Há décadas, a ficção científica apresenta um futuro apocalíptico, onde robôs super tecnológicos travam uma guerra contra os seres humanos. No entanto, com a inteligência artificial já inserida na sociedade e avançando rapidamente, fica cada vez mais claro que a tarefa de entender o futuro é mais complexa do que imaginaram os grandes diretores de Hollywood. O professor Marcelo Minutti, mentor e pesquisador das áreas de inovação, liderança, futuro dos negócios e tecnologias emergentes no INSPER e IBMEC, passou os últimos 15 anos tentando entender este cenário.
No entanto, ele destaca que a tarefa mais segura no momento é se preparar para o improvável, ou seja, desenhar cenários, avaliar possibilidades e ficarmos prontos para tudo o que acontecer, mesmo o que parece ser mais remoto. Evidentemente ele não está falando da revolução das máquinas, mas sim das transformações que a inteligência artificial deve gerar no mercado de trabalho, na educação, na saúde e até mesmo na administração das empresas. As declarações ocorreram no CB.Debate: Inteligência Artificial e as Novas Tecnologias, promovido pelo Correio Braziliense.
“É um tema que está quente no momento. Nos últimos 15 anos tenho dedicado minhas pesquisas acadêmicas à disrupção, processos disruptivos. Nos últimos anos eu direcionei meus estudos no impacto do comportamento de líderes e empreendedores, explica ele. “A disrupção é o apontamento de algo que pode acontecer. Muitas vezes os dados apontam para o futuro, mas nem sempre se concretizam. Todo processo disruptivo é raramente previsível. A vida está cada vez mais complexa. Tem muitas realidades que não controlamos, não enxergamos. Inclusive influenciam o futuro de forma invisível”, completa Marcelo.
Para o especialista, a humanidade tende a tentar simplificar assuntos complexos, mas este não é o caminho mais seguro. “A tentativa de simplificar para controlar é apenas uma abstração humana. Na prática, a vida é complexa e tudo se interage. Tentar prever analisando os pedaços, normalmente não chega lá”, ressalta.
Marcelo explica que grandes empresas de tecnologia têm ferramentas de última geração, mas que ainda assim não podem realizar previsões sem risco de erro. “Temos grandes empresas de internet que trabalham com volumes insanos de dados. E vira e mexe elas estão descontinuando produtos que não dão certo. Uma empresa que sabe o que as pessoas buscam, o que procuram, ela acertaria qualquer produto. Mas vira e mexe, lançam, recolhem. Os dados são ótimos para dizer o que está acontecendo e não o como e o porque. E o porque, na IA, é super importante”, disse.
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Ele destaca a necessidade de se avaliar cenários. “A gente não sabe o que vai acontecer com IA nos próximos anos. Temos alguns cenários super pessimistas. Se desenvolve vários cenários e se prepara com repertório para lidar com esses vários cenários”, afirmou.
O pesquisador aponta a necessidade de rever sistemas de aprendizagem, focar na capacidade de cognição dos alunos e trabalhadores e não deixar apenas com as máquinas a tarefa de pensar. “A discussão não é só vamos preparar nossos professores, trabalhos, os próprios empresários. O importante é repensar toda a estrutura de aprendizagem. A gente forma especialistas. Todos os nossos fluxos, todos os programas governamentais é para preparar o cidadão para ser mais especialista. Não estamos criando cidadãos para fazer correlação sobre temas diferentes. O ambiente americano está cheio de problemas por causa dessa superespecialização. O que está melhor preparado no momento é o sistema europeu”, finalizou.
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