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Acordo Mercosul-UE: governo nega interrupção de negociações

Mesmo com as investidas do presidente da França, Emmanuel Macron, contra o pacto, Brasil confia no diálogo com Bruxelas

Apesar do barulho que o presidente da França, Emmanuel Macron, vem fazendo a fim de minar o acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul, integrantes do governo brasileiro negam qualquer interrupção nas negociações e minimizam a crise deflagrada pelos agricultores europeus.

A Comissão Europeia é o órgão responsável pelas negociações da UE com o bloco sul-americano, lembram membros do governo e especialistas. "As declarações de Macron e equipe não têm poder de veto nas negociações. O que ele está fazendo é dar o endereço de Bruxelas para os agricultores", disse uma fonte da diplomacia brasileira. Ela citou as declarações que o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, deram, nesta quinta-feira (1º/2), em defesa do acordo após as críticas da França.

Em Bruxelas, Sánchez afirmou a jornalistas que, "para a Espanha, o Mercosul é importante na relação econômica e geopolítica que devemos ter com um continente tão importante". Enquanto isso, o chanceler alemão afirmou ser "um grande fã de acordos de livre comércio e também do Mercosul".

Na véspera, o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, declarou que seu país fará o que for necessário para que o acordo de livre comércio UE-Mercosul, "não seja assinado como está". As negociações entre os dois blocos foram retomadas na semana passada e devem prosseguir apesar dos protestos dos franceses.

De acordo com Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e principal executivo (CEO) do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), não existe uma nova crise nas negociações do acordo comercial entre UE e Mercosul. "Não há crise. Por razões de política interna, Macron não tinha alternativa. A Comissão Europeia, que é quem negocia com o Mercosul (não os governos), manteve as negociações com o Mercosul", destacou Barbosa.

"Esse acordo é importante geopoliticamente para a Europa e para o Mercosul. Em vista das dificuldades com os agricultores na Europa, as negociações devem se estender por mais alguns meses, mas, na minha opinião, deverão concluir-se satisfatoriamente", avaliou o diplomata, reforçando as manifestações da Alemanha, da Espanha e de outros países europeus favoráveis à conclusão do acordo. "E eles disseram isso publicamente", frisou.

O especialista em relações internacionais Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados, avaliou que há uma chance pequena de o acordo UE-Mercosul avançar neste ano. "O protecionismo agrícola na França não é novidade. A grande questão é que quem negocia o acordo com o Mercosul é a Comissão Europeia, que tem um que um apoio importante da Alemanha e da Espanha. Então, há uma chance pequena de avanço, apesar da resistência da França", disse.

Para o economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, não há como prever que esse acordo continue em pé na atual conjuntura. "É difícil dizer que sim, com Macron querendo limpar a barra com os fazendeiros franceses", comentou.

 

 

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