Em meio a uma série de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou, nesta quinta-feira (26/7) que a autoridade monetária não projeta aumento de juros após a instituição interromper o ciclo de cortes na taxa básica da economia (Selic), na semana passada. Além disso, reforçou que “as decisões do BC são técnicas”, buscando reduzir qualquer tipo de ruído.
“Alta de juros não é o nosso cenário base”, disse o presidente do BC, em São Paulo, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Segundo Campos Neto, a comunicação oficial do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve, por unanimidade, a taxa Selic em 10,50%, deixou essa mensagem de que não há perspectiva de aumento de juros, apesar de o colegiado não retomar a sinalização futura (forward guidance), o BC segue cauteloso na missão de perseguir o centro da meta de inflação, de 3% ao ano.
De acordo com Campos Neto, o Banco Central seguirá atento às mudanças de cenários, mesmo sem o forward guidance. “Isso não significa que não estamos vigilantes e vamos debater em cada reunião”, frisou.
Campos Neto destacou também que os ruídos políticos têm contribuído para a piora nas expectativas de inflação, que estão desancoradas, mas negou qualquer ruído político na decisão unânime do Comitê. “A decisão tomada foi no sentido de dirimir essa interpretação de ruído e que a nossa decisão foi técnica”, afirmou. Ele ressaltou que, no último Copom, houve um “espírito de equipe muito grande”.
Sucessão e ruídos políticos
Ao ser questionado sobre a mudança no comando do Banco Central, Campos Neto reconheceu que é preciso um período longo entre a indicação e a sabatina dos diretores ainda é incerta, mas reforçou que é um tempo maior para a mudança.
“O importante é fazer uma transição suave, seja qual for o meu sucessor”, disse. O mandato do presidente do BC terminará em dezembro deste ano e ele negou qualquer pedido de ampliação desse prazo.
Ao ser questionado sobre o convite de ser ministro da Fazenda do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em um eventual novo governo, Campos Neto negou qualquer conversa nesse sentido. “Eu nunca tive conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disse.
“Não tenho interesse em me candidatar a nada”, acrescentou ele, dizendo que “não entende nada de política” para aconselhar o governador. “O tempo vai mostrar que estamos fazendo um trabalho técnico e os votos foram técnicos. E a diretoria está muito coesa para dirimir qualquer dúvida sobre isso”, argumentou.
O presidente do BC evitou comentar medidas específicas do atual governo, e lembrou que o conjunto da obra demanda atenção nos comunicados. “Os números mostram uma percepção de piora fiscal a médio prazo”, frisou. De acordo com ele, os números mostram que houve “uma percepção grande da piora do quadro fiscal”, mas a diretoria preferiu não incluir os riscos fiscais no balanço de risco no RTI.
“A gente tem números de curto prazo mostrando divergência nas expectativas e no Relatório de Inflação a gente espera uma melhora contínua, mas, por outro lado, existe uma percepção grande de piora a médio prazo, relacionada aos ruídos de comunicação e de interpretação. E nesse caso não faz sentido colocar um peso muito grande no debate desse tema”, complementou Campos Neto.
De acordo com o presidente do BC, é importante reforçar o alerta sobre o problema do aumento do endividamento global. “Isso não é um problema apenas do Brasil, e, vamos passar por um período de ajuste para o fiscal voltar para a normalidade”, afirmou.
Nova meta de inflação
Na apresentação do RTI, Campos Neto também comentou o decreto presidencial publicado nesta quarta-feira (26/6) no Diário Oficial da União, que cria a nova meta de inflação.
Ele destacou que a nova meta contínua de inflação garante maior transparência na condução da política monetária, porque impede que outra mudança possa ser feita em um período de 36 meses. “O assunto vinha sendo discutido desde a minha chegada, que era como aprimorar o sistema de métodos. Existia um entendimento de que o ano fiscal não era a forma mais eficiente de se auferir os resultados atingidos. E acho que é importante destacar aqui que a gente teve, então, incluído no decreto, período de 36 meses, o que eu acho que mostra bastante o compromisso do governo, a transparência, que foi atingida, dizendo que qualquer modificação que seja feita, ela vale somente 36 meses à frente”, afirmou.
“Acho que isso ajuda muito, porque dá estabilidade na previsão da meta, faz com que os agentes financeiros consigam entender melhor o sistema, ter mais previsibilidade, e maior previsibilidade significa maior capacidade dos agentes de se programarem”, acrescentou.
Segundo ele, isso pode garantir maior fomento ao investimento a longo prazo, taxa de juros longos mais estáveis e, de uma forma geral, você aumenta a eficiência do canal de transmissão de política monetária.
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