Um novo golpe tem tido grande repercussão nas redes sociais, principalmente entre usuários que buscam uma renda extra. Nesta semana, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) emitiu um alerta sobre criminosos que têm utilizado aplicativos de mensagens para oferecer uma oportunidade de ganhar dinheiro de forma rápida e fácil em troca da realização de simples tarefas, como curtir fotos, comentar postagens e seguir contas de empresas e lojistas nas redes sociais.
Chamada de "golpe da tarefa" ou "golpe da renda extra", a prática começa com a criação de perfis falsos em aplicativos de mensagens como o WhatsApp — no qual esses perfis costumam estar vinculados a números de telefone de outros países —, em que o criminoso se apresenta como representante de uma empresa de marketing digital que está selecionando interessados para trabalhar de maneira on-line.
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Sob a justificativa de ajudar comerciantes a ter maior visibilidade na internet, o golpista explica que o trabalho consiste na realização de pequenas tarefas diárias, oferecendo ganhos que podem variar entre R$ 100 e R$1,5 mil por dia.
Aceitando a proposta, o participante é adicionado a um grupo de mensagens. No início, as pequenas tarefas realmente são remuneradas, e o golpista faz depósitos na conta da vítima para gerar certa credibilidade, mas, sempre, em operações de baixo valor.
A partir daí, chega um momento em que a vítima recebe uma tarefa que requer um pagamento para a participação, valor que o golpista afirma que será recuperado ainda no mesmo dia. Outros participantes do grupo de mensagens enviam comprovantes de pagamentos recebidos após a realização das tarefas, o que induz a vítima a continuar no esquema. Essas tarefas pré-pagas prometem ganhos mais altos. Após a vítima depositar o dinheiro, o golpista desaparece.
"No começo, parece ser uma oportunidade de ganhar dinheiro de forma fácil. Os golpistas chegam a pagar as comissões das primeiras tarefas até que oferecem uma tarefa pré-paga com promessa de ganhos elevados. É nesse momento que aplicam o golpe. Bloqueiam o usuário do grupo e somem, levando a vítima a ter um grande prejuízo financeiro", alerta Adriano Volpini, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban.
Para o advogado especialista em crimes cibernéticos Luiz Augusto D'Urso, o golpe da tarefa recebeu notoriedade porque é, de fato, eficiente. Ele explica que os criminosos tratam a prática como um "investimento" para criar um laço de confiança com as vítimas.
"Eles perceberam que, ao contar uma história, com a monetização e a remuneração por parte deles para as vítimas, cria-se um laço de confiança. A pessoa, naquele momento em que recebe um valor de pagamento de R$ 20 ou R$ 30 ao realizar a primeira tarefa, cria muita confiança porque a presunção, antigamente, era a de que criminosos não pagam ninguém. Só que, agora, eles estão pagando. São valores baixos, mas que são significativos quando falamos de muitas vítimas, para, de fato, investir no golpe", explica.
Na análise de D'Urso, esse não é um golpe orquestrado por criminosos despreparados. "Me parecem quadrilhas altamente especializadas e com conhecimento técnico avançado, porque parte desses golpes é realizada pelo que chamamos de chatbot. Eles programam diretrizes e falas padrão para induzir aquela vítima. Essa é a razão de, na maioria dos casos, serem utilizados números de telefone internacionais. É para dificultar as investigações", ressalta.
O advogado explica que, caso a pessoa acabe caindo nesse golpe, é imprescindível que ela entre em contato com o banco o mais rapidamente possível, para que sejam adotadas medidas de segurança como o bloqueio do aplicativo e de senhas de acesso. Após isso, é importante que seja registrado um boletim de ocorrência contra os golpistas e, em alguns casos, acionar judicialmente o próprio banco.
"Acionar também os bancos judicialmente para que sejam verificadas as informações utilizadas na abertura dessas contas. Muitas vezes, o banco não é eficiente, permite a abertura de contas com documentação incompleta e isso gera, também, responsabilidade dos bancos. Então, na ação judicial, não só contra os autores ou contra os laranjas, muitas vezes contra os bancos é possível ter os valores devolvidos por decisão judicial", indica.
Adriano Volpini, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban, reforça a importância de se duvidar do "mito do dinheiro fácil". "Pare, pense e sempre desconfie de propostas de trabalho que você tenha que pagar antes de receber o dinheiro. Outra recomendação é desconfiar de promessas de vantagens exageradas. E jamais deposite dinheiro na conta de quem quer que seja com a finalidade de garantir uma oportunidade ou um negócio", acrescenta.
*Estagiário sob supervisão de Vinicius Doria
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