Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira (18/6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) para tentar dar sinais de que estuda cortar despesas para recuperar a credibilidade junto aos maiores credores da dívida pública: o mercado financeiro. A entrevista dos ministros, após a reunião, contudo, não tranquilizou os operadores. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) continuou operando no vermelho, e o dólar voltou a subir, refletindo as incertezas tanto no cenário doméstico quanto no ambiente externo.
A Bolsa paulista encerrou o pregão desta segunda-feira (17/6) com recuo de 0,44%, a 119.138 pontos. No ano, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, acumula queda de 11,21%. Enquanto isso, a moeda norte-americana registrou nova alta e encerrou o dia em R$ 5,422 (alta de 0,75%).
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"Vemos que o mercado financeiro brasileiro se descola do resto do mundo, com problemas internos espantando os investidores", destacou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. "O mercado entende que existe uma grande harmonia entre o presidente Lula e Haddad. Isso desde sempre. Com a ministra Simone Tebet, tem sido uma grande surpresa positiva, e, no entanto, vimos o presidente Lula criticando o Banco Central novamente. Imagino que, nesta semana, as críticas serão intensas", previu Cruz.
De acordo com analistas, há um consenso no mercado de que, nos dois dias da reunião do Copom, o Banco Central vai antecipar o fim do ciclo de queda da taxa Selic, iniciado em agosto do ano passado e, atualmente, em 10,50% ao ano. As apostas são de manutenção dos juros básicos nesse patamar. "Há pouca dúvida sobre a unanimidade dos votos dos diretores do Copom. Esperamos consenso e sinal de compromisso com a meta e a primazia da ancoragem como referência para a política monetária", destacou José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Segundo ele, a desancoragem das expectativas de inflação e os dados de atividade econômica "confirmam a leitura do Copom sobre a resistência da economia aos juros ainda altos". Além disso, ele lembrou que os ruídos políticos da semana em torno da MP do equilíbrio fiscal e das dificuldades do governo no Congresso ajudaram a puxar o dólar de R$ 5,25 para mais R$ 5,40, e os juros futuros.
Conforme o boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, a mediana das expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 3,90%, na semana passada, para 3,96%, nesta semana — a sexta alta consecutiva. A mediana para a inflação oficial de 2025 registrou a sétima elevação seguida, para 3,80%. Além disso, o mercado elevou de 10,25% para 10,50% as apostas para a taxa Selic no fim deste ano, e de 9,25% para 9,50%, no fim de 2025.
O economista da Bluemetrix Asset Renan Silva reforçou que o relatório Focus confirma tendência de deterioração das projeções da Selic desde o início do ano. Na avaliação dele, o aumento da relação dívida-PIB, que deve atingir 80% ainda neste ano, conforme projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é um dos fatores que ajudam a explicar o provável encerramento do ciclo de corte da taxa básica de juros nesta semana. "Essa conjunção de fatores e a mudança da meta fiscal são suficientes para que os agentes de mercado que compõem a pesquisa Focus mostrem mais pessimismo em torno da taxa terminal da Selic", disse.
Rafael Cardoso, economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, acredita que "esses riscos estão se materializando de forma mais clara nas expectativas de inflação, até mesmo para o ano de 2026, um pouco fora do horizonte de política monetária atual, mas que denota uma desconfiança do mercado e dos economistas que fornecem essas projeções em torno da capacidade de o BC entregar meta lá na frente".