Perfil

De ministro da ditadura a conselheiro de Lula: veja quem foi Delfim Netto

Figura polêmica, o economista era um dos mais conhecidos do país, reconhecido por seu protagonismo no debate público e influência junto a diferentes governos, ao longo de mais de cinco décadas

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, foi um dos ministros mais longevos da Fazenda do país, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974 -  (crédito: EBC)
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, foi um dos ministros mais longevos da Fazenda do país, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974 - (crédito: EBC)

Morreu nesta segunda-feira (12/8), aos 96 anos, o ex-ministro Antônio Delfim Netto. Um dos economistas mais conhecidos do país, é reconhecido por seu protagonismo no debate público e influência junto a diferentes governos, ao longo de mais de cinco décadas.

Nascido em maio de 1928 na capital paulista, formou-se economista em 1951 pela Universidade de São Paulo (USP) e tornou-se catedrático em 1958, com uma tese de doutorado sobre café. Foi na mesma instituição que ele fez carreira acadêmica como professor titular de Análise Macroeconômica e recebeu o título de professor emérito pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Fea-USP).

Foi membro do Conselho Consultivo de Planejamento (Consplan) do governo Castelo Branco, em 1965, e tornou-se secretário de Fazenda no governo de São Paulo em 1966.

Assista ao vídeo sobre a trajetória de Delfim Netto e trecho de entrevista ao Roda Viva:

 

Depois de se destacar no cargo, Delfim Netto assumiu o Ministério da Fazenda em 1967, sob a presidência do general Costa e Silva, e foi um dos arquitetos da política econômica brasileira durante a ditadura militar.

O rápido crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) à época fez com que o período ficasse conhecido como “Milagre Econômico”. O período, no entanto, foi caracterizado pela concentração de renda, inflação galopante, endividamento do Estado e aumento das desigualdades sociais.

AI-5

À frente da equipe econômica, ele foi um dos signatários do Ato Institucional Número 5 (AI-5), decreto que deu início ao período mais sangrento da ditadura, a partir de dezembro de 1968.

Em entrevista ao programa Roda Viva, em 2019, o economista afirmou que assinaria o ato novamente. “Não tem arrependimento possível sobre alguma coisa que você não tem nenhum controle”, afirmou.

Delfim Netto permaneceu como titular da pasta até 1974, se tornando um dos ministros mais longevos da Fazenda do país, por sete anos. Logo após esse período, tornou-se embaixador brasileiro em Paris (1975-1977). Ao retornar ao Brasil, foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, e ministro da Agricultura (1979).

Elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1987, onde permaneceu por cinco mandatos como deputado federal pelo estado de São Paulo, até deixar o Congresso em 2007.

Conselheiro

Contraditório e pragmático, exerceu influência nos governos de José Sarney e, embora tivesse a imagem ligada à ditadura, Netto tornou-se uma espécie de conselheiro informal do presidente Lula durante seu segundo mandato (2007-2010).

Além disso, deu conselhos a Dilma Rousseff e também foi procurado por Michel Temer. Em 2022, anunciou que votaria em Lula, que disputou a presidência com Bolsonaro.

Delfim também foi alvo de busca e apreensão da operação Lava-Jato, em 2018, suspeito de ter recebido propina durante projeto de construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Ele negou as acusações, dizendo que recebeu pagamento de uma construtora por uma consultoria e que teria declarado o dinheiro.

Colunista dos principais veículos de imprensa do país durante anos, Delfim, que era pouco afeito a tecnologia, acabou ganhando destaque nas redes sociais com um vídeo em que defendia o sedentarismo como forma de prolongar a vida. 

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postado em 12/08/2024 12:31 / atualizado em 12/08/2024 12:34
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