As embalagens produzidas a partir do material PET (Polietileno Tereftalato) — constituído por uma resina termoplástica — podem ser reutilizadas em diversas aplicações na indústria. Da confecção de camisas, fitas adesivas e tintas, à matéria-prima para a produção de asfalto nas rodovias, elas servem para inúmeras possibilidades.
No entanto, o setor enfrenta um período mais desafiador, com pontos de coleta e reciclagem subutilizados e produção estagnada. “Estamos passando por momentos difíceis. Tem recicladoras paradas porque não tem material para abastecer. Não tem coleta”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Auri Marçon. “Não tendo coleta seletiva, não tem material reciclado para se abastecer. Hoje, 90% do PET reciclado vêm de catadores, sucateiros e cooperativas”, completa o líder da entidade.
Grande parte das garrafas ainda são despejadas em locais inadequados e não recebem o tratamento correto de descarte. Mais de 340 mil toneladas de PET não foram reutilizadas em 2021 — dado mais recente —, o que pode gerar problemas de saúde para a população das grandes cidades, além de contaminar o solo e os rios.
Um dos principais desafios relacionados ao descarte do plástico é evitar a destinação incorreta, que pode gerar a proliferação de microplásticos nos oceanos, causando malefícios à biodiversidade marinha. Para evitar esse risco cada vez maior, a indústria do PET busca maneiras de intensificar a logística reversa, que é o processo de fabricação de produtos voltado para o retorno da embalagem original ao primeiro estágio de produção. Outra demanda do setor é o incentivo à coleta seletiva. Cerca de um terço dos municípios brasileiros não possui esse tipo de serviço para a limpeza urbana, de acordo com o último Anuário da Reciclagem, realizado pelo Instituto Pragma. Além disso, apenas 4% de todo o PET reciclado que retorna às indústrias foram obtidos por meio da coleta seletiva, em todo o país.
Meio ambiente
“O reaproveitamento de materiais por meio da reciclagem apresenta um potencial interessante para o país por favorecer o reencontro da matéria-prima com a cadeia de produção e por contribuir para a redução da exploração agressiva de matérias -primas virgens, algo que desgasta cada vez mais o meio ambiente”, avalia o consultor de Sustentabilidade da BMJ Consultores Associados, Felipe Ramaldes. Para o especialista em saneamento básico, Leandro Frota, as desigualdades regionais do país são um dos principais problemas no que se refere à coleta de embalagens PET e de outros resíduos sólidos.
De acordo com a pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023, da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), enquanto na região Sul, 31,9% da população urbana é atendida pela coleta de porta em porta, apenas 1,9% é atendida no Nordeste. “Esse distanciamento dos centros urbanos acaba sendo muito ruim, primeiro, porque os municípios, que são o eixo que cuida da questão do saneamento, tanto os resíduos quanto o saneamento básico, a maioria é das cidades. Elas não têm estrutura de pessoal e estrutura orçamentária”, aponta o especialista. O serviço também é considerado caro. Em 2022, mais de R$ 29 bilhões foram destinados à limpeza urbana pelas prefeituras.
Além da coleta seletiva, o presidente da Abipet, Auri Marçon, elenca outros dois desafios para o avanço da reciclagem das garrafas PET no país: a construção de grandes centros de triagem para separar os materiais recicláveis e o aumento do número de cooperativas de catadores. “O PET tem um índice de reciclagem altíssimo. E a capacidade instalada no Brasil é tão grande que não tem coleta suficiente”, argumenta.
Potencial para crescer
O mercado de reciclagem de produtos PET gera uma receita equivalente a R$ 3,6 bilhões no Brasil, sendo que cerca de 40% são destinados aos que estão na linha de frente, como sucateiros, catadores e cooperativas. Os dados são do 12º Censo da Reciclagem do PET no Brasil, divulgado em 2022, que ainda mostra que 359 mil toneladas, ou 56,4% das embalagens descartadas pelos consumidores no país chegaram a locais onde serão reciclados e devolvidos ao mercado na forma de outros produtos em 2021.
A principal destinação da resina obtida com a PET reciclada retorna para os fabricantes de preformas e garrafas, que representam 29% desse total. Nesse contexto, incluem-se as indústrias de água, refrigerantes, energéticos e outras bebidas não alcoólicas, além de produtos de limpeza e cuidados pessoais. Este processo é conhecido como “bottle to bottle” (garrafa para garrafa, em tradução literal), que é utilizado somente por embalagens em grau alimentício, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Economia de água
Um estudo inédito realizado pela Abrapet mostra que, se comparadas às latas de alumínio e às embalagens de vidro, as garrafas de água PET de 500 ml de volume utilizam menos água no processo de fabricação. No caso do vidro, essa diferença chega a 86%. Além disso, essas embalagens também têm potencial 94% inferior na geração de material particulado que causa doenças respiratórias, na comparação com o vidro. No caso das garrafas de refrigerante de 2 litros, essa diferença apresenta uma leve queda, com a utilização de menos 64% de água durante a produção, em relação à embalagem de alumínio e 88% inferior à embalagem de vidro.
O estudo também considera o potencial de mudança climática com a produção dessas garrafas, que chega a ser 44% inferior em relação ao alumínio e 93% na comparação com o vidro. Os dados são da pesquisa Análise do ciclo de vida da embalagens PET para alimentos líquidos. Se comparado aos outros resíduos sólidos gerados no Brasil, a garrafa PET possui uma taxa de reciclagem muito elevada. O último Índice Nacional de Recuperação de Resíduos (IRR), de 2021, aponta que apenas 1,67% de todos os resíduos sólidos foi reutilizado, reciclado ou aproveitado energeticamente. Além disso, as projeções mais otimistas indicam que essa variável pode chegar a até 4%.
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