O Banco Mundial manteve a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2024 em 2,4%, o que marcaria o terceiro ano seguido de desaceleração. No relatório de Perspectivas Econômicas Globais, publicado ontem, a entidade alertou para o risco de uma "década de oportunidades desperdiçadas", com a economia global caminhando para ter a pior performance em meia década.
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Com exceção da forte recessão causada pela pandemia de covid-19 em 2020, esse seria o crescimento global mais baixo em um ano desde a crise financeira de 2008. O documento estima que a economia global tenha expandido 2,6% em 2023 e que deve voltar a acelerar levemente a 2,7% em 2025.
A desaceleração neste ano, de acordo com o banco, é resultado dos efeitos atrasados do aperto na política monetária e condições financeiras restritivas, ao lado de investimento e comércio globais fracos. O relatório destaca que a atividade enfrentará riscos negativos de uma possível escalada de conflitos no Oriente Médio, que poderá levar a um aumento dos preços do petróleo, e a fenômenos meteorológicos extremos, que afetam principalmente a agricultura, a energia e a pesca.
Além das dificuldades para a economia global, a organização financeira destaca que a recuperação pós-covid tem sido muito desigual. "O crescimento a curto prazo permanecerá fraco e levará muitos países em desenvolvimento, especialmente os mais pobres, a uma armadilha: com níveis de dívida paralisantes e acesso precário aos alimentos para quase uma em cada três pessoas", afirmou Indermit Gill, economista-chefe do Banco Mundial.
A maioria das economias avançadas voltou a níveis equivalentes ou superiores aos anteriores à pandemia, mas esse não é o caso de muitos países em desenvolvimento ou emergentes. "Sem uma aceleração do crescimento global nos próximos anos, a população de um em cada quatro países em desenvolvimento será mais pobre até o fim da década de 2020 do que era antes da pandemia", disse Gill.
Os efeitos do aperto monetário devem chegar ao seu pico em 2024 e poderão fazer com que as taxas de juros reais permaneçam elevadas por um período prolongado, à medida que a inflação retorna à meta apenas gradualmente. De acordo com o Banco Mundial, essa configuração deverá manter restritiva a postura da política monetária dessas economias no curto prazo.
Desempenho brasileiro
As expectativas para o PIB do Brasil passaram por algumas alterações. Foram elevadas as previsões de crescimento da economia em 2023 e 2024, enquanto houve uma leve redução na estimativa para 2025. "A revisão para cima no crescimento de 2023 foi motivada pelos desempenhos mais fortes que o esperado na produção agrícola, no consumo privado e nas exportações nos três primeiros trimestres do ano", informou o relatório.
Para este ano, a previsão é que o PIB brasileiro alcance um crescimento de 1,5% — ou 0,1 ponto porcentual a mais que na estimativa anterior —, refletindo a desaceleração da atividade no segundo semestre de 2023 e a produção agrícola mais moderada neste ano.
De acordo com o documento, isso justifica a previsão de aceleração no crescimento do PIB em 2025 a 2,2%, ainda que a capacidade do governo para oferecer apoio fiscal à economia seja limitada pelos esforços de ajuste nas contas públicas. Apesar de um valor otimista, anteriormente o Banco Mundial tinha uma expectativa ainda maior para o PIB do próximo ano, com uma expansão de 2,4% que foi reajustada neste último relatório.
Segundo a instituição monetária internacional, "a redução gradual tanto no índice cheio quanto no núcleo da inflação deve permitir mais cortes de juros no Brasil, dando apoio às perspectivas de investimento e consumo de médio prazo".