirma, em entrevista ao Correio. Segundo ele, no caso do Brasil com a Itália, existe um grande potencial de crescimento das trocas comerciais, porque não há uma competição direta dos produtos brasileiros com os italianos na Europa. "Nossa balança é de produtos complementares", frisa.

Para Cortese, é uma questão de tempo para que esse acordo seja assinado, apesar das resistências da França, no lado europeu, e da Argentina, no lado sul-americano. "Os dois blocos não possuem uma única voz. Mas acho que, no final, os problemas vão ser de alguma maneira sanados", afirma.

Na visão do embaixador, a vitória do republicano Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, deve ajudar na retomada das negociações para a conclusão do acordo UE-Mercosul. Com Trump no poder, os EUA tendem a ser mais protecionistas, o que tende a acelerar a aproximação de outros blocos comerciais. "Isso pode ser uma oportunidade para deslanchar o acordo entre UE e Mercosul", afirma.

De acordo com o diplomata, com o acordo de livre comércio UE-Mercosul, os produtos italianos, como os vinhos e queijos, poderiam chegar ao Brasil muito mais baratos. Atualmente, eles acabam saindo "praticamente o dobro" do que custam na Itália devido às tarifas de importação.

Comércio pujante

A balança comercial entre Brasil e Itália é favorável para o país europeu. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), as exportações brasileiras cresceram 16,2% de janeiro a outubro deste ano na comparação com o mesmo período de 2023, totalizando US$ 3,9 bilhões. Já os embarques de produtos brasileiros com destino à Itália avançaram 10% nos primeiros 10 meses do ano, para US$ 5,4 bilhões, o que resulta em um deficit comercial de US$ 1,5 bilhão no mesmo período.

Cortese destaca que, neste ano, pela primeira vez desde Silvio Berlusconi, em 2010, um primeiro-ministro italiano faz uma visita ao Brasil. Giorgia Meloni desembarcou no Rio de Janeiro, na noite de ontem, para participar da cúpula do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta, mais a União Europeia e a União Africana —, que ocorre amanhã e terça-feira.

Após receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em junho, na sede do governo italiano, agora, Meloni e Lula devem ter um reencontro na capital fluminense. O mandatário brasileiro tem programado vários encontros bilaterais com chefes de Estado e de governo nos próximos dias. A premier italiana está nessa lista, assim como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping.

Ao ser questionado sobre a questão da taxação dos super ricos — uma das propostas do governo brasileiro na cúpula do G20, Cortese é bastante diplomático e evita comentar porque não participou das conversas ministeriais. "De forma geral, acho que o Brasil fez um excelente trabalho à frente da presidência do G20. E acho que o combate à fome e o problema do meio ambiente são temas importantes para a governança global e são temas que também figuram na agenda do G7 e a Itália compartilha dessas preocupações também", destaca Cortese.

Ele lembra que o governo italiano tem a presidência, neste ano, do Grupo das Sete economias mais industrializadas do planeta — Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, Itália e Canadá.

Eventos comemorativos

A embaixada tem organizado feiras e exposições em comemoração aos 150 anos da imigiração brasileira, como organizou a exposição de arte "Oltreoceano" em julho de 2024, em parceria com o Museu de Arte de Brasília e a Frente Parlamentar Brasil-Itália. A mostra, com obras de artistas brasileiros com origem italiana, como Alfredo Volpi, Alfredo Ceschiatti, Candido Portinari e Anita Malfatti, foi realizada no salão negro do Congresso Nacional, foi visitada pelo presidente da República Italiana Sergio Mattarella durante a sua visita de Estado ao Brasil, neste ano.

Dando continuidade às comemorações no Brasil, a embaixada realiza a 5ª edição do "Vini D'Italia — Salão do Vinho Italiano no Brasil", no próximo dia 21, em evento fechado, voltado para o público especializado do setor, na sede da representação diplomática. O evento busca promover a excelência do vinho italiano e fortalecer os laços enogastronômicos e comerciais entre os dois países.

A iniciativa faz parte da IX Edição da Semana da Cozinha Italiana no Mundo organizada pelo Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional da Itália e busca estimular a promoção e comercialização do vinho italiano no Brasil, mercado de enorme potencial para esse consumo.

As importações de vinhos italianos pelo Brasil são crescentes. De janeiro e outubro de 2024, houve aumento de 9,1% na comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando 7,9 milhões de litros e elevando a participação italiana no mercado do vinho brasileiro para 6,3%. No mesmo período, as importações de espumantes italianos avançaram 12,4%, atingindo 796,2 mil litros, com a participação italiana subindo para 14,9%.

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