O ataque do Irã a Israel no fim de semana levantou preocupações sobre os efeitos econômicos de uma guerra no Oriente Médio. A região reúne países que estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo, como o próprio Irã, e o conflito pode prejudicar o fornecimento global de combustíveis, com efeitos até no Brasil.
Especialistas ouvidos pelo Correio destacam que o impacto do ataque no preço do petróleo foi tímido. A expectativa é que o barril do petróleo cru (Brent) chegasse a US$ 100 na segunda-feira (15/4), o que não ocorreu. A commodity opera em baixa desde a abertura do mercado, e estava a US$ 90 no final da tarde desta terça (16). O cenário, porém, pode mudar.
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"Se Israel revidar e o Irã entrar no conflito de forma agressiva, aí sim teremos um aumento no preço. Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque, temos vários grandes produtores de petróleo que ficarão com a produção praticamente represada. O estreito de Ormuz escoa 30% de todo o consumo do mundo", avalia o advogado e economista Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O temor é uma repetição do que ocorreu no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando o barril saltou para US$ 130. No Brasil, os preços dos combustíveis dispararam, o que pressionou também a inflação. Apesar de o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ter anunciado que estuda formas de mitigar o impacto de uma possível guerra entre Irã e Israel, Azzoni vê poucas opções.
"É muito difícil tentar prevenir, porque são fatores externos. Não temos ainda uma produção de combustível para isso, como os Estados Unidos têm as reservas no Texas. Eles podem ser menos afetados do que nós", afirma.
Estabilidade frágil
O analista de Política Internacional da BMJ Consultores Associados Vito Villar também alerta que os impactos podem ser significativos, com a falta de reservas e de autossuficiência do Brasil. Ele destaca que, apesar de não ter ocorrido um impacto no petróleo após o ataque, os preços já haviam subido nas últimas semanas em expectativa à reação do Irã após bombardeio de embaixada do país no Líbano, por Israel.
"As consequências foram menores do que o esperado. Combinado com o relativo silêncio de Israel em relação a uma nova retaliação, o preço do barril de petróleo manteve-se estável após atingir a maior alta em seis meses. Embora ainda esteja em níveis elevados, a estabilidade do barril é uma resposta do setor à relativa calmaria na região, no momento", conta Villar.
Porém, o analista acredita que a estabilidade atual é frágil. Israel, por exemplo, prometeu publicamente que responderá ao Irã, o que pode levar a uma nova escalada. Ele pontua ainda as decisões que o governo deve tomar para tentar conter o aumento dos preços.
"Políticas como a redução do ICMS estadual e intervenções diretas na política de preços da Petrobras são estratégias frequentemente utilizadas pelos governantes para minimizar o impacto inflacionário na economia brasileira", explica.
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