O ano letivo começou nas escolas da rede estadual de São Paulo com algumas novidades na grade curricular, entre elas, a inclusão do ensino de educação financeira. A obrigatoriedade passa a valer para os anos finais do ensino fundamental 2 (6° a 9° ano) e das três séries do ensino médio. A medida faz parte da reformulação do ensino médio promovido pela Secretaria de Educação (Seduc-SP) para 2024 e de uma ação nacional do Ministério da Educação (MEC), que deve chegar às escolas de todo o país em breve.
Para a educadora financeira Aline Soaper, o aprendizado financeiro ainda na infância é uma ferramenta de transformação que minimiza o problema crônico de endividamento dos brasileiros. "As crianças e os adolescentes precisam ser preparados para lidar com os desafios da vida, e a administração do próprio dinheiro é o primeiro deles. Um adulto despreparado para lidar com os seus recursos sofre por anos com escolhas erradas, endividamento, ansiedade e até problemas relacionados à vida profissional e relacionamentos", explicou.
Aline Soape ressalta que as escolas precisam incluir uma educação financeira contextualizada. "Ou seja, que não seja um ensino apenas teórico, mas prático também. É necessário oferecer também recursos para que elas cresçam preparadas para enfrentar o desafio de gerar e gerir o próprio dinheiro", diz.
A nova medida na grade escolar segue a mesma linhas de ação do Banco Central, que acabou de determinar que as instituições financeiras promovam ações de educação financeira a seus clientes, em 2024. O objetivo é conscientizar sobre a importância da melhora da saúde financeira de toda a população.
"A iniciativa é importante para que a sociedade tenha acesso a esse conhecimento, mas é preciso lembrar que o banco vende produtos financeiros, por isso, o viés será sempre de uma promoção que incentiva a compra de produtos desse banco. Os consumidores podem se beneficiar de tais conteúdos, mas não podem terceirizar suas escolhas", aponta a educadora financeira. Segundo Aline, é preciso que busquem conhecimento também em canais independentes para ter diferentes perspectivas sobre o assunto antes de tomar uma decisão que reflete em todas as áreas da vida.
Nome sujo
As duas normas fazem parte de uma série de decisões do governo para diminuir o endividamento das famílias brasileiras. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostraram que o país tinha 66,57 milhões de consumidores inadimplentes em novembro, uma alta de 3,55% em comparação com 2022. O crescimento foi de 0,54% em relação a outubro de 2023.
Entre os brasileiros adultos, 40,65% estavam negativados no 11º mês de 2023. Entre o recorte por gênero, as dívidas avançaram entre o público feminino, sendo 51,13% mulheres contra 48,87% homens. Ainda segundo o levantamento, o número de devedores com participação mais expressiva em novembro está na faixa etária de 30 a 39 anos (23,75%). São 16,54 milhões de pessoas registradas em cadastro de devedores nesta faixa, ou seja, quase metade (48,54%) dos brasileiros desse grupo etário estão negativados.
A especialista em educação financeira Marcela Gaiato Martins, diretora da Recovery, pontuou que um dos motivos mais comuns de endividamento da população brasileira é a falta de educação financeira. "Hoje, muito se fala em educação financeira, que nada mais é do que aprender a lidar com o dinheiro de maneira equilibrada, pensando nos compromissos que temos e nas coisas que queremos construir ao longo da vida", explica.
"A educação financeira envolve o conhecimento sobre como gerir o dinheiro de forma eficaz e como tomar decisões financeiras alinhadas aos nossos objetivos no dia a dia. Esse é o caminho para quitar dívidas, planejar conquistas, formar uma reserva financeira que nos proteja de imprevistos e, aos poucos, ir criando um patrimônio", afirma Martins.
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