Sistema financeiro

Pix completa 4 anos com novas funcionalidades

Banco Central tem calendário para lançamento de novas modalidades, pagamento por aproximação é aguardado para novembro. Especialistas e comerciantes avaliam o impacto da ferramenta preferida dos brasileiros e referência mundial

Consolidado como o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros, o Pix completa quatro anos de funcionamento neste sábado (16/11) com recorde de usuários e novas funcionalidades que prometem facilitar a vida de consumidores e lojistas. Segundo dados do Banco Central, de 16 de novembro de 2020, data em que começou a funcionar, até o último dia 30 de setembro foram 121,5 bilhões de transações feitas, com valores de R$ 52,6 trilhões, um novo recorde de uso da ferramenta.

O pagamento instantâneo encerrou o ano passado com quase 42 bilhões de transações, mostrando-se mais uma vez como o mais popular do país, um crescimento de 75% ante o ano anterior. De acordo com a pesquisa, realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a população usa mais o Pix para pagamentos rotineiros e de menor valor, o que fez com que o número de transações aumentasse em um ritmo acelerado, com tíquete médio de R$ 420,00.

A novidade aguardada para este mês de novembro é o Pix por aproximação. A funcionalidade permite realizar pagamentos via celular, aproximando-o de um terminal de pagamento. O recurso começará a ser implementado neste mês e deve estar disponível para todos os usuários do Pix a partir de fevereiro de 2025.

O Pix ficará cadastrado nas chamadas wallets, ou carteiras digitais, do celular. Hoje, nessa função, é possível cadastrar cartões para usá-los para pagamentos com aproximação. A ideia é que o consumidor não precise acessar o aplicativo do banco. Isso diminuirá etapas na hora do pagamento e facilitará o processo, tornando-o ainda mais ágil.

De acordo com Igor Castroviejo, diretor comercial da 1datapipe, plataforma de Inteligência Artificial, o Pix foi responsável por democratizar a forma como as pessoas fazem transações no Brasil. "Esse método deixou as coisas mais práticas, pois agora é possível fazer pagamentos sem precisar ficar andando com a carteira a tiracolo", comenta.

"Tendo um celular com um pacote de dados, o usuário consegue fazer pagamentos em diversos locais sem precisar arcar com taxas bancárias. Por conta disso, a plataforma ganhou uma grande popularidade", destaca.

Valdo Virgo - ECO-Aniversario PIX

 

 

Além da praticidade para o consumidor, a nova ferramenta também é uma grande expectativa para os comerciantes. Proprietário de uma rede de hamburguerias em Brasília, Alexandre de Sousa Santos, conta que a adoção do Pix facilitou a gestão financeira do negócio. Para o empresário, o sistema de pagamentos digitais não apenas resolveu o problema do troco — uma complicação comum no uso de dinheiro físico — como também aumentou a segurança e a eficiência nas transações.

"Tínhamos um problema sério com troco. Muitas vezes, quando o cliente pagava em dinheiro, não conseguíamos o valor exato para devolver. Agora, se alguém paga em dinheiro e não temos troco, fazemos um Pix de volta para o cliente, o que simplificou muito a operação", afirma.

Além disso, o empresário destaca que a utilização do Pix reduziu a necessidade de manter grandes volumes de dinheiro em caixa, o que diminuiu o risco de roubos e trouxe maior segurança. Hoje, aproximadamente 96% do faturamento das lojas vem de pagamentos eletrônicos, com o Pix representando cerca de 30% desse total. Segundo Alexandre, "essa mudança trouxe um impacto positivo tanto para a segurança quanto para a eficiência das transações".

Empresário no ramo varejista, Luciano Anselmo, viu de perto nos últimos anos os benefícios do aumento da competitividade no sistema financeiro. Segundo ele, a redução no uso de cartões de débito e crédito também contribuiu para o aumento da lucratividade. "Para o comércio isso é uma vantagem, pois no cartão de débito pagamos uma taxa para a operadora do cartão", conta.

"Antigamente, quando havia poucas operadoras, como a antiga Credicard e a Visa, as taxas eram muito altas. Embora essas taxas tenham caído com o surgimento de novas empresas de cartões, ainda existe um custo. No Pix, essa taxa não existe, permitindo que o comércio receba o valor total da venda, sem comissionamento", complementa.

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Para o empresário, a redução da quantidade de dinheiro em caixa é o maior benefício do meio de pagamento, dando mais segurança para seu negócio. "Acredito ainda que o principal benefício do Pix é a segurança. Hoje, é de conhecimento geral que o comércio movimenta muito dinheiro em espécie. A grande maioria dos pagamentos é feita via cartão de crédito, débito ou Pix, o que reduz o volume de dinheiro na caixa e, consequentemente, atrai menos atenção dos assaltantes. Mesmo quando há um assalto, o montante em espécie disponível é reduzido, o que diminui as perdas financeiras", afirma.

Automação

Desde o final de outubro já é possível realizar o Pix agendado recorrente, nova modalidade do permite que qualquer pessoa agende pagamentos de mesmo valor para cair na conta do recebedor sempre no mesmo dia de cada mês. Funciona, por exemplo, para quem paga aluguel diretamente para outra pessoa física e quer automatizar os pagamentos mensais.

O pagamento para outros profissionais autônomos, que recebem como pessoa física ou por meio de CNPJ, também pode ser cadastrado no agendamento recorrente. Além da recorrência no pagamento para serviços, a modalidade também permite o agendamento para outras situações, como mesadas para os filhos.

A modalidade é diferente do Pix automático, previsto para ser lançado em 2025, que também permitirá o pagamento de contas recorrentes de forma programada. A principal diferença entre o automático e o agendado está no destinatário da transferência. Enquanto o Pix automático é restrito para o pagamento de clientes a empresas, o Pix agendado é uma forma de automatização voltada a pagamentos entre pessoas físicas.

Além disso, no início deste mês, o Pix também ganhou novas regras para dar mais segurança em suas transações, com mudanças para o cadastramento de novos dispositivos usados por clientes. A partir de agora, quem trocar de celular ou computador terá um limite de R$ 200 por operação, ou R$ 1 mil por dia. Para elevar esses limites, será necessário cadastrar o novo aparelho em suas instituições financeiras. O objetivo da medida foi reduzir a probabilidade de fraudadores usarem dispositivos diferentes daqueles utilizados pelo cliente para gerenciar chaves e iniciar transações.

Para o economista Juan Ferrés, CEO da Teros, todo o calendário de novas regras e ferramentas para o Pix deve impulsionar ainda mais o sistema financeiro. "Não tenho nenhuma sombra de dúvida de que vai expandir o uso do Pix para segmentos adicionais de pagamentos que, hoje, estão bloqueados em outras formas, o que também vai acirrar a competição. E vai ser rápido, a minha impressão é que vai ser muito rápido", avalia.

A tendência, segundo ele, é de que surjam mais evoluções, como o parcelamento. "Se olharmos players com carteiras digitais, já estão criando soluções com Pix, como o Pix parcelado no cartão usando uma operação de crédito para parcelar, de modo que o consumidor consiga aproveitar uma operação à vista de um desconto, mas paga parcelado com a fatura do cartão", destaca.

Off-line

Apesar do sucesso do meio de pagamento e o crescente número de usuários, a falta de acesso a internet ainda é um desafio imposto para que a ferramenta se torne, efetivamente, democrática. Em um futuro próximo, a expectativa é de que o Pix possa ser feito sem a necessidade de estar conectado.

De acordo com o Relatório de Gestão do Pix, divulgado pelo Banco Central, a novidade poderá facilitar o pagamento de pedágios, transporte público e outros serviços. Atualmente, não é possível realizar uma transferência do gênero sem que o dispositivo do usuário não esteja com o acesso à rede.

"O uso de novas tecnologias que tornam a experiência de pagamento ainda mais rápida pode ser benéfico principalmente em alguns casos de uso específicos, como pagamentos de pedágios em rodovias, estacionamentos e transporte público", informou um trecho do documento, que não traz uma data para a implementação da novidade que está no radar da autoridade monetária.

Expansão

A Febraban estima que o Pix deverá crescer este ano 58,8% em relação a 2023 e movimentar R$ 27,3 trilhões, e a projeção mostra ainda que o número de transações na ferramenta de pagamento instantâneo também deverá apresentar grande expansão, algo como 52,4%, chegando a 63,7 bilhões de operações.

"O Pix foi uma agenda emblemática do Banco Central, algo histórico, e que se somou a outras importantes mudanças que o setor bancário já introduziu no dia a dia das pessoas ao longo dos anos, como os tokens, a internet banking, biometria e o mobile banking. É um sucesso nacional e um exemplo internacional", diz Isaac Sidney, presidente da federação.

*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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