Luto

Economistas lembram trajetória de Delfim Netto na vida pública e acadêmica

Ex-ministro da Fazenda faleceu nesta segunda-feira (12/8) em São Paulo, aos 96 anos. Personalidades recordaram feitos do economista, considerado um dos nomes mais influentes da política econômica do país

Economista foi um dos ministros mais longevos da Fazenda do país, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974 -  (crédito: Tempo D'Imagem/Reproducao)
Economista foi um dos ministros mais longevos da Fazenda do país, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974 - (crédito: Tempo D'Imagem/Reproducao)

Economistas e entidades do setor produtivo lamentaram a morte do ex-ministro Antônio Delfim Netto, que faleceu nesta segunda-feira (12/8) em São Paulo, aos 96 anos. Personalidades lembraram a trajetória do economista, considerado um dos nomes mais influentes da política econômica do país.

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega afirmou que Delfim foi "um dos mais importantes formuladores e executores de política econômica do país". “Ele tinha plena consciência de seu valor na economia brasileira e formou muitos economistas sabendo de seu papel. Certamente, ficará como um dos homens públicos mais importantes do Brasil”, destacou.

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Delfim Netto foi um dos ministros mais longevos da Fazenda, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974.

Também foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, ministro da Agricultura (1979), embaixador do Brasil na França (1975-1977) e eleito por cinco mandatos como deputado federal pelo estado de São Paulo (1987-2007).

Ao todo, ele tem mais de 10 livros publicados sobre problemas da economia brasileira e centenas de artigos e estudos. “Figura brilhante e multifacetada da cena nacional, deixa abundante material para os historiadores”, manifestou Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos.

Em nota oficial, o Ministério da Fazenda manifestou pesar pelo falecimento do economista, considerado “um referencial em diferentes fases da história do país”.

“Por décadas, fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira. Neste momento de luto, os servidores do Ministério da Fazenda manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Delfim Netto”, ressaltou a pasta.

Contribuição acadêmica

Delfim Netto doou cerca de 100 mil livros para a FEA-USP, onde se formou e foi professor emérito. Segundo a instituição, sua biblioteca é considerada o mais completo acervo da área econômica do Brasil.

“O legado acadêmico e intelectual do professor Delfim continuará a ser lembrado por todos que tiveram o privilégio de conviver com ele, e também por aqueles que poderão acessar as obras do seu acervo construído ao longo de mais de 8 décadas disponível na Biblioteca da FEA-USP”, declarou a universidade, em nota.

O co-CEO do Grupo Empiricus, Felipe Miranda, declarou que Delfim “representa uma metonímia da profissão de economista no Brasil”. “Deixa um legado quase único de completude na área, reunindo profundidade e vastidão de conhecimento da literatura e produção acadêmica. Detinha uma rara habilidade de transitar entre as várias escolas da ciência econômica com muito rigor matemático e, ao mesmo tempo, criteriosa habilidade de aprofundar-se na História para tentar escrever um futuro”, disse.

“Alguém com grande contribuição para a Academia e para o pensamento econômico brasileiro, que transbordou a tecnocracia para penetrar de maneira indistinta também no campo da política econômica”, completou Miranda.

Indústria

Em nota, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) destacou que Delfim Netto marcou um ciclo da economia brasileira. “Atuou no ensino superior, na administração pública, na literatura e no parlamento por décadas, propondo transformações na busca do desenvolvimento do país.”

A entidade enfatizou o respeito internacional ao economista, que “sempre defendeu o fortalecimento da indústria nacional”. “Ao olharmos a trajetória do economista Delfim Netto, encontraremos os talentos de matemático, pensador, analista histórico e bem-humorado frasista. Nossos sentimentos à família e aos amigos nesta hora triste.”

Em seu perfil pessoal, o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, lembrou uma frase do britânico John Maynard Keynes, que escreveu que um bom economista deve combinar os talentos do “matemático, historiador, estadista e filósofo”. “Delfim foi quem compreendeu isso em absoluto, melhorando ainda com um excelente senso de humor. Sentiremos falta”, escreveu em sua conta no X.

“Vilão adorável”

O economista André Perfeito lamentou a perda de “uma das raras pontes econômicas do Brasil”. “Delfim Netto não era uma pessoa fácil de entender. Tive o raro prazer de conhecer ele e fui mais de uma vez me aconselhar com ele no seu escritório em Higienópolis. Toda vez que falava com ele, saía com um misto de certezas e dúvidas sobre o que fui perguntar”, lembrou.

Ele destacou que o economista articulava com igual desenvoltura conhecimento técnico de economia e aspectos políticos dos problemas sociais. Perfeito definiu Delfim como “uma espécie de Darth Vader” e um “vilão adorável”. “Delfim vai fazer falta. Ele era uma ponte entre diversos mundos, e este tipo de arquitetura que lembra os quadros de Escher é um evento raro. Agora, irá vislumbrar o eterno. Que consiga, enfim, encontrar a síntese das suas contradições.”

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postado em 12/08/2024 11:57
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