Manifestantes de ao menos 15 capitais brasileiras foram às ruas no feriado da Proclamação da República em atos pelo fim da jornada de trabalho de seis dias de trabalho e um dia de folga. Mesmo debaixo de chuva, trabalhadores, sindicalistas e movimentos sociais se reuniram na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, no movimento organizado pelo Vida Além do Trabalho (VAT).
O tema ganhou repercussão nesta semana nas redes sociais, com a proposta de emenda à Constituição (PEC) que reduz a jornada máxima de trabalho de 44 para 36 horas semanais, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSol-SP).
Um dos organizadores do movimento na capital federal, o deputado distrital Fábio Félix (Psol-DF) revelou que há muito tempo não via "uma janela de oportunidade tão importante para a discussão da jornada de trabalho no país". "Uma janela em que a classe trabalhadora coloca todos os setores da burguesia nacional, da elite política e econômica na defensiva", acrescentou, dando créditos às mobilizações que passaram a ocupar as ruas.
Ele destacou a importância de "dialogar sobre jornada de trabalho, direito à vida, dignidade, saúde mental, lazer, cultura, educação". Para o parlamentar, "a direita não consegue fazer um contraponto" à proposta.
Assistente social e candidata à deputada federal pelo Psol em 2022, Dani Sanchez falou aos manifestantes sobre sua realidade: "Você tem um domingo no mês em que você tem que decidir se vai lavar a roupa ou se vai no almoço de família. Se você vai cuidar do seu filho e ir ao parque brincar ou se você vai tentar organizar a vida porque na segunda-feira tudo começa de novo".
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) também participou dos protestos por melhores condições de trabalho. Para ela, "é fundamental que o povo brasileiro tenha vida além do trabalho". Debaixo de chuva, ela clamou que acabar com a escala 6x1 "é lutar para que o nosso tempo, as nossas vidas e os nossos corpos não sejam entregues em sacrifício ao lucro do próprio patrão".
Segundo o entregador de aplicativo, Abel Santos, o movimento está organizando uma "agenda de pequenos atos", que serão realizados em shoppings em Brasília e no aeroporto, acompanhando a chegada e saída de parlamentares. Ele confirmou que haverá um outro grande ato grande até o fim do ano, na véspera das datas comemorativas, quando os centros comerciais estarão cheios, onde os trabalhadores cumprem escalas 6x1.
São Paulo
Na capital paulista, a autora da PEC anunciou que o projeto passou de 60 para 250 em apenas uma semana devido à crescente pressão social. Para ser protocolado, o texto precisava da assinatura de 171 deputados para que pudesse tramitar no Congresso. "Não há República, não há país, e não há economia sem a classe trabalhadora", brandou Erika Hilton, no ato concentrado na Avenida Paulista, que reuniu centenas de pessoas.
"Chega dessa escala exploratória, sanguinária", disse a parlamentar, ao assegurar que lutará arduamente para aprovar o projeto no Congresso, atendendo a "toda preocupação que seja válida", e "combatendo as mentiras de quem ainda não superou o fim da escravidão".
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o vereador pelo Psol Rick Azevedo, fundador do VAT, comemorou seu aniversário e a conquista da classe trabalhadora, "que mantém esse país". Ele contou que trabalhou por 12 anos dentro dessa escala: "O que eu mais sonhei na minha vida foi o dia em que houve um protesto para acabar com esse modelo de trabalho. E eu nunca imaginei, nem nos meus melhores sonhos, que esse movimento seria iniciado por mim".
O Vida Além do Trabalho foi criado em setembro de 2023, após Rick Azevedo publicar em sua conta no TikTok um vídeo sobre sua revolta com a escala 6x1. Inconformado, ele postou: "Até quando essa escravidão?". A mensagem de indignação foi gravada no seu último dia de férias e viralizou.
Ontem, ao relembrar sua história, ele reforçou os argumentos do vídeo originário do movimento: "A escala de trabalho 6x1 é uma escala escravocrata, desumana, exploratória, que acaba com a vida dos trabalhadores, em especial a das mães. Como é que uma mãe é mãe com apenas um dia de folga?", indagou.
Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Fortaleza e Belém, também registraram atos e mobilizações foram vistas em outras 15 cidades do interior. Os manifestantes argumentam que o modelo trabalhista vigente, de 44 horas semanais, é apontado como uma das causas principais de afastamento do trabalho por exaustão física e mental, por dificultar a prática de atividades físicas, o lazer, o estudo e o convívio dos trabalhadores com a família e amigos.
Há outras duas PECs em tramitação no Congresso Nacional que pedem pela redução de jornada, como a PEC 221 de 2019 do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), mas sem determinar o fim da jornada 6 por 1, principal demanda do VAT.
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