CRESCIMENTO

PIB cresce pouco acima do esperado, mas especialistas indicam desaceleração

Indicador cresce 0,8% no primeiro trimestre de 2024. Especialistas ouvidos pelo Correio apontam que ritmo de evolução da atividade econômica deve desacelerar nos próximos períodos

O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2024 apresentou crescimento de 0,8% em relação aos três meses anteriores (na margem), somando R$ 2,7 trilhões. O dado foi divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado, novo crescimento na margem após o leve ajuste de variação zero para queda de 0,1% no PIB do último trimestre de 2023, ficou levemente acima da mediana das estimativas do mercado, de 0,7%. O número também colocou o país em 17º em ranking da Austin Rating com 57 economias que já divulgaram o PIB dos três primeiros meses do ano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado nas redes sociais e demonstrou confiança para que o Brasil avance da 9ª posição para a 8ª colocação das maiores economias do planeta neste ano, para US$ 2,3 trilhões.

Esse dado considera uma correção de 7,26% no PIB nominal — algo que ainda precisará ser confirmado com os dados dos três próximos trimestres. Vale lembrar que a taxa mostra desaceleração em relação ao avanço de 1,2% — corrigido, antes era 1,3% — registrado nos primeiros três meses de 2023.

Economistas ouvidos pelo Correio, e até mesmo a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, demonstraram cautela em relação ao PIB do segundo trimestre. Segundo eles, ainda não dá para estimar o tamanho do impacto da tragédia que assola o Rio Grande do Sul (RS) e, consequentemente, a desaceleração nos próximos trimestres é certa.

A SPE, em nota divulgada após a publicação dos dados do IBGE, informou que "apesar da recuperação observada na margem para o PIB do primeiro trimestre de 2024, a expectativa é desaceleração no ritmo de crescimento no próximo trimestre, repercutindo a calamidade no RS". A secretaria, em maio, elevou de 2,2% para 2,5% a previsão para o crescimento do PIB deste ano mas, no relatório, admitiu que "restam incertezas a respeito da estimativa de crescimento para 2024".

Na avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da Austin, as novas estimativas do governo são difíceis de se concretizarem. "A projeção está furada, pelo menos, neste momento", afirmou. Segundo ele, o resultado confirma a nossa estimativa da Austin de crescimento de 1,9% no PIB de 2024.

Agostini ressaltou que uma surpresa do PIB foi a agricultura que, mesmo com a queda de 3% na comparação com o primeiro trimestre do ano anterior, ainda apresentou um crescimento "bastante robusto", de 11,3%. Pelas projeções do IBGE, contudo, a produção de soja vai apresentar queda neste ano.

Conforme os dados do órgão subordinado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, os serviços, com alta de 1,5% na margem e de 3% na comparação interanual, foram o motor do PIB do trimestre. Esse desempenho, lembram os analistas, foi impulsionado pela alta de 1,5% no consumo das famílias, no lado da demanda, alavancado, principalmente, pela massa salarial mais elevada e pelo desemprego mais baixo.

Crescimento

Em relação aos três primeiros meses de 2023, o crescimento do PIB foi de 2,5%. Pelos cálculos da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), haverá desaceleração no PIB do segundo trimestre, e a variação será de de 0,5% na margem, e de 1,4%, na comparação interanual, já contabilizando o impacto no Rio Grande do Sul.

"O regime de metas é um dos pilares das expectativas de inflação e o custo da desinflação fica mais alto quando o mercado não acredita que elas serão cumpridas", explicou.

Ela lembrou que a discussão sobre a nova meta móvel deve gerar ainda mais ruídos, pois o governo adiou esse debate devido à crise no Sul. "Ainda não sabemos como será essa discussão, mas o governo tem espaço para ganhar credibilidade, porque a inflação de curto prazo ainda tem sido uma boa notícia, pois está mais acomodada", destacou.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, prevê altas de 0,8% no PIB do segundo trimestre, na margem, e também reforçou alertas sobre os riscos de desaceleração devido à tragédia no Sul.

"O país vai crescer menos do que poderia. E, talvez o impacto seja relativamente pequeno dado que estamos no começo do ano e tem tempo da reconstrução começar", afirmou.

O economista da MB, Sergio Vale, reforçou que o bom resultado do PIB do primeiro trimestre teve importante contribuição do pagamento dos precatórios e Requisições de Pequeno Valor (RPVs), liberadas no fim do ano passado e pagas até fevereiro deste ano, de pouco mais de R$ 90 bilhões, impulso que não ocorrerá nos próximos meses.

"Ainda será preciso esperar o impacto da crise no Rio Grande do Sul e do menor ritmo de redução nos juros, que são os elementos de preocupação com o resto do ano e que colocam um crescimento que tende a ser menor do que esses 2,5% no segundo trimestre", destacou ele, que prevê alta de 1,8% no PIB na comparação com mesmo período de 2023.

Vale estima avanço do PIB em torno de 2,2% neste ano. "Mas, certamente, tanto o efeito Rio Grande do Sul quanto o efeito juros, na taxa de juros maiores do que se imaginava a princípio, evita que você tenha um número ao longo do ano muito parecido com esse primeiro trimestre. Os números tendem a ser um pouco piores do que isso ao longo dos trimestres", frisou.

Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o PIB voltou a crescer, mas deve voltar a desacelerar. Para ele, a recuperação da atividade deste ano "está associada à queda da Selic e à elevação da massa de renda real".

O especialista não tem dúvidas de que a atividade vai pisar no freio, pois o Banco Central entenderá que as altas no PIB corrente são inflacionárias. "A desaceleração esperada para o segundo trimestre, com efeitos das enchentes, não chega a ameaçar o PIB do ano, com alta acima de 2%", afirmou.

Luis Leal, economista-chefe da G5 Partners, manteve a previsão de crescimento do PIB deste ano após os dados do IBGE, apesar de o resultado ter sido melhor do que o esperado devido às incertezas do impacto das chuvas no Sul do país. "Os prováveis impactos da tragédia do Rio Grande do Sul sobre os PIBs do 2º e do 3º trimestres, nos levou a mantê-la mesmo em 2,1%", disse. 

 

 


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