Com o vencimento de mais de 10 GW (gigawatts) em contratos de energia, até 2028, no mercado regulado, comercializadoras veem uma janela para a abertura do mercado de energia para indústrias e comércios do país até 2026. Atualmente, apenas consumidores do grupo A, que engloba empresas de média e alta tensão, têm a liberdade de escolher seus fornecedores de eletricidade.
Um estudo realizado pela consultoria Volt Robotics, junto à Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), projetou que a medida tem potencial de beneficiar mais de 6,4 milhões de consumidores do mercado cativo, com economia anual estimada de R$ 17,8 bilhões na conta de energia elétrica, caso seja feita a migração para o mercado livre.
No segmento industrial, o levantamento revelou que a migração poderia resultar em uma economia anual de R$ 4,2 bilhões, além de mais de 91 mil novos empregos em todo o país. Já no segmento comercial, a migração poderia gerar uma economia anual de R$ 13,5 bilhões e até 290 mil novos postos de trabalho.
O custo da energia é um peso para as pequenas indústrias e comércios brasileiros, que contam com uma das contas de luz mais caras do mundo. Ao ter a possibilidade de escolher o fornecedor no mercado livre, o consumidor poderá arbitrar entre o que for mais barato: manter a compra da energia subsidiada ou migrar para um contrato com preço ainda menor no mercado livre.
Segundo o diretor-geral da Volt Robotics, Donato Filho, a expansão do mercado livre de energia será impulsionada neste momento pela possibilidade de redução de custos para os consumidores, o que deve liberar recursos para aumentar investimentos em seus próprios negócios. "Esse movimento é só o começo. Na sequência, ao entender melhor as necessidades e os comportamentos dos consumidores, ofertas praticamente personalizadas começarão a ser realizadas, agregando serviços e melhorando muito a qualidade percebida", destacou.
Economia
Dados da Trinity Energias Renováveis, gestora que atua no mercado livre de energia, mostraram uma economia de aproximadamente 20% no valor da conta de luz, na comparação feita entre o consumidor cativo e o livre, durante os anos de 2016 a 2021. "Para acelerar esses benefícios é muito importante a democratização do acesso aos dados dos consumidores, sempre com suas aprovações e consentimentos. Esses dados devem ter qualidade para que o mercado possa realizar as melhores ofertas disponíveis", emendou.
Para o presidente-executivo da Abraceel, Rodrigo Ferreira, essa é uma "janela de oportunidade única" para facilitar a migração dos consumidores industriais e comerciais para o mercado livre, sem sobrecarregar o sistema de distribuição. "É um passo fundamental para dar um 'choque de energia barata' no setor produtivo nacional, em especial para micro, pequenos e médios negócios que, segundo o Sebrae, são responsáveis pela geração de mais de 80% dos novos empregos no Brasil, ano após ano, indicando depois o passo seguinte, que é estender os benefícios do mercado livre para todos os consumidores brasileiros de energia, incluindo os residenciais e rurais", explicou.
Ferreira afirmou que o mercado está pronto para essa discussão. "É importante instituir um cronograma para dar previsibilidade aos órgãos públicos e ao mercado, de forma que todos se preparem com o que é preciso fazer para criar um ambiente com ampla concorrência que entregue benefícios aos consumidores", disse.
Diante do aumento da competitividade para o fornecimento da eletricidade com o mercado livre, o professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Camargo alertou que é preciso ter cautela. "Precisamos aumentar a competição e aumentar a quantidade de consumidores livres. Mas o maior cuidado que precisamos ter é não repassar outros custos para os consumidores cativos, que são aqueles que ainda não têm a opção de escolher seu próprio fornecedor de energia", afirmou.
Segundo Camargo, no longo prazo, o mercado de energia deve ser similar ao mercado de telefonia. "Evidentemente o fio, as linhas de transmissão e as linhas de distribuição são monopolistas. Eu tenho que pagar àquela emissora, distribuidora e pagar pelo fio. Mas é possível negociar a energia, eu posso comprar da usina A, B ou C e é esse passo que estamos dando no sentido da competição de empresas geradoras", ressaltou o engenheiro.