Trabalho

Geração de emprego supera a expectativa do mercado

Criação de mais de 300 mil vagas com carteira assinada no mês passado surpreende projeções de analistas e confirma otimismo do governo. Saldo é o melhor desde fevereiro de 2022 e representa aumento de 81% em relação a janeiro

O mercado de trabalho formal segue robusto e surpreendendo o mercado, para a alegria do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), divulgados nesta quarta-feira (27/3), foram criadas 306,1 mil vagas com carteira assinada em fevereiro deste ano, dado 81,7% acima do saldo de janeiro, de 168,5 mil. Em comparação às 252,5 mil vagas criadas no mesmo mês de 2023, o crescimento foi de 21,2%.

Esse saldo positivo é o melhor para o mês desde fevereiro de 2022, mas ainda está abaixo do pico para o segundo mês de 2021, de 397,9 mil. Esse resultado é a diferença entre as admissões e os desligamentos, que somaram, respectivamente, 2.249.070 e 1.942.959. Com isso, o estoque de trabalhadores com carteira assinada chegou a 45,9 milhões, mesmo patamar de novembro de 2023, considerando a nova metodologia do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do MTE, de 2019.

 

 

Os dados de fevereiro ficaram bem acima das projeções do mercado. "O resultado de fevereiro confirma a robustez do mercado de trabalho formal; recorde nas admissões e nos desligamentos a pedido", destacou Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.

Ele contou que as previsões da LCA eram de 185 mil novas vagas, e a mediana do mercado estava em torno de 230 mil. Ele lembrou que o setor de serviços foi responsável por 63% das vagas criadas em fevereiro. Esse segmento, o que mais emprega no país, respondeu por 258,9 mil novos cargos no primeiro bimestre do ano: 56,4% das 476,6 mil vagas criadas de janeiro a fevereiro. O comércio seguiu na direção oposta e registrou fechamento líquido de 21.824 vagas no mesmo período.

Salário cai

De acordo com o analista da LCA, a nova metodologia do Caged é mais abrangente, "capturando mais informações, contribuindo para um número mais elevado de dados". "O indicador serve, de alguma maneira, para mostrar o grau de aquecimento do mercado de trabalho, pois se imagina que boa parte dessas pessoas esteja se desligando para se admitir em outros lugares (há maior oferta de vagas) — o resultado recorde reforça essa percepção", explicou.

Conforme os dados do Caged, o salário médio real de admissão foi de R$ 2.082 em fevereiro — queda de 2,4% em relação a janeiro, mas alta de 1,4% na comparação com o mesmo mês de 2023. Na avaliação de Imaizumi, o resultado do Caged no primeiro bimestre sinaliza "um cenário de mercado de trabalho mais resiliente do que o esperado". Ele contou que a consultoria revisou de 1,2 milhão para 1,5 milhão a projeção para o número de vagas criadas neste ano.

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, também reconheceu que o dado do Caged veio acima do consenso do mercado, em torno de 235 mil vagas , e acima das projeções da XP, de 161 mil novas ocupações com cartira assinada. Apesar do crescimento interanual da massa salarial, Margato afirmou que os números são compatíveis com o cenário de mercado de trabalho apertado, "mas não necessariamente superaquecido". Ele também ressaltou que o setor de serviços, mais uma vez, foi o destaque dos dados do Caged.

"Em linhas gerais, o mercado de trabalho formal continua a surpreender positivamente e deve impulsionar a demanda doméstica. O firme crescimento do emprego e dos salários reais são os principais fatores por trás da nossa projeção de expansão de 2,5% para o consumo das famílias neste ano", destacou. Segundo ele, a corretora projeta a criação líquida de 1,45 milhão de empregos formais neste ano.

"Vão errar novamente"

Ao apresentar os dados do Caged, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o presidente Lula ficou "muito feliz com esse número e nós também". "Esperamos que, em março, venha reforçar mais essa tendência positiva", disse Marinho, ontem, na apresentação dos dados do Caged. Segundo ele, para este ano, a expectativa do governo é que — não apenas pelos investimentos dos programas do governo, como o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) e os investimentos anunciados do setor automotivo — devem se criadas mais vagas do que no ano passado, que registrou 1,5 milhão de novos empregos formais, podendo chegar a 2 milhões. "O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,9% no ano passado e os analistas previam, no início do ano, 0,5% (de alta). Neste ano, especialistas estão levando em consideração um crescimento de 1,5% a 1,7%. O presidente Lula brincou e disse que os economistas vão errar de novo", afirmou.

Conforme os dados do Caged, o número de vagas criadas em fevereiro é o maior para o mês desde 2022, mas abaixo dos 397,9 mil novos cargos criados no segundo mês de 2021. "Esse é o resultado que estamos começando a colher, porque os frutos estão amadurecendo", afirmou Marinho, que mandou um recado para o Banco Central cortar mais os juros, apesar de o mercado de trabalho estar mais aquecido do que o esperado.

Juros altos

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, reduziu a taxa básica da economia (Selic) em mais 0,5 ponto percentual (para 10,75% ao ano), mas sinalizou que poderá reduzir o ritmo de cortes a partir de junho, em grande parte, porque o mercado de trabalho está com um desempenho melhor, e isso pode gerar pressões inflacionárias, especialmente, no setor de serviços, que é o que mais pesa na economia e o que mais emprega. "Queria chamar a atenção do Banco Central porque os juros estão um absurdo e o BC não precisa ficar preocupado, porque o mercado de trabalho vem mais forte. O cuidado que eles têm que ter é continuar reduzindo a taxa de juros, porque o Brasil continua com a segunda maior taxa (de juros reais, descontada da inflação) do mundo. Os juros estão altos e é preciso continuar com a redução para a economia continuar crescendo", disse Marinho.

Ele reconheceu, contudo, que o aumento da massa salarial não vem ocorrendo por meio de crescimento da produtividade. Para isso, ainda é preciso que as empresas invistam mais na melhoria das máquinas. "As empresas precisam reformular as máquinas que, eventualmente, estão obsoletas para aumentar a produtividade. E, para isso, convido o Banco Central a aumentar mais esse debate, e não (se ater a) uma simples constatação de números globais. É preciso dar uma aprofundada em cada setor para poder falar sobre essa questão da produtividade", disse o ministro.

 

 

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