Anna Sebastian Perayil, de 26 anos, passou quatro meses no cargo de contadora da SR Batliboi, empresa membro da Ernst & Young (EY), multinacional do ramo de auditoria, na Índia. Até que ela faleceu, no último mês de julho. Desde então, sua história tem levantado debates em todo o mundo. Isso porque, segundo sua família, a morte foi causada por uma carga extenuante de trabalho.
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O pai da jovem, Siby Joseph, disse que a filha morreu em consequência da combinação de “vários problemas, incluindo refluxo ácido, estresse no trabalho, [e] pressão no trabalho”. Em uma carta enviada à Ernst & Young, Anita Augustine, mãe de Anna, contou que a mulher começou a trabalhar na empresa em março, mas “a carga de trabalho, o novo ambiente e as longas horas afetaram-na física, emocional e mentalmente”.
Segundo a mãe, no último mês de julho, Anna precisou consultar um médico por sentir uma “pressão no peito” por uma semana. O médico prescreveu antiácidos e apontou que ela “não estava dormindo o suficiente e estava comendo muito tarde”. Mesmo com o alerta, a filha continuou a trabalhar “até tarde da noite, mesmo nos fins de semana, sem oportunidade de recuperar o fôlego”.
“A experiência de Anna lança luz sobre uma cultura de trabalho que parece glorificar o excesso de trabalho enquanto negligencia os seres humanos por trás das funções. Não se trata apenas da minha filha, mas de cada jovem profissional que se junta à EY cheio de esperanças e sonhos, apenas para ser esmagado sob o peso de expectativas irrealistas”, diz um trecho da carta.
Anita destacou que a morte de Anna deveria servir de alerta para a empresa. No entanto, em entrevista a um jornal indiano, ela contou que ninguém da Ernst & Young compareceu ao funeral de sua filha e sequer obteve alguma resposta da empresa.
Em entrevista ao The Indian Express, Rajiv Memani, chefe da empresa, descartou qualquer ligação entre o trabalho e a morte de Anna. “Temos cerca de 100 mil funcionários. Não há dúvida de que cada um tem que trabalhar duro. Anna trabalhou conosco por apenas quatro meses. Ela recebeu trabalho como qualquer outro funcionário. Não acreditamos que a pressão do trabalho pudesse ter tirado sua vida”, declarou.
A Ernst & Young compartilhou um comunicado lamentando a morte de Anna e prestando condolências à família. “Anna fez parte da equipe de auditoria da SR Batliboi, uma firma membro da EY Global, em Pune por um breve período de quatro meses, ingressando na firma em 18 de março de 2024. Que sua carreira promissora tenha sido interrompida dessa maneira trágica é uma perda irreparável para todos nós. Embora nenhuma medida possa compensar a perda sofrida pela família, fornecemos toda a assistência como sempre fazemos em momentos de angústia e continuaremos a fazê-lo”, diz um trecho.
“Estamos levando a correspondência da família com a máxima seriedade e humildade. Damos a mais alta importância ao bem-estar de todos os funcionários e continuaremos a encontrar maneiras de melhorar e fornecer um ambiente de trabalho saudável para nossas 100 mil pessoas em todas as firmas-membro da EY na Índia”, destacou a empresa.
A história de Anna despertou tristeza e raiva em diversos profissionais, com diversos casos de ambientes tóxicos de trabalho, especialmente na empresa em que ela trabalhava. Um colega de trabalho contou em uma rede social que a morte da jovem foi informada por meio de um e-mail, que continha sua foto do perfil do LinkedIn e uma “mensagem padrão”. Ele também relatou que foi espalhada a notícia de que ela já estava sofrendo de um problema de saúde que piorou.
Outro funcionário compartilhou o texto de Anita, escrevendo: “Temos uma média de 16 horas por dia na época de pico e 12 horas por dia na baixa temporada. Nenhum fim de semana ou feriado é folgado. Anualmente, a EY anuncia voluntariamente um dia de folga para rejuvenescer seus funcionários. E sim, você adivinhou, certo! Nem isso é folga. Trabalhamos nesse dia também – do escritório! O excesso de trabalho é a única maneira de ser promovido, faça e faça os outros fazerem isso.”
Já um ex-funcionário de outra grande empresa do país disse ter ficado quatro anos no local, chegando a trabalhar enquanto estava doente com Covid “até o ponto em que não conseguia sentar direito porque tinha febre e fraqueza”. Ele também disse que seu chefe relatou aos seus superiores que o empregado não concluiu suas tarefas durante aquele período, mesmo tendo enviado o resultado do exame positivo para a doença.
Vários outros relatos nas redes sociais detalham longas jornadas de trabalho, de até 18 horas, e que eram chamados de “recursos”, e não de seus nomes. Há também uma queixa da falta de apoio dos gerentes sobre como lidar com suas cargas de trabalho e estresse.
Vale lembrar que a Índia carece de leis específicas sobre direitos trabalhistas e estresse no local de trabalho. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 51% da mão de obra indiana trabalha mais de 49 horas por semana, sendo o segundo país com maior carga horária.
Um relatório da Confederação das Indústrias Indianas e da plataforma de saúde digital MediBuddy, divulgado em julho – mesmo mês em que Anna morreu –, mostrou que quase 62% dos funcionários indianos sofriam de estresse e esgotamento no trabalho. A ministra do Trabalho da Índia, Shobha Karandlaje, fez uma postagem em que prometeu que a pasta conduziria uma “investigação completa sobre as alegações de um ambiente de trabalho inseguro e explorador”.