O mercado financeiro reagiu de forma bastante negativa à decisão dividida dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reduzir a taxa básica da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano. As apostas para a Selic no fim do ano voltaram a ser revisadas para cima e alguns analistas não descartam as chances de que os juros básicos continuem em 10% ou mais até dezembro.Na última reunião do Copom,entre os nove diretores do BC,prevaleceu a posição da ala ortodoxa e mais cautelosa na condução do ciclo de afrouxamento dos juros básicos. Contudo, a divisão entre os cinco indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaroe os quatro nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, fez analistas acreditarem que, a partir de 2025, o BC será mais leniente com a inflação e mais frouxo às pressões políticas, como ocorreu na gestão de Alexandre Tombini,na gestão de Dilma. Ele atendeu ao governo da petista e fez o BC baixar os juros quando era preciso subir, para controlar a inflação que, em 2015, estourou o teto da meta, de 6,5%, pela primeira vez desde 2003.Não à toa, ontem, os juros futuros voltaram a subir, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão no vermelho (-1%)— na contramão das bolsas internacionais — e o dólar voltou a subir (+1%) em relação ao real,refletindo o aumento da desconfiança dos investidores.
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Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita que o atual governo está “gradativamente” caminhando para a volta dos erros da gestão de Dilma e caminha para não cumprir nem a meta fiscal e, muito menos, a de inflação. “O governo conseguiu fugir das metas que criou. Mas isso eram favas contadas. Não deveria ser novidade”, frisou.
Na avaliação do economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, o mercado ainda está refazendo as projeções. Para ele, a Selic encerrará o ano em dois dígitos. “Nós, da Tendências, havíamos mudado o nosso cenário e, antes da decisão do Copom, passamos a prever a Selic em 10% no fim deste ano”, destacou Nóbrega. Segundo ele, os departamentos econômicos dos bancos, das consultorias e de outras organizações devem voltar a prever juros de dois dígitos no fim deste ano. O ex-ministro apontou que um dos motivos para essa piora nas projeções foi a mudança da meta fiscal no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, no mês passado.
“O dia ficou muito baseado na decisão do Copom, porque o mercado externo ficou positivo e o dólar se desvalorizou contra a maioria das moedas. Então, realmente, o Brasil teve um dia de mercado reagindo a um fator doméstico, principalmente porque operadores de mercados e economistas entraram numa discussão muito grande sobre o que significa essa divergência nessa divisão do Copom”, destacou Gustavo Cruz,estrategista-chefe da RB Investimentos. “Boa parte dos operadores ficou bem irritada, entendo que isso mostra um risco fiscal extremamente elevado a longo prazo, mas entenderam também que isso pode ser um fator de desvalorização da moeda”, explicou ele,lembrando que a curva de juros voltou a subir e isso pode piorara atratividade das ações na Bolsa em 2025 e em 2026.
Nova direção
Neste ano, Lula poderá escolher o nome de três novos diretores do Banco Central, inclusive o do substituto do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. O mandato dele, e os da diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, Carolina Barros, e do diretor de Regulação, Otávio Damaso, terminarão em dezembro deste ano. E, com isso, os escolhidos pelo petista serão maioria a partir de 2025.
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