O enfraquecimento da demanda no segundo semestre do ano foi confirmado nos dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de dezembro divulgada nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A PMS encerra a grade de indicadores preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, que será divulgado no dia 1º de março. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado e pode confirmar as previsões mais conservadoras, para um crescimento abaixo de 3%.
Conforme os dados do órgão ligado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, o crescimento do volume de serviços prestados no país desacelerou de 0,9% para 0,4% entre novembro e dezembro, na série com ajuste sazonal. Como o indicador de novembro foi revisado para cima - antes era 0,4% -, isso aumenta a perda de dinamismo da atividade do segmento, que é um importante motor da atividade econômica do país.
O setor de serviços é o que mais emprega e tem maior peso no PIB, em torno de 70%. A taxa acumulada nos 12 meses de 2023 registrou alta de 2,3%, abaixo dos 3,1% registrados nos 12 meses encerrados em novembro. Essa desaceleração não deixa de ser preocupante, pois mostra uma tendência de desaceleração para 2024.
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De acordo com a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), essa perda de dinamismo do setor de serviços foi mais intensa no segundo semestre de 2023 e deverá ter continuidade ao longo de 2024. Em 2022, o segmento de serviços teve uma forte recuperação e esse bom desempenho deixou um carrego estatístico de 4,5%, pelas contas dela, para o PIB de serviços no ano passado.
Isso quer dizer que, mesmo se não houvesse crescimento nos quatro trimestres de 2023, a PMS deveria registrar alta de 4,5% no fim do ano passado. Só que, como o dado acumulado do ano foi de 2,3%, significa que, se não fosse o carrego estatístico, haveria queda em serviços e, consequentemente, no PIB.
"O desempenho do setor de serviços foi bastante heterogêneo em 2023, com a agricultura puxando o PIB e os serviços no primeiro semestre e, no fim do ano passado, e a indústria extrativista ajudando a evitar uma queda no último trimestre do ano", explicou Silvia Matos. Diante dos resultados preliminares dos indicadores do IBGE, ela acredita que as previsões do Ibre devem se confirmar e o PIB do quarto trimestre de 2023 deverá ficar estável e, no acumulado do ano, o PIB deverá encerrar com alta de 2,9%.
Conforme os dados do IBGE, três das cinco atividades de serviços pesquisadas registraram ganhos na passagem de novembro para dezembro. Os serviços prestados às famílias avançaram 3,5%, algo que surpreendeu positivamente."É um setor que veio, pouco a pouco, eliminando as perdas da pandemia. Houve uma mudança na configuração das atividades. Os serviços de aplicativos de entrega, por exemplo, acabaram se apropriando de uma parte das receitas dos restaurantes, havendo, assim, transferência de receita entre dois setores", explica Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, também lembrou que a principal contribuição positiva veio dos serviços prestados às famílias, que cresceu 3,5%. "Após tanta reestruturação, finalmente, esse grupo conseguiu ultrapassar o nível pré-pandêmico", destacou. Na avaliação dele, os dados mostram uma desaceleração de um setor importante da atividade econômica, "de maior peso e com dinâmica tendendo a ser mais inercial".
"No entanto, alguns fatores específicos têm contribuído para sustentar a demanda por serviços. Olhando à frente, nossa perspectiva é que um mercado de trabalho aquecido, a regra de valorização do salário mínimo e a inflação comportada sirvam para contrabalançar essa perda de fôlego", acrescentou.
Vale lembrar que 0,9% desse crescimento é carregamento estatístico do PIB de 2022. E, para 2024, as perspectivas são de desaceleração da atividade, com um carrego menor, de 0,2%, e uma alta de apenas 1,4% no PIB acumulado do ano, pelas estimativas da economista do Ibre. "A economia em 2024 vai ter um desempenho pior do que foi 2023 por diversos motivos, além do carrego estatístico menor, e do agronegócio, que poderá ter queda em relação ao ano passado, e, por isso, não vai poder contribuir na mesma magnitude do ano passado em todos os serviços", destacou a economista.
Pelas projeções do Ibre, no primeiro trimestre deste ano, o PIB deverá registrar queda de 0,1%, principalmente, porque o agronegócio vai registrar o mesmo desempenho surpreendente do início de 2023, fazendo o PIB avançar 1,4% entre janeiro e março. "Se for um dado positivo, o crescimento vai ser baixo e não deverá passar de 0,2% ou 0,3% neste ano", explicou Silvia Matos.
Abaixo das estimativas
O resultado da PMS de dezembro ficou abaixo das estimativas do mercado, de 0,7%, pelas estimativas do Goldman Sachs e de 0,8% do PicPay, por exemplo, mas contribuiu para que o segmento de serviços ficasse 11,7% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Contudo, o desempenho mais fraco ainda deixou o setor em um nível 1,7% abaixo do pico da série do IBGE, de dezembro de 2022.
Na comparação com dezembro do ano anterior, houve queda de 2% no volume de serviços em dezembro de 2023, já descontado o efeito da inflação. Já a receita bruta nominal do setor de serviços ficou estável em dezembro, na comparação com novembro. E, em relação ao mesmo mês de 2022, houve avanço de 2,8% na receita do setor.
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