Na contramão do Brasil, os Estados Unidos começaram a cortar os juros básicos desde março de 2020. Ontem, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciou redução de 0,50 ponto percentual, levando o intervalo da taxa básica para 4,75% a 5% ao ano, com o intuito de impulsionar a atividade da maior economia do planeta.
O presidente do Fed, Jerome Powell, vinha sugerindo a possibilidade de um processo de redução gradual dos juros, mas o corte de 0,50 ponto percentual acabou surpreendendo alguns analistas do mercado. Mas a decisão do comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês), no entanto, não foi unânime, assim como a sinalização futura, de acordo com analistas. Dos 19 dirigentes do Fed, nove acreditam que os juros terminarão este ano entre 4,5% e 4,25% ao ano, faixa 50 pontos-base menor do que a atual, após o corte de ontem. Outros sete dirigentes acreditam que a taxa terminará 2024 entre 4,5% e 4,75%. Enquanto isso, dois banqueiros centrais defendem que os juros devem encerrar este ano no nível atual, entre 4,75% e 5% anuais.
Em entrevista de imprensa concedida após a divulgação da decisão, Powell disse que a abordagem paciente ao longo do ano passado rendeu dividendos. "A inflação está, agora, muito mais próxima do nosso objetivo e ganhamos maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável em direção a 2%", afirmou.
Segundo o professor de finanças e mercado financeiro da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Hudson Bessa, os Estados Unidos passam, agora, a ter uma taxa de juros menor, o que melhora as condições de investimento e consumo da economia. "Isso pode trazer algum nível maior de dinamismo para a economia americana. Mas isso vai ter que ser analisado, porque os dados recentes dos EUA, não são muito convergentes e, com a taxa de juros menor, o Fed terá que fazer uma administração no dia a dia, mais cuidadosa dos próximos passos, para ver qual será o ritmo de redução da taxa", disse.
No caso do impacto econômico para o Brasil, uma taxa de juros menor nos Estados Unidos, os investidores estrangeiros passam a olhar para o Brasil na iminência de aumentar a taxa de juros. E, segundo os analistas, isso pode tirar pressão do câmbio, porque haverá mais entrada de dólares no país, podendo dar alguma valorização para o real, com impactos.
Para Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouri Bank, a decisão do Fed é uma sinalização positiva para a economia global e tende a ter impacto positivo para os mercados emergentes, principalmente, no comportamento da taxa de câmbio. "Ao longo dos últimos dias, o real já se valorizou um pouco, em decorrência da expectativa com o corte de juros nos EUA e a confirmação de um corte maior que pode dar impulso adicional para a melhora na nossa moeda", disse.
Segundo especialistas, a redução dos juros nos EUA tem como objetivo aliviar as condições financeiras e estimular o crescimento econômico, especialmente em um momento de incertezas globais. Com a decisão, o Fed busca incentivar o consumo e os investimentos, ao tornar o crédito mais barato para empresas e consumidores. No entanto, o movimento também traz atenção ao risco de uma possível alta na inflação, o que demandará monitoramento constante por parte do banco central norte-americano.
Esse movimento de afrouxamento dos juros norte-americanos, na visão do especialista em finanças da Fipecafi, Felipe Nasciben, deverá dar mais ânimo ao ritmo de crescimento da economia e, ainda, colaborar com espaço para a continuidade da tendência da bolsa americana assim como diminuir a pressão sobre a brasileira e no resto do mundo.
"Se no Brasil, tivéssemos continuado o ciclo de baixa, essa combinação daria mais espaço para aumento de investimentos produtivos e valorização do índice Ibovespa. Contudo, localmente teremos o contrapeso ao movimento americano pelos desafios internos que deverão fazer com que os juros se mantenham", acrescentou.
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