MACROECONOMIA

Inflação oficial fica acima do esperado pelo mercado em janeiro

O IPCA de janeiro desacelera em relação a dezembro, de 0,56% para 0,42%, mas fica acima do avanço de 0,34% esperado pelo mercado financeiro. Para fevereiro, a expectativa de analistas é de aceleração na carestia  

Descrição: inflação, gráfico, economia
 -  (crédito: Cícero/CB/D.A Press)
Descrição: inflação, gráfico, economia - (crédito: Cícero/CB/D.A Press)

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, desacelerou em janeiro, na comparação com dezembro de 2023, mas ficou acima das estimativas do mercado, contribuindo para as apostas de um ajuste mais lento na política monetária que é conduzida pelo Banco Central.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quinta-feira (8/2), o IPCA avançou 0,42%, no mês passado, após registrar alta de 0,56% no mês anterior. O dado ficou acima das projeções do mercado, em torno de 0,34%.

O aumento dos preços em janeiro foi registrado em sete dos nove grupos pesquisados pelo IBGE e o espalhamento da alta de preços atingiu 65% dos itens pesquisados, mesmo percentual de dezembro.
O destaque no indicador ficou com o grupo de Alimentação e bebidas, com peso de 21,12% no IPCA, e que acelerou em relação a dezembro. A alta de preços nesse grupo passou de 1,11% para 1,38%, contribuindo para 0,29 ponto percentual de alta no índice.

Entre os vilões da carestia no mês ficaram alimentos in natura, como cenoura e batata, cujos preços dispararam 43,85% e 29,45%, respectivamente. E, com isso, a inflação no domicílio acelerou de 1,34%, em dezembro, para 1,81%, em janeiro.

De acordo com o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é natural a queda de oferta de alimentos in natura nessa época e, por isso, os preços dos alimentos acabaram acelerando mais do que os demais. “A boa notícia é que são efeitos temporários e, no outono, os preços dos alimentos tendem a cair e não pressionar muito o IPCA no fim do ano, que deverá fechar em 3,9%”, explicou. Mas ele lembrou que, em fevereiro, o IPCA ainda vai acelerar, porque haverá o impacto dos reajustes nas mensalidades escolares, item que pesa bastante no orçamento da classe média, que é a base da pesquisa do IPCA.

“É provável que, em fevereiro, o IPCA deverá subir 0,85%, devido ao reajuste de 7% nas mensalidades escolares e a continuidade da alta dos preços dos alimentos”, adiantou.
Para ele, com a perspectiva de que o IPCA não deverá ultrapassar o teto da meta deste ano, de 4,50%, o Banco Central continuará realizando cortes de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia até que ela encerre o ano em 9%. “Para ficarem abaixo disso, os juros vão depender do comportamento da inflação ao longo do ano”, afirmou.

Na avaliação de Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, pelo enfoque qualitativo, alguns itens do IPCA pioraram na variação mensal, tanto que a média dos cinco núcleos avançou 0,37%, “também acima do esperado, assim como serviços subjacentes, com alta de 0,76%, devido ao aquecimento do mercado de trabalho. “Lembremos que o primeiro trimestre costuma ser marcado por algum impacto sazonal, por algum choque agrícola por fatores climáticos, piorando na oferta agrícola de hortifrutigranjeiros e tubérculos, aumento nas despesas com educação, taxas anuais e alugueis”, destacou.

Para o analista da Mirae, no agregado, alguma atenção é necessária na política monetária. “O ritmo de cortes deve se manter em 0,5 ponto nas próximas reuniões, sendo preciso atenção para o comportamento da inflação e da trajetória fiscal. No caso da inflação, o comportamento dos preços dos alimentos e dos serviços terá que merecer toda a atenção”, explicou.

Fabio Romão, economista senior da LCA Consultores, lembrou que cinco dos nove grupos pesquisados para o IPCA registraram desaceleração de preços: Habitação, Artigos de residência, Vestuário, Transportes e Comunicação. Por conta disso, ele projeta uma aceleração do IPCA em fevereiro menor do que a prevista por André Braz, do Ibre, para 0,76%. “Além da alta sazonal do grupo Educação, projetamos efeitos diretos e indiretos da mudança na cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a gasolina, o diesel e o etanol, que, em conjunto com a queda menos pronunciada que coletamos para fevereiro em passagem aérea, sinalizam aceleração do grupo Transportes”, alertou.

De acordo com Romão, o incômodo da inflação subjacente de serviços, acelerando em relação a dezembro, para 0,76%, contribuindo para o IPCA de janeiro ter ficado acima das expectativas, ainda não é dramático. “Temos sinais de que a inflação pode fechar o ano abaixo do que foi no ano passado e dentro do limite da meta”, completou.

Deflação em Brasília

Brasília foi a única capital entre as 16 pesquisadas que apresentou deflação no mês passado. Conforme os dados da pesquisa do IBGE, a inflação no Distrito Federal ficou negativa em 0,36% após registrar alta acima da média em dezembro, de 0,78%.

Na capital do país, cinco dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram queda no IPCA de janeiro e o que mais puxou o indicador para baixo, foi transportes, que registrou deflação de 2,44%, contribuindo com -0,57 ponto percentual no índice. A queda nos preços da passagem aérea, de 21,31%, foi o subitem com maior impacto individual no índice do mês (de -0,53 ponto).

 

 

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postado em 08/02/2024 20:08 / atualizado em 08/02/2024 20:09
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