O economista Gabriel Galípolo escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o futuro presidente do Banco Central, após o fim do mandato de Roberto Campos Neto, terá grandes desafios pela frente. Dentre eles, precisará recuperar a confiança do mercado em relação à autonomia da instituição sob a sua gestão, pois, dependendo de como atuar, poderá enterrá-la de vez, de acordo com analistas ouvidos pelo Correio.
O anúncio da indicação de Galípolo foi feito, ontem, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto, após reunião com Lula. O chefe da equipe econômica afirmou que o governo vai trabalhar na escolha dos três nomes para compor a diretoria do Banco Central até o fim do ano. Além do cargo de diretor de Política Monetária, que ficará vago após Galípolo assumir a presidência, também acabam, no ano que vem, os mandatos dos atuais diretores de Regulação, Otávio Damaso, e de Relacionamento, Carolina Barros.
Pouco depois do anúncio, o Banco Central divulgou uma nota contendo as felicitações de Campos Neto ao atual diretor de de Política Monetária do BC. Ele garantiu que, após a sabatina e a aprovação pelo Senado Federal (ainda sem data marcada), "a transição dos mandatos será feita da maneira mais suave possível, preservando a missão da instituição". "Campos Neto tem trabalhado de forma harmônica e construtiva com o diretor Galípolo desde a sua chegada ao Banco Central. Campos Neto deseja a Galípolo muito sucesso nessa nova fase da sua vida profissional", acrescentou o comunicado.
A principal missão do Banco Central é preservar o valor da moeda e manter a inflação dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente de 3%, com limite superior de 4,5%. A autonomia da instituição foi conquistada em 2021, e o primeiro mandato de um presidente nesse novo regime termina em dezembro deste ano.
Agentes financeiros seguirão atentos aos movimentos de Galípolo nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, antes de assumir o cargo, e depois, no comando da instituição. "Ainda existe um grau de desconfiança de que será preciso acompanhar ao longo dos próximos anos como é que vai ser o comportamento do BC na condução da política monetária e como vai ser a atuação de Galípolo à frente da instituição", destacou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Parte dessa incerteza, de certa forma, como a questão de o BC cogitar em aumentar os juros devido à expectativa de inflação elevada, mantendo-se em 4%, tem muito a ver com esses ruídos que foram construídos justamente por parte dessa turma nova de diretores que entrou no Copom. Então, o BC vai ter um grande trabalho de desconstruir esse ruído todo que foi feito recentemente", acrescentou. Ele lembrou que parte desse ruído "foi construída justamente por conta deste Banco Central que está sendo criado pelo atual governo". "Há um trabalho de dissuasão por parte desse novo Banco Central que vai precisar ser feito, que ainda está para ser testado. Isso que a gente vai ter que acompanhar nos próximos anos", complementou.
O economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor da Georgetown University, em Washington, destacou que Galípolo não era um nome óbvio para o cargo, especialmente pela idade e pela experiência profissional. "Mas, como ele ficou quase dois anos na diretoria no BC, e eu sei que, pois já estive lá dentro, sei que a instituição é uma grande escola. Por isso, acho que qualquer deficit de experiência ou conhecimento que ele tinha, deve ter sido sanado nesse período", afirmou. De acordo com Volpon, como Galípolo tem um relacionamento muito próximo ao governo, até em nível pessoal, com o ministro da Fazenda e com o presidente da República, ele pode usar esse relacionamento próximo para poder explicar, quando for necessário, para diminuir esse ruído entre o Planalto e o BC, nessa relação difícil entre Campos Neto e Lula, "que tem gerado muito ruído no mercado, muita volatilidade, tudo isso muito ruim para a economia como um todo".
Volpon disse que espera que o fato de Galípolo usar esse relacionamento para diminuir os ruídos no mercado, como aconteceria entre Lula e o ex-presidente do BC Henrique Meirelles, no primeiro mandato do petista. "Mas também temos o risco de ter o BC não tendo aquele compromisso incondicional com a meta e ter um receio do mercado em relação a isso. Explica em parte a desancoragem das expectativas que você vê hoje no Focus e ele vai ter que endereçar isso. Ele vai ter que se provar, já que agora ele é nomeado. Obviamente, a decisão que ele vai tomar no cupom de setembro, o voto dele no cupom de setembro e nos próximos cupons vão ser extremamente importantes para ver se, para ele sinalizar ao mercado o compromisso que ele tem ou não com o sistema de metas", alertou.
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