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Política monetária

"O Banco Central tem feito o seu trabalho", afirma presidente da Febraban

Mesmo com taxa de juros estável em 10,50%, ex-diretor do BC demonstra otimismo para o mercado de crédito que, pelas projeções dele, deverá crescer em torno de 10% neste ano

Para Sidney, é importante que o governo continue perseguindo as metas fiscais, como orientou o BC na ata e no comunicado -  (crédito: Febraban/Divulgação)
Para Sidney, é importante que o governo continue perseguindo as metas fiscais, como orientou o BC na ata e no comunicado - (crédito: Febraban/Divulgação)

São Paulo — O presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, demonstrou otimismo em relação ao mercado de crédito e elogiou o trabalho do Banco Central na condução da política monetária.

“O Banco Central tem feito o seu trabalho de fazer com que nós consigamos manter a inflação na meta”, disse Sidney, nesta terça-feira (25/6), após participar da abertura do primeiro dia da edição de 2024 da Febraban Tech, feira de tecnologia bancária organizada pela entidade que acontece até o dia 27, em São Paulo.

O ex-diretor do BC voltou a demonstrar otimismo com o compromisso do governo em buscar o equilíbrio fiscal, apesar do aumento das incertezas no mercado sobre o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu ministro da Economia, Fernando Haddad, que tenta zerar o rombo das contas públicas, sem muito sucesso. “É um trabalho que também conta com o apoio do governo. O governo está empenhado em fazer com que haja o cumprimento do arcabouço fiscal”, acrescentou Sidney.

A meta de inflação de 2024 e dos próximos dois anos é de 3%, com teto limitado em 4,5%, conforme a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN). Após o governo mudar a meta fiscal deste ano e dos próximos, o mercado desconfiado com o compromisso de que o presidente Lula conseguirá zerar o rombo das contas públicas e as expectativas de inflação ficaram desancoradas e, tanto o mercado quanto o próprio BC já projetam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderá encerrar o ano em torno de 4% ou até acima disso.

Não à toa, a questão fiscal foi um dos problemas apontados na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã de hoje, e que ajudou na decisão unânime do colegiado de manter a taxa básica da economia (Selic) em 10,50% ao ano e, assim, interromper o ciclo de queda dos juros básicos, iniciado em agosto de 2023.

No documento, o Comitê elevou de 4,5% para 4,75% a taxa neutra da economia, que é o patamar dos juros, descontada a inflação, que não afeta a atividade econômica. O aumento desse indicador sinaliza que os juros devem continuar em um patamar mais elevado por um período mais prolongado, pois as projeções de inflação pioraram em relação à última reunião do Copom, realizada em maio.

Para Sidney, é importante que o governo continue perseguindo as metas fiscais, como orientou o BC na ata e no comunicado. “Se nós conseguirmos nos mantermos, do ponto de vista macroeconômico, buscando equilibrar as finanças públicas, nós vamos facilitar bastante o trabalho do Banco Central. Hoje, o Banco Central divulgou a sua ata, trouxe mais esclarecimentos da decisão”, afirmou o presidente da Febraban.

Ao comentar sobre o fim do ciclo de corte da taxa Selic, Isaac Sidney ainda acha que será possível que o Copom volte a reduzir os juros, mas um freio de arrumação. “Não foi uma decisão de encerramento possível, foi uma interrupção para análise dos cenários externo e interno. Esse freio de arrumação, por assim dizer, se mostrou necessário. Foi uma decisão unânime do Copom, o que mostra que é o momento de se analisar os dados para saber em que momento nós vamos voltar a poder ter novamente a continuidade da queda da taxa básica”, afirmou.

O executivo também assegurou que os bancos esperam que o BC volte a cortar a taxa básica. “Os bancos querem juros menores. Nós temos todo o interesse em que o Brasil tenha juros estruturais mais baixos, porque isso faz com que o acesso ao crédito seja melhor”, destacou.

Mercado de crédito em alta

Isaac Sidney ainda destacou qualquer movimento de retração do mercado de crédito, apesar da decisão do Copom em manter a Selic na última reunião.

“Eu não acredito que haverá retração do crédito. Estamos no quarto mês do ano seguido com uma aceleração, ainda que gradual, do crédito. A nossa expectativa é de que o crédito cresça, em 2024, a um patamar de 10%. Isso é um crescimento forte, um crescimento robusto”, disse. “Nós estamos vendo o crédito para as famílias crescer no nível em torno de 11% ao ano, o crédito para as empresas cresce no patamar menor, historicamente é assim. Nós tivemos, em 2023, momentos muito difíceis para o crédito corporativo, para o crédito para as empresas, em razão, por exemplo, do que aconteceu nas Americanas, depois nós vivenciamos também a recuperação judicial da Oi e da Light. Isso trouxe uma aversão a risco maior para o crédito corporativo”, acrescentou.

De acordo com o presidente da Febraban, o nível de inadimplência, neste momento, está “adequado” e, mesmo com a taxa Selic mais elevada, será possível que o setor de crédito encerre o ano com crescimento de 10% em relação a 2023. “Já voltamos para os patamares pré-pandemia, e nós acreditamos que o mercado de crédito tem toda a condição de se desenvolver, de crescer no patamar razoável, em torno de 10% em 2024”, afirmou.

Inteligência artificial

O presidente da Febraban reforçou a importância do tema principal do evento, que é o avanço da Inteligência Artificial (AI), e defendeu a responsabilidade não apenas das empresas como também do governo e dos legisladores no processo de regulamentação dessa tecnologia que está em discussão no Congresso Nacional.

“Nós estamos vivenciando transformações muito relevantes, transformações que vêm do Banco Central, enquanto regulador, para fomentar a competitividade, transformações dos nossos clientes que exigem cada vez mais serviços e produtos eficientes e acessíveis, mais baratos, e também estamos vendo uma transformação tecnológica, que passa a especial pela inteligência artificial, tudo com foco na principalidade, na centralidade do nosso cliente”, afirmou.

Na avaliação de Sidney, o PL para a regulamentação da IA, que tramita no Congresso e é relatado pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), é um projeto principiológico, prevendo a figura de uma espécie de agência reguladora. “O pleito que nós temos, não só nós, mas de outros setores que são regulados, nós já temos reguladores que têm conhecimento da atuação de cada setor regulado”, afirmou.

De acordo com ele, os bancos têm pleiteado ao relator que ele possa deixar a cargo dos reguladores atuais a regulamentação da lei artificial, deixando o projeto de lei como um marco principiológico, um marco conceitual, evitando amarras para as empresas e para os investimentos. “Isso é importante para que o PL não se torne uma regulação adicional, fazendo com que os setores regulados tendem a observar marcos e regulamentações de espaços distintos que acabam prejudicando o trabalho”, afirmou.

Desenvolvimento

Isaac Sidney destacou ainda que os bancos “estão bastante engajados no desenvolvimento do Brasil”. “Isso passa por uma série de iniciativas e de ações voltadas para o social, para os aspectos climáticos e ambientais , aspectos do desenvolvimento sustentável”, afirmou. “O que significa dizer que somos bancos mais do que emprestadores de recursos, mais do que emprestadores de dinheiro, nós somos, efetivamente, canais de desenvolvimento da economia brasileira e somos pontos de conexão também global”, acrescentou.

Na avaliação do presidente da Febraban, para que a economia cresça, é preciso que ela tenha bancos sólidos, “fortes, capitalizados, bancos rentáveis, bancos que conseguem devolver para a sociedade a confiança que os nossos clientes têm, que os nossos investidores fazem depositando suas economias, seus recursos em todos os bancos do Brasil”. “Nós temos também uma satisfação muito grande que podemos integrar a rede do Sistema Financeiro Nacional, que ela não é só formada por bancos, é formada também por instituições financeiras não bancárias”, completou.

Edição histórica

A Febraban Tech é a maior feira de tecnologia e inovação do setor financeiro nacional e internacional. A edição de 2024 do evento promete ser histórica, de acordo com os organizadores. A feira conta com 19,7 mil m2 de área construída, aumento de mais de 50% em relação ao ano passado.

A área de exposição aumentou 20%, passando para 6.630 m². Ao todo, serão 226 áreas de exposição, bem mais do que os 188 em de 2023. Além da IA responsável, o Open Finance, o Pix, e a visão futura dos bancos na garantia da cibersegurança são alguns dos temas do evento. A expectativa de público é de 16 mil pessoas por dia, totalizando 58 mil visitantes nos três dias do evento. Em 2023, a média foi de 15 mil visitantes diários.

*A jornalista viajou a convite da Febraban 

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postado em 25/06/2024 17:37 / atualizado em 25/06/2024 17:53
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