Quem vai custear as ações de transição para uma economia global sustentável é um questionamento em aberto. Para aprofundar as discussões sobre o financiamento climático, seus principais entraves e oportunidades, começou esta semana a primeira edição do Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, iniciativa de sete organizações da sociedade civil, com a presença de autoridades, executivos e entidades ligadas à transformação ecológica.
Em entrevista ao Correio, Marcelo Furtado, diretor da Nature Finance e head de sustentabilidade do Instituto Itaúsa, um dos organizadores, falou da integração de soluções sustentáveis ao mercado financeiro para se ter retorno ecológico e geração de renda.
O evento antecede encontro dos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais do G20 e tem como objetivo levantar soluções para serem levadas ao grupo das maiores economias do mundo. Durante os dois dias do evento, que se encerra amanhã, cerca de 600 convidados participarão de debates sobre temas variados, mas todos voltados a estratégias para ampliar o financiamento de soluções baseadas na natureza no Brasil.
Entre os participantes do evento estão o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o Nobel de Economia Joseph Stiglitz; o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn; o copresidente da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) e enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para ação climática e finanças, Mark Carney.
A seguir, confira cinco pontos abordados pelo executivo Marcelo Furtado.
Financiamento
"Existe um falso dilema entre escolher a rota ecológica e plantar árvores, ou fazer tecnologia. Dá para fazer as duas coisas, com natureza, bem feito. É algo que recupera a biodiversidade, mas ao mesmo tempo, a gente alimenta as pessoas, gera emprego e renda. Temos o project finance, que é financiar uma ideia, é como a maior parte dos projetos de tecnologia funcionam e o setor financeiro está muito acostumado a fazer isso assumindo risco. Investir em sustentabilidade é pensar em retorno a longo prazo, assumir riscos ambientais, que podem acontecer. Por isso, às vezes, pode se pensar que é melhor investir em tecnologia do que correr esses riscos, mas essa restauração é capaz de resolver o problema climático, trazendo qualidade de solo e água e resolvendo o problema social, porque ela está alimentando. É preciso uma mudança de mentalidade para se começar a pensar em investir em soluções verdes."
Desafios
"Temos um grande desafio que é a gente garantir e mobilizar recursos para soluções. Ainda estamos numa situação em que os recursos financeiros que são investidos na economia, boa parte não vai para soluções climáticas, vai, em muitas vezes, até contra isso. Então acho que o primeiro desafio que a gente tem é um desafio de alinhamento de que os investimentos realmente sejam feitos em empresas, em ações, que sejam positivas. O segundo ponto é na hora que você vai fazer. Isso é garantir que todo mundo possa ser atendido."
Justiça climática
"Uma iniciativa importante que tem na área de mudanças climáticas é o debate sobre os eventos climáticos extremos. Estamos vendo isso acontecer, seja por meio da seca, seja das enchentes e desabamentos, a gente vê o quão pouco preparados são as cidades e os municípios para atender a isso. Quando acontece esse desastre e as prefeituras buscam recursos públicos para lidar com isso, a primeira questão é saber como esses recursos vão atender as pessoas mais impactadas primeiro. Depois que passa aquela situação emergencial, fica o pensamento do que deveria ser feito de diferente para que não aconteça de novo. Por isso, acho que a discussão de justiça climática junto com a bioeconomia é muito positiva, pois, por um lado, é garantir que todos os estados econômicos vão se beneficiar disso, mas também garantir que os impactos negativos que acontecem de eventos climáticos extremos não prejudiquem prioritariamente os mais vulneráveis."
Bioeconomia
"O Brasil está propondo algumas inovações, entre elas, a criação de uma iniciativa sobre bioeconomia, que é combinar o uso de recursos naturais aliados à utilização de novas tecnologias com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis. E a bioeconomia pode ser interpretada de muitas maneiras diferentes dentro do próprio G20. Vai ter país que vai olhar a bioeconomia e pensar em produzir polímeros a partir da biodiversidade, ou seja, substituir plástico feito de petróleo por plástico feito por plantas bioeconômicas. São inúmeras as possibilidades que o Brasil pode explorar por sua enorme biodiversidade e ser líder nesse processo."
O G20
"Trazer esse evento às vésperas do G20 é muito significativo, pois é um grupo muito importante. Não significa que você está resolvendo o problema do mundo, mas se você conseguir combinar o jogo com esse países, a gente consegue resolver muitos desses problemas. Ele tem uma característica de ser um grupo de países menor do que os desses grandes encontros internacionais, como a Convenção do Clima, mas permite a você discutir com um grupo menor de países para encaminhar essas soluções."
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