A agência de classificação de risco de crédito norte-americana Moody's alterou, nesta quarta-feira (1º), a perspectiva do Brasil de 'estável' para 'positiva'. De acordo com a Moody's, a mudança de avaliação considera uma aparente melhora das perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Segundo ela, essas expectativas são mais robustas do que no período pré-pandemia.
A agência também destacou que a implementação de reformas estruturais em diferentes governos, assim como a presença de barreiras institucionais que reduzem incertezas sobre a direção futura das políticas públicas são responsáveis pela melhora da avaliação do país. Em nota, divulgada ontem, a Moody's frisou que espera um crescimento real de 2% para o PIB em 2024 e 2025.
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"A mudança de perspectiva para positiva tem como base a avaliação da Moody's de que um crescimento mais forte combinado com um progresso contínuo, embora gradual, em direção à consolidação fiscal, pode permitir que o peso da dívida do Brasil se estabilize. No entanto, há riscos para a continuidade da execução da consolidação fiscal pelo governo", avalia, em nota, a agência.
Mesmo com a mudança, a Moody's manteve o rating (classificação) do Brasil em Ba2, dentro do nível de especulação, que é considerado baixo dentro da tabela de classificação. A explicação para a manutenção do país neste patamar se baseia na força fiscal da economia, que ainda é considerada relativamente fraca pela agência, que citou o nível elevado de endividamento e a fraca capacidade de pagamento da dívida.
Ainda no documento, a agência norte-americana elencou alguns pontos que poderiam levar a um aumento da classificação de crédito do país, que está a dois 'degraus' de entrar no nível de Investment Grade (Grau de Investimento), que começa em Baa3. Desde 2016, o Brasil está abaixo desta categoria.
Caso o país tenha êxito em apresentar uma melhora constante do resultado primário e dos deficits fiscais, a credibilidade da política fiscal pode aumentar e, consequentemente, elevar o rating atual. "A continuidade de um crescimento forte do PIB de acordo com as previsões atuais da Moody's apoiaria a capacidade de o governo apresentar uma melhora das métricas fiscais", sustenta.
Repercussão
Após a confirmação da elevação da perspectiva de crédito do Brasil, diversos agentes do governo comemoraram. "O Brasil que estamos construindo voltou a ser respeitado no mundo e voltou a ter credibilidade econômica e ambiental. Isso é bom para todo mundo", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em postagem no X (ex-Twitter).
Na mesma rede, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que a Moody's "acompanhou as outras agências de risco ao reconhecer a mudança para melhor das nossas perspectivas econômicas".
"Isso tem a ver com o trabalho conjunto dos Três Poderes, que colocaram os interesses do país acima de divergências superáveis. Mesmo com a deterioração momentânea da economia global, o Brasil caminha e recupera credibilidade econômica, social e ambiental. Temos muito a fazer", escreveu o chefe da Fazenda.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também utilizou a mesma rede social para comentar que a agência reconhece os "avanços econômicos e as reformas em curso". "Vamos continuar trabalhando para recuperar o grau de investimento, unindo esforços do governo, Congresso e Judiciário para superar desafios orçamentários e impulsionar nossa economia", pontuou.
Pé no chão
A reavaliação da perspectiva de crédito brasileira não era muito esperada entre os analistas do mercado financeiro. Para o sócio e economista-chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, mesmo com avanços relacionados ao emprego, à renda média e à dívida das famílias, há uma piora nas projeções de Dívida/PIB, que, segundo as expectativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) deve subir até 2027, quando alcançará 79,7%. No ano passado, essa relação ficou em 74,3%.
"Também tivemos uma alteração da meta de superavit primário, onde, esse ano, ficou claro que não teremos o tão esperado deficit zero agora para 2024. Isso foi adiado para 2025, ou seja, o governo não consegue controlar o ímpeto de gastar e de manter uma política expansionista", analisa o economista.
Apesar disso, não será a primeira vez no governo atual em que uma das grandes agências de classificação de risco eleva a nota de crédito do Brasil, caso a Moody's também decida elevar o rating do país. Em julho do ano passado, a Fitch Ratings aumentou a nota do país de BB- para BB e, em dezembro, foi a vez da S&P Global Ratings alterar a classificação do Brasil de BB- para BB.
Na avaliação do economista-chefe da Ecoagro, Antônio da Luz, cabe ao Brasil não "sair da rota" de crescimento para alcançar o tão desejado grau de investimento. "As agências têm uma visão de longo prazo e, por conta disso, valorizam muito as reformas que apontam para a prosperidade. Fizemos algumas boas reformas nos últimos oito anos, o que sugere que outras podem também reavaliar positivamente nossa nota", considera.
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