Conjuntura

PIB dos EUA surpreende e se mostra mais resiliente do que o esperado

No quarto trimestre de 2023, o PIB norte-americano avança 3,3%, na taxa anualizada ajustada sazonalmente, abaixo da alta de 4,9% nos três meses anteriores, e sinaliza "pouso suave" da maior economia do planeta

A atividade econômica dos Estados Unidos desacelerou no quarto trimestre de 2023, mas o crescimento anualizado do Produto Interno Bruto (PIB) ficou bem acima das expectativas do mercado. Conforme dados oficiais divulgados ontem pela Agência de Análises Econômicas do Departamento do Comércio dos EUA (BEA, na sigla em inglês), o PIB da maior economia do planeta cresceu 3,3% no quarto trimestre, a taxas anualizadas ajustadas sazonalmente, abaixo do avanço de 4,9% no trimestre anterior.

As estimativas do mercado giravam em torno de 2%. De acordo com analistas ouvidos pelo Correio, os números mostram que o risco de recessão está saindo do radar da economia norte-americana, que caminha para um "pouso suave", sem muito solavancos, na contramão das críticas dos pré-candidatos republicanos ao presidente Joe Biden para as eleições gerais deste ano na maior potência global.

"O efeito negativo de Biden está associado ao deficit fiscal (de US$ 1,7 trilhão em 2023) e à pressão de alta potencial na dívida pública, que exacerba os ruídos políticos entre republicanos e democratas", destacou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos. "O desempenho da atividade econômica dos EUA (em 2023) é positivo para o faturamento e os lucros das empresas listadas em Bolsa, além de reforçar que a recessão inicial é mais iminente na Zona do Euro do que nos Estados Unidos", afirmou. Segundo ele, "o mercado está mais confiante na desaceleração da inflação e também com um pouso suave nos EUA".

Conforme os dados do BEA, na comparação com o último trimestre de 2022, a atividade econômica dos EUA cresceu 3,1%. No acumulado em 12 meses, o crescimento do PIB norte-americano acelerou de 1,9%, em 2022, para 2,5%, em 2023, conforme as informações do BEA. Os dados ainda são preliminares. A segunda estimativa para o quarto trimestre de 2023, baseada em dados mais completos, será divulgada em 28 de fevereiro de 2024.

"O PIB dos EUA desacelerou, mas está muito resiliente e veio muito acima do esperado", reforçou Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset. "O consumo das famílias veio muito forte, assim como exportação líquida (alta anualizada de 6,3%) e investimentos, inclusive residencial", acrescentou.

Entre os destaques dos dados do PIB norte-americano, ficaram as taxas de crescimento anualizadas das famílias, que avançaram 2,8% no quarto trimestre e contribuíram para 1,91 ponto percentual da variação do PIB norte-americano. Apesar de apresentar avanço de 2,1%, na mesma base de comparação, os investimentos privados tiveram um avanço bem menor do que a taxa anualizada do terceiro trimestre de 2023, de 10%.

Gastos do governo

Na avaliação de Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, os gastos do governo também influenciaram o resultado do PIB acima das expectativas, pois apresentaram avanço de 3,3%. "Grande foi a contribuição do consumo das famílias e dos gastos do governo. Isso mostra que a economia norte-americana está mais resiliente, afastando o risco de recessão. É bem um soft landing mesmo", afirmou.

Velho, da JF Trust, lembrou que, além da queda da curva de juros futuros, "o dólar voltou a se valorizar frente ao euro nas últimas semanas após forte desvalorização em 2023". Os dados do PIB dos EUA e os do auxílio-desemprego (também divulgados ontem) reforçam a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho", disse.

O resultado do PIB norte-americano pode ajudar o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) a dar algum sinal de quando poderá iniciar os cortes nos juros básicos, atualmente com intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano. "Os dados mostram a economia rodando bem, a inflação comportada, o que possibilita o início do ciclo de cortes. Fed pode sinalizar isso na reunião da próxima semana", comentou Hegedus, da Mirae.

Para Thomas Monteiro, analista e editor da Investing.com, o resultado positivo anualizado do PIB dos EUA encerra a possibilidade de corte na taxa de juros pelo Fed no início do ano. "Não há absolutamente nenhuma necessidade de o Fed apressar os cortes de juros agora", destacou.

A próxima reunião do Fomc, comitê de política monetária dos EUA, ocorre nos dias 30 e 31 deste mês, mesmas datas da reunião do comitê do Banco Central (Copom).

 

 

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