A abertura do mercado japonês à carne bovina brasileira é um dos temas mais esperados pelo Itamaraty para o encontro entre o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta sexta (3/5). Os dois vão se reunir no Palácio do Planalto e assinarão uma série de acordos entre os dois países.
Ao detalhar o encontro, o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo Paes Saboia, explicou que Lula e Kishida vão tratar da relação humana entre as nações, incluindo a comunidade japonesa no Brasil, de ações para a cooperação em industrialização e mudanças climáticas, e do fortalecimento das relações comerciais.
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“O grande objetivo é nós obtermos acesso ao mercado japonês para a nossa carne bovina e ampliação do acesso da carne suína. Por hora, só Santa Catarina está habilitada [para exportar]”, explicou Saboia. “80% da carne bovina importada pelo Japão vem da Austrália e dos Estados Unidos. O Brasil, com sua competência e sua capacidade de fornecer uma mercadoria de alta qualidade de maneira segura e confiável, também quer participar nesse mercado”, emendou.
Também participaram da coletiva o diretor do Departamento de Japão, península coreana e Pacífico do Itamaraty, ministro Paulo Elias Martins de Moraes, e o subchefe da divisão de negociação climática, secretário Davi de Oliveira Paiva Bonavides.
Segundo o embaixador Eduardo Saboia, o Brasil tem condições de competir mesmo pagando cerca de 40% de tarifa, taxa aplicada caso haja a abertura do mercado. Estados Unidos e Austrália pagam taxas menores, e a tendência com o avanço dos acordos comerciais é de redução ainda maior.
Para Saboia, a importação da carna brasileira pode contribuir para a redução da inflação dos alimentos no Japão, que atingiu cerca de 8% no ano passado — alta para os padrões do país. Ele destacou ainda que o produto brasileiro não vai competir com a produção japonesa, já que a carne que será exportada é destinada à produção de alimentos processados.
“O Brasil tem, desde 2005, procurado e feito os procedimentos para abertura do mercado. Hoje, a condição sanitária brasileira é muito melhor, em matéria de reconhecimento de áreas de vacinação, e de áreas livres da febre aftosa sem vacinação. Essa condição precisa ser reconhecida”, comentou o embaixador.
Questionado sobre os motivos para a relutância do Japão em comprar a carne brasileira, Saboia respondeu: “Essa pergunta tem que ser feita para o lado japonês. Espero que haja abertura. Nós estamos prontos”.
Assinatura de acordos
Kishida vem ao Brasil acompanhado de 35 lideranças empresariais do Japão. É a primeira visita de um premiê japonês ao país desde a vinda do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, em 2014. Lula e Kishida se encontraram no ano passado, quando o presidente visitou Hiroshima. O encontro levou à isenção de vistos para viajantes brasileiros ao Japão.
O Itamaraty não detalhou quantos acordos serão assinados, mas citou que os pactos abarcam áreas como a cibersegurança, promoção de negócios e investimentos, startups e inovação, cooperação em agricultura e conservação florestal, e um instrumento voltado para cocriação industrial. O governo japonês também deve oficializar a adesão ao programa brasileiro para proteção e recuperação do Cerrado.
“É uma visita muito bem-vinda. Lembro que o primeiro ministro de Negócios Estrangeiros a visitar o Itamaraty depois da posse de Lula, no ano passado, foi o então ministro [Yoshimasa] Hayashi, em 9 de janeiro do ano passado”, comentou Saboia. “[Lula e Kishida] São dois líderes que têm pontos em comum. Por exemplo, Brasil e Japão aspiram a uma reforma do Conselho de Segurança da ONU. Há valores comuns que são objetos da conversa entre os dois líderes”, acrescentou.
Veja o cronograma previsto para a visita do premiê japonês ao Planalto:
9h30 - Recepção no topo da rampa pelo presidente Lula
10h - Reunião ampliada, com ministros de ambos os países
11h30 - Cerimônia para assinatura de atos
11h40 - Declaração conjunta à imprensa
12h30 - Almoço no Palácio do Itamaraty