CB.Agro

Embrapa Cerrados testa nova forma de recuperação do bioma

José Carlos Sousa Silva alertou sobre a necessidade de saber escolher quais espécies típicas do Cerrado devem ser utilizadas para a recuperação do bioma e ressaltou ser importante que as pesquisas tenham continuidade

Especialista utilizou uma área de dois hectares de pastagem desativada, onde não havia espécies remanescentes que não são nativas do Cerrado, para iniciar a recuperação da área -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Especialista utilizou uma área de dois hectares de pastagem desativada, onde não havia espécies remanescentes que não são nativas do Cerrado, para iniciar a recuperação da área - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Em meio à recente escalada de incêndios florestais em biomas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, o que prejudica diretamente a fauna e a flora do bioma, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em seu braço voltado especificamente para o Cerrado, a Embrapa Cerrados, estuda como desenvolver um processo de recuperação do ecossistema. Esse foi o assunto abordado por José Carlos Sousa Silva, pesquisador da Embrapa Cerrados e PhD em Biologia Vegetal, no CB.Agro desta sexta-feira (11/10) — programa do Correio em parceria com a TV Brasília.

Assista à entrevista na íntegra

Em 2006, Sousa Silva e sua equipe utilizaram uma área de dois hectares de pastagem desativada, onde não havia espécies remanescentes que não são nativas do Cerrado, para iniciar a recuperação da área. O grupo plantou 720 mudas de 15 espécies de árvores nativas do bioma. “Uma recuperação é um âmbito maior do trabalho em que envolve partes físicas e químicas”, frisou o entrevistado.

Durante anos de observação, o especialista deu destaque a três plantas específicas: a Cagaita, a Mata-cachorro e o Pau-pombo. A escolha deu-se por conta de seus eventos fenológicos, como o aspecto da botânica e a ecologia em que são vistos os diferentes “eventos” das plantas. “No caso dessas três árvores, nós vimos a parte de folheação, que é o vegetativo, e a parte de reprodução, que foi a de floração e de frutificação”, destacou.

Esse tipo de estudo é realizado, geralmente, em reservas e viveiros, mas a pesquisa conduzida pelo Embrapa Cerrados é em área de recuperação. Por conta disso, Souza enfatizou que, pelo fato de o terreno estar próximo ao Cerradão, após poucos anos, a flora cresceu mais que o esperado e a fauna nativa do Cerrado começou a aparecer novamente. Também relatou que o número de espécies cresceu de 15 para 54, especialmente entre 2023 e 2024, o que possibilitou o crescimento de espécimes menores, como arbustos, facilitado também pela menor frequência da roçagem.

A partir do estudo de campo, a Embrapa Cerrados pôde visualizar que há um potencial uso dessa estratégia em projetos de revegetação e recuperação animal. O pesquisador alertou, porém, que há a necessidade de saber escolher quais espécies típicas do Cerrado devem ser utilizadas para a recuperação do bioma e ressaltou ser importante que as pesquisas tenham continuidade.

“É necessário que elas tenham apoio. Isso é fundamental, porque a gente tem muita coisa para estudar, o bioma Cerrado tem mais de 10 mil espécies. Estudos de natureza básica, de conhecimento, são importantíssimos”, observou o pesquisador.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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postado em 11/10/2024 18:14 / atualizado em 11/10/2024 22:19
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