Corte de gastos

Correções de rota têm que ser feitas mais pelo lado das despesas, diz BC

Presidente do BC considera que mercado espera um choque fiscal positivo e teme que processo de equilíbrio das contas públicas seja interditado

Campos Neto sobre atraso no anúncio do corte de gastos:
Campos Neto sobre atraso no anúncio do corte de gastos: "O risco é interditar esse processo que é tão importante" - (crédito: Jhony Inacio/Estadão Conteúdo)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o mercado espera um choque fiscal positivo no pacote de corte de gastos que deve ser enviado ao Congresso Nacional após a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem data e valores confirmados, o projeto teria que apresentar uma redução expressiva das despesas sem necessitar de um aumento de receita, para aumentar a credibilidade da equipe econômica, avalia o chefe da autoridade monetária.

“A gente conversa e escuta de agentes financeiros que se nesse novo projeto tiver mistura, de novo, de receita com gastos, o risco é interditar esse processo que é tão importante”, afirmou Campos Neto, nesta segunda-feira (18/11), em evento promovido pelo Insper.

Apesar de não considerar a realidade fiscal do país como um “desastre iminente”, o presidente do BC destacou que o governo federal tem muitos recursos e possibilidades de fazer “correções de rota”, que, na avaliação de Campos Neto, deveriam ser feitas mais pela parte de gastos do que pela receita.

“A gente está em uma situação que o mercado anseia muito um choque positivo, os agentes na economia, não só financeiros, mas não-financeiros, também, a gente vê isso. Então, está um pouco a reboque, porque é muito difícil produzir uma situação de juros mais baixos de forma estrutural se não envolver uma percepção fiscal equilibrada”, acrescentou o chefe da autarquia.

Tempo é relevante

O presidente do BC reconheceu que há um esforço do governo federal e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em promover um ajuste no orçamento, mas frisou que o mercado considera o tempo como um fator relevante para a tomada de decisões. Uma demora para se apresentar medidas nesse sentido, pode gerar “cicatrizes” a longo prazo, avaliou.

“A gente tem muitos instrumentos e muita capacidade de gerar um choque positivo no fiscal e dar a volta por cima. No passado, a gente tinha uma situação semelhante, e sempre vê economistas falando que estamos em dominância, ou não. A nossa percepção é que não estamos em dominância, mas que é um tema que precisa ser endereçado”, concluiu.

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postado em 18/11/2024 15:38 / atualizado em 18/11/2024 15:42
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