INFRAESTRUTURA

Tempo que o brasileiro fica sem energia está em queda, diz Aneel

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica indicam que o brasileiro ficou quase 10 horas e meia sem luz no ano passado, uma redução de 6,9% em comparação com 2022

Os consumidores brasileiros ficaram, em média, 10,43 horas sem energia durante interrupções de fornecimento em 2023. Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a duração dos blecautes é a menor em 15 anos. O dado representa uma queda de 6,9% em comparação a 2022, quando a soma do tempo sem luz chegou a 11,2 horas.

Segundo a agência, houve melhora na qualidade de prestação do serviço. A frequência (FEC) das interrupções se manteve em trajetória decrescente, reduzindo de 5,47 interrupções em 2022 para 5,24 interrupções em média por consumidor no ano passado, o que significa uma melhora de 4,2% no período.

Duas grandes interrupções marcaram 2023. Em agosto, erros em dados usados para funcionamento de usinas geradoras causaram corte de energia em 25 unidadas da Federação e no Distrito Federal. O evento começou em uma linha de transmissão entre Quixadá e Fortaleza, no Ceará, que pertence à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), uma subsidiária da Eletrobras. Roraima foi a única unidade federativa não atingida pelo episódio porque o estado é isolado e não faz parte do sistema integrado nacional.

Em novembro, mais de 2 milhões de pessoas foram prejudicadas por um apagão na grande São Paulo. Embora a maioria das regiões atingidas tenha passado 72 horas no escuro, alguns locais chegaram a ficar quase uma semana sem energia. O episódio teve início com uma forte tempestade que atingiu o estado, com rajadas de vento de mais 100km/h, que provocaram a queda de centenas de árvores e diversos alagamentos. Segundo a Enel, principal distribuidora que atua na região, a força dos ventos danificou a rede de distribuição, quebrou centenas de postes, derrubou transformadores e rompeu cabos elétricos.

A frequência de interrupções e a duração vêm caindo, sucessivamente, desde 2015. No entanto, os dois episódios acenderam alerta para fragilidades no sistema elétrico brasileiro. Em tempos de mudanças climáticas, o assessor político para o tema de Energia do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Cássio Cardoso, afirmou que os efeitos, que já são devastadores, tendem a ser agravados. "O setor não consegue atender à demanda devido, principalmente, à falta de mão de obra e investimentos na infraestrutura", avaliou Cardoso, a exemplo do que aconteceu em São Paulo.

Compensação

Os valores de compensação, que são pagos pelas distribuidoras aos consumidores que sofreram níveis altos de interrupção no fornecimento de energia, registraram alta no último ano, passando de R$ 765 milhões em 2022 para R$ 1,08 bilhão em 2023. A compensação é paga automaticamente por meio de descontos na conta de luz, sem que haja a necessidade de que o consumidor acione a distribuidora.

"O valor de compensações pagas aos consumidores aumentou sensivelmente no ano passado, fruto do trabalho de regulação da agência que aperfeiçoou as regras de compensação para direcionar maiores valores para os consumidores com piores níveis de continuidade", destacou a Aneel, em nota.

A quantidade de compensações também aumentou, de 20 milhões para 22 milhões. A agência destacou que a forte redução na quantidade de compensações de 2021 para 2022 ocorreu em virtude de mudança na regulação sobre o tema, com o objetivo de direcionar maiores valores para os consumidores com piores níveis de continuidade. Assim, o valor de compensação pago individualmente aumentou, em média, cerca de quatro vezes.

Ranking do serviço

A Aneel avaliou o desempenho de todas as concessionárias de energia no Brasil por meio do Desempenho Global de Continuidade (DGC). Entre as distribuidoras de grande porte, as com pior avaliação foram a Equatorial GO, em Goiás, na 29º posição, a CEEE, braço da Equatorial no Rio Grande do Sul, em 28º, e a Neoenergia Brasília, em 27º lugar.

A Aneel avalia o desempenho das distribuidoras de energia de acordo com dois critérios: o indicador de Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC), que mede o tempo médio que cada unidade consumidora, como casas e comércios, ficou sem energia elétrica, e a Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC), número médio de interrupções ocorridas. Cada distribuidora tem uma meta individual para esses indicadores.

A concessionária que atua no Distrito Federal caiu uma posição em relação ao ranking de 2022. Em nota enviada ao Correio, a Neoenergia Brasília afirmou que a classificação "não se trata de um índice da empresa que tem a melhor qualidade em nível nacional". Segundo a concessionária, a qualidade do fornecimento percebida pelos consumidores do DF é melhor do que a dos clientes de outras distribuidoras mais bem posicionadas no ranking. "Isso é evidenciado quando observamos a quantidade de tempo que o brasileiro ficou sem energia (aproximadamente 12 horas) e comparamos com a quantidade de tempo que o brasiliense ficou sem energia (6,87 horas) no último ano", destacou a empresa.

Entre as concessionárias que atendem a mais de 400 mil unidades consumidoras, a mais bem avaliada pela Aneel foi a CPFL (Companhia Jaguari de Energia) Santa Cruz, que opera no interior de São Paulo. Em seguida, estão a Equatorial PA (Pará) e Cosern, braço da Neoenergia no Rio Grande do Norte.

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