Indicadores econômicos

Por risco de inflação, Copom indica freio na queda dos juros

Com risco de alta da inflação pelo aquecimento do emprego, autoridade monetária prevê apenas mais um corte de meio ponto percentual em maio

Com o mercado de trabalho aquecido, o BC teme pressão na inflação e cobra respeito às metas fiscais -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Com o mercado de trabalho aquecido, o BC teme pressão na inflação e cobra respeito às metas fiscais - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Em ata divulgada ontem, o Banco Central (BC) reforçou o comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 19 e 20 deste mês, de que vai reduzir o ritmo de cortes da taxa básica da economia (Selic). A taxa atual está em 10,75% ao ano, após o comitê aprovar a redução de mais meio ponto percentual. De acordo com analistas, maior preocupação com o mercado de trabalho também ajudou a acender o alerta na condução da política monetária.

No documento de oito páginas foi retirado o "forward guidance" (sinalização futura) para as próximas reuniões devido ao aumento das incertezas, sinalizando a redução do ritmo de corte dos juros. O texto voltou a apontar a expectativa de manutenção do ritmo de corte apenas para a próxima reunião, em maio, no singular. A ata destaca a maior atenção da autoridade monetária com a disciplina fiscal e o zelo com as contas pública.

 

 

"O cenário mais incerto reduz o benefício da sinalização futura e eleva seus custos. Tal avaliação levou o Comitê a comunicar que antecipava uma redução de mesma magnitude na próxima reunião, reforçando que a alteração na comunicação se dava por uma mudança na incerteza, e não no cenário-base", destacou o texto da ata, acrescentando que tal alteração "reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária". Ao justificar essa mudança, o colegiado reforçou que "seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base".

Segundo o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, a ata do Copom "veio em linha com o esperado" e as principais incertezas estão relacionadas com o cenário externo e a economia mais resiliente dos Estados Unidos. Internamente, o mercado de trabalho mais aquecido ajuda a pressionar a inflação de serviços. "O Banco Central mostrou-se extremamente preocupado com mercado de trabalho. O preponderante para ter tirado o plural na sinalização para reuniões futuras de um viés de desaceleração do ritmo foi o mercado de trabalho mais apertado", destacou.

Leal aposta em queda de 0,25 ponto percentual para os cortes da Selic a partir de junho e, para o fim do ano, estima que os juros terminarão em 9% anuais. "O corte de 0,25 ponto percentual em julho está certo, mas a Selic em 9% depende, claramente, dos dados de inflação de serviços e, principalmente, do mercado de trabalho. É o que vai determinar a política monetária nos próximos meses", explicou.

Com relação ao cenário fiscal, o Copom ressaltou na ata a importância da execução das metas "já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária". "O comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", frisou.

O Copom também demonstrou preocupação com o cenário externo, mais volátil, "marcado pelos debates sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países". Além dos conflitos geopolíticos, "a velocidade da desinflação em um cenário de atividade forte e mercado de trabalho resiliente voltou a ser tema de grande debate", de acordo com o documento.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avaliou que, diante de tantos riscos domésticos e externos, o BC acendeu o alerta amarelo. "A incerteza deverá fazer com que o banco termine o ciclo de queda em 9,25%, e quem imaginava a Selic muito mais baixa poderá ter que revisar as projeções. De qualquer maneira, esse é o prenúncio de um segundo semestre muito mais tumultuado na política monetária: fim de ciclo de queda, troca de presidente do Banco Central e de mais dois diretores. Saberemos desse novo BC mais à esquerda que surge apenas lá na frente, quando for necessário subir a Selic novamente. Por ora, apesar dos riscos, o cenário não é de preocupação", explicou.

Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, o principal destaque da ata do Copom de março é a explicitação de que o cenário de maior incerteza quanto ao processo desinflacionário local e global requer maior flexibilidade para a condução da política monetária. "Nesse sentido, apesar de o cenário-base não ter se alterado substancialmente, a avaliação unânime do Comitê é de uma redução do benefício da sinalização futura e de elevação de seus custos", destacou.

 

 

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postado em 27/03/2024 03:55
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