Mercado

Banco Central foi omisso ao não regular alta do dólar, critica Cappelli

Presidente da ABDI também disse que o atual patamar das taxas de juros inviabiliza o investimento da indústria

Cappelli:
Cappelli: "Nada, absolutamente nada justifica a omissão do Banco Central no mercado de câmbio" - (crédito: Henrique Lessa/CB/D.A Press)

A omissão do Banco Central (BC) em regular o mercado de câmbio e manter a taxa de juros afeta a competitividade industrial brasileira. É o que afirma o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli. Para ele, o BC deveria ter atuado para evitar a escalada do dólar na última semana.

“É inexplicável porque, com a escalada do dólar na sexta-feira (28/6) e ontem (1º/7), o Banco Central não atuou no mercado de câmbio para segurar a cotação. Um dólar que está pressionado pela posição do FED (Banco Central norte-americano), está pressionado pelo último debate americano, pelas eleições francesas, mas insistem em dizer que o dólar sobe porque o presidente (Lula) fala muito. Mas o presidente fala para defender o modelo econômico que foi vitorioso nas urnas, no Brasil não há, e tentaram fazer nas últimas semanas um fantasma de um desequilíbrio fiscal que não existe”, disse Cappelli.

Para o chefe da agência, que participou da abertura do Fórum de Competitividade, nesta terça-feira (2), em Brasília, o patamar dos juros brasileiros impede o investimento produtivo do país.

“Nada, absolutamente nada justifica a omissão do Banco Central no mercado de câmbio e essas taxas de juros que deslocam o dinheiro da produção para a especulação. Encontrei um empresário do setor de máquinas que me mostrou o celular onde orientava o financeiro da empresa a retirar todo o recurso previsto para investimento na produção e colocar em renda fixa. Com os juros no patamar que estão, nada vai dar mais, até o fim do ano, do que renda fixa. A gente precisa ter uma estrutura de juros condizente com a situação fiscal que o país tem, o Brasil tem a inflação no centro da meta, tem mais de US$ 350 bilhões em reservas”, apontou.

De acordo com Cappelli, o país deve crescer neste ano, no mínimo, ao mesmo nível de 2023, e a única explicação para as escolhas do BC parece ser favorecer os especuladores que apostam contra o Brasil.

“Este ano, a gente vai ter um crescimento muito próximo do que tivemos no ano passado, temos a indústria operando com mais de 80% da capacidade instalada, a gente tem desemprego em queda, a massa salarial crescendo, inflação controlada, não há nada que justifique essa taxa de juros, nada que justifique esse pânico fiscal criado. Mas sabemos que tem muita gente especulando contra o Brasil, muita gente apostando contra o país e ganhando com o dólar”, disparou.

Ibama

Além de criticar o controle do câmbio e da taxa de juros pelo BC, Cappelli frisou que, para o país se tornar mais competitivo, é necessário investir na qualificação dos órgãos reguladores para destravar investimentos que precisam dessas autorizações. Apontou como exemplo desse sucateamento o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que hoje conta com um número insuficiente de funcionários para emitir as licenças ambientais.

Como alternativa para esse segmento, ele destacou que a ABDI está construindo parcerias com diversos órgãos regulatórios, que hoje somam 136 na estrutura federal, para a otimização dessas estruturas, além de apostar na digitalização dos processos de licenças.

“Não é possível nós pensarmos em competitividade se a gente tem uma estrutura regulatória que foi desmontada ao longo do tempo, que não tem recursos, que não tem capacidade de análise.”

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postado em 02/07/2024 14:55 / atualizado em 02/07/2024 15:10
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