Nota de crédito

Entenda a importância da classificação de risco da Moody’s para o Brasil

A avaliação de elevar a nota de crédito de Ba2 para Ba1 deixou o país a apenas um nível do chamado grau de investimento — um selo de bom pagador concedido pelas agências, que assegura aos investidores um menor risco de calotes

A agência de classificação de risco norte-americana Moody’s surpreendeu ao elevar, no início da noite de terça-feira (1º/10), a nota de crédito soberano do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva de rating positiva. A avaliação deixou o país a apenas um nível do chamado grau de investimento — um selo de bom pagador concedido pelas agências, que assegura aos investidores um menor risco de calotes.

A melhora da classificação pode ter impactos diretos na economia brasileira. Caso o país retome o grau de investimento, grandes fundos de investimento internacionais, que hoje estão proibidos de investir em países sem essa classificação, voltariam a direcionar recursos ao Brasil. 

A melhora na percepção de risco também tende a baixar os juros que o país paga para captar recursos no mercado internacional, o que pode reduzir a dívida pública e aumentar os investimentos em áreas prioritárias.

Além disso, um grau de investimento também fortalece a confiança interna, com impactos positivos no crédito e no consumo. Empresas brasileiras poderão acessar linhas de financiamento mais baratas, ampliando seus investimentos e, consequentemente, gerando mais empregos e crescimento econômico.

A Moody’s é uma das principais agências de classificação de risco do mundo, sendo responsável por avaliar a capacidade de crédito de países e empresas. A nova classificação ainda indica um "grau especulativo" — o que aponta que o Brasil está menos vulnerável ao risco no curto prazo, mas segue enfrentando incertezas em relação a condições financeiras e econômicas adversas. 

Foram considerados três pontos para a elevação da nota de crédito do Brasil: crescimento econômico, arcabouço fiscal e contas públicas e o que pode levar o país ao grau de investimento. A instituição atribuiu a elevação ao crescimento do produto interno bruto (PIB) do país acima do esperado e o histórico recente de reformas econômicas e fiscais. 

A agência ponderou que a mudança no rating soberano ocorre apesar de o arcabouço fiscal ainda ter "credibilidade moderada", como indicado pelo "custo relativamente elevado da dívida". Também foi destacada a reforma tributária e a agenda de transição energética, apontada como um fator que não apenas atrai investimentos privados, mas também reduz a vulnerabilidade do país a choques climáticos.

Encontro

A revisão ocorre uma semana após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se encontrarem com as agências de risco em Nova York, durante a viagem da comitiva brasileira aos Estados Unidos para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Na ocasião, o chefe da equipe econômica declarou que "não faz sentido o país não ter grau de investimento”. Ontem, após a divulgação, Haddad comemorou a elevação da nota e ressaltou que o país está a um degrau do selo de bom pagador, mas reconheceu a necessidade de um trabalho nas receitas e despesas.

Desafios

Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, a decisão não foi recebida com surpresa por quem acompanha as contas públicas brasileiras. “Se a situação fiscal é desafiadora, há também que se reconhecer a inexistência de risco de insolvência do setor público. Tanto é assim que a demanda por títulos públicos é firme e intensa. Além disso, o caixa do tesouro é uma boa salvaguarda contra turbulências”, avaliou. 

Ele ponderou que os desafios estruturais são muitos. “O Orçamento geral é rígido, as indexações e vinculações amarram as contas do governo e o gasto cresce de modo insustentável. É preciso de uma agenda de ajustes com foco na despesa para que se avance mais rapidamente em relação à redução do risco país, sem dúvida”, disse. 

 

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