Em ata divulgada ontem, o Banco Central (BC) reforçou o comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 19 e 20 deste mês, de que vai reduzir o ritmo de cortes da taxa básica da economia (Selic). A taxa atual está em 10,75% ao ano, após o comitê aprovar a redução de mais meio ponto percentual. De acordo com analistas, maior preocupação com o mercado de trabalho também ajudou a acender o alerta na condução da política monetária.
No documento de oito páginas foi retirado o "forward guidance" (sinalização futura) para as próximas reuniões devido ao aumento das incertezas, sinalizando a redução do ritmo de corte dos juros. O texto voltou a apontar a expectativa de manutenção do ritmo de corte apenas para a próxima reunião, em maio, no singular. A ata destaca a maior atenção da autoridade monetária com a disciplina fiscal e o zelo com as contas pública.
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"O cenário mais incerto reduz o benefício da sinalização futura e eleva seus custos. Tal avaliação levou o Comitê a comunicar que antecipava uma redução de mesma magnitude na próxima reunião, reforçando que a alteração na comunicação se dava por uma mudança na incerteza, e não no cenário-base", destacou o texto da ata, acrescentando que tal alteração "reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária". Ao justificar essa mudança, o colegiado reforçou que "seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base".
Segundo o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, a ata do Copom "veio em linha com o esperado" e as principais incertezas estão relacionadas com o cenário externo e a economia mais resiliente dos Estados Unidos. Internamente, o mercado de trabalho mais aquecido ajuda a pressionar a inflação de serviços. "O Banco Central mostrou-se extremamente preocupado com mercado de trabalho. O preponderante para ter tirado o plural na sinalização para reuniões futuras de um viés de desaceleração do ritmo foi o mercado de trabalho mais apertado", destacou.
Leal aposta em queda de 0,25 ponto percentual para os cortes da Selic a partir de junho e, para o fim do ano, estima que os juros terminarão em 9% anuais. "O corte de 0,25 ponto percentual em julho está certo, mas a Selic em 9% depende, claramente, dos dados de inflação de serviços e, principalmente, do mercado de trabalho. É o que vai determinar a política monetária nos próximos meses", explicou.
Com relação ao cenário fiscal, o Copom ressaltou na ata a importância da execução das metas "já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária". "O comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", frisou.
O Copom também demonstrou preocupação com o cenário externo, mais volátil, "marcado pelos debates sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países". Além dos conflitos geopolíticos, "a velocidade da desinflação em um cenário de atividade forte e mercado de trabalho resiliente voltou a ser tema de grande debate", de acordo com o documento.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avaliou que, diante de tantos riscos domésticos e externos, o BC acendeu o alerta amarelo. "A incerteza deverá fazer com que o banco termine o ciclo de queda em 9,25%, e quem imaginava a Selic muito mais baixa poderá ter que revisar as projeções. De qualquer maneira, esse é o prenúncio de um segundo semestre muito mais tumultuado na política monetária: fim de ciclo de queda, troca de presidente do Banco Central e de mais dois diretores. Saberemos desse novo BC mais à esquerda que surge apenas lá na frente, quando for necessário subir a Selic novamente. Por ora, apesar dos riscos, o cenário não é de preocupação", explicou.
Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, o principal destaque da ata do Copom de março é a explicitação de que o cenário de maior incerteza quanto ao processo desinflacionário local e global requer maior flexibilidade para a condução da política monetária. "Nesse sentido, apesar de o cenário-base não ter se alterado substancialmente, a avaliação unânime do Comitê é de uma redução do benefício da sinalização futura e de elevação de seus custos", destacou.
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