Enquanto, em março deste ano, o Parlamento da União Europeia definiu um arcabouço legal sobre o uso da inteligência artificial, o tema ainda gera polêmica no Brasil, onde a regulamentação do tema ainda engatinha no Congresso Nacional. E, nesse processo, Priscila Solis, professora do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), ressalta a importância dos investimentos na área e faz um alerta aos legisladores para não acabar criando regras que travem a evolução da tecnologia no país.
“A regulação tem que pensar como não frear a inovação, porque ela tem que ser uma preocupação na mente de quem discute os marcos regulatórios”, afirmou Solis, nesta terça-feira (30/4), no Correio Debate — Inteligência Artificial e as novas tecnologias: os impactos no mercado brasileiro, realizado pelo Correio Braziliense em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Temos a necessidade de fazer investimento forte em linhas de pesquisa e ver que o marco regulatório não pode inibir a inovação da inteligência artificial”, frisou ela, reconhecendo que é importante evitar abusos no uso dessa tecnologia, que pode ser uma importante aliada na evolução dos seres humanos.
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A pesquisadora lembrou que a inteligência artificial não é uma novidade, pois o primeiro neurônio foi proposto em 1959, mas, somente depois de 2012, a tecnologia começou a evoluir de forma mais profunda. E, agora, com inteligência artificial generativa, os avanços aceleraram. “Mas o fato é que muitas dessas soluções precisam de inovação, liberdade de troca de experiência e liberdade de troca de dados”, disse.
Solis é coordenadora de um projeto da UnB em parceria com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal para monitoramento de queimadas na capital federal, o Sem Fogo DF, que vem apresentando resultados apesar de um investimento modesto, de R$ 700 mil, incluindo treinamento que, em alguns sistemas das big techs norte-americanas chegam a receber US$ 100 milhões.
De acordo com a professora, o sistema Sem Fogo DF utiliza 18 câmeras fixas, mas está em vias de ser ampliado, incluindo drones para o monitoramento também do entorno da capital federal. Os equipamentos para o processamento, inclusive, são os mesmos de um outro projeto coordenado por Solis na UnB. Ao todo, sete pessoas, incluindo ela, trabalham no projeto. “O sistema já é capaz de identificar fumaça em uma imagem de uma das câmeras, em tempo real e de forma mais rápida do que uma pessoa. E esse tipo de trabalho já tem economizado esforços dos bombeiros, porque não precisam mais se deslocar com uma ligação que pode ser alarme falso”, contou Solis.
A acadêmica informou ainda que os códigos para o desenvolvimento da plataforma para o reconhecimento de fogo no bioma do cerrado foram escritos com ajuda de programas gratuitos no mercado e são capazes de identificar de forma mais rápida e segura focos de incêndio e, rapidamente, comunicar com o Corpo de Bombeiros. “Os modelos utilizados foram desenvolvidos em outras universidades e são públicos. E grande parte da evolução da inteligência artificial tem ocorrido dessa forma. Quem pegar os códigos tem como incluir dados próprios para fazer com que o sistema seja intuitivo”, explicou.
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