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Com recorde positivo no saldo da balança comercial, Brasil teve queda nas importações

Estudo da FercomércioSP aponta que, mesmo comemorando resultado, Brasil patina no mercado internacional e tem participação incompatível com a posição de nona maior economia do mundo

Para o economista André Sacconato é preciso facilitar importações -  (crédito: Divulgação/Fercomércio- SP)
Para o economista André Sacconato é preciso facilitar importações - (crédito: Divulgação/Fercomércio- SP)

O Brasil encerrou o ano de 2023 celebrando o recorde de US$ 99 bilhões no saldo da balança comercial. O dado é importante, porque contribui positivamente no resultado de todas as transações realizadas entre o país e o resto do mundo, chamado balanço de pagamentos.

No entanto, um estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra que o resultado se deve mais à queda nas importações do que ao crescimento do Brasil no comércio exterior.

Ao destrinchar os números apresentados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o estudo revela que a economia brasileira segue fechada, mantendo a sua corrente de comércio em, no máximo, 1,5% do comércio mundial. Segundo o relatório do MDIC, a corrente de comércio — a soma entre importações e exportações — caiu 4,3% em relação a 2022, totalizando US$ 580,51 bilhões.

A performance brasileira em 2023 segue uma tendência mundial. Segundo o relatório Global Trade Update, divulgado pela Unctad, a corrente de comércio global caiu 4,5% entre 2022 e 2023, totalizando US$ 31 trilhões.

Porém, o documento da FecomércioSP enxerga "algumas distorções" que levam o Brasil a ter uma pequena participação no mercado internacional, já que o País é a nona maior economia do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas ocupa a 26ª posição no ranking de maiores exportadores.

"O importante, ao analisar a balança comercial, não é apenas verificar se houve superavit. Isso remonta ao mercantilismo. Mas é a corrente de comércio que vai dizer o quanto o Brasil está se abrindo para o mundo", observa André Sacconato, consultor econômico da FecomércioSP. Nesse ponto, diz ele, "há um dado terrível" no resultado de 2023.

 "A participação do comércio internacional do Brasil no mundo permanece extremamente insignificante", observa, ao recordar que o país se mantém na mesma posição de 50 anos atrás.

O saldo recorde aconteceu porque o crescimento de receitas de exportações foi de apenas 1,5%, enquanto os gastos com importações caíram quase 12% na comparação com 2022.

"Na perspectiva da FecomercioSP, esse não é um resultado plenamente positivo, porque significa que o país perdeu espaço no comércio internacional", diz o documento da FercomercioSP, que nesta segunda-feira será distribuído aos seus associados. 

Sacconato entende que o caminho para romper a barreira dos 2% na participação brasileira no comércio exterior, seria a adoção de políticas de estado que facilitassem as importações. Dessa forma, as empresas teriam acesso a insumos mais baratos e de maior conteúdo tecnológico, além de gerar ganhos de produtividade e aumentar a competitividade das nossas exportações. Além disso, favoreceria o "bem-estar" dos consumidores.

No entender da FercomercioSP, o modelo de participação brasileira no jogo comercial, por meio da escalada tarifária — o aumento das tarifas de importação conforme o avanço no estágio de produção —, revela uma política protecionista que impede a abertura comercial.

"Sabemos que existe uma preocupação com a produção nacional. Mas uma política industrial não pode ser baseada apenas em tributação. Fazer política industrial é olhar para o futuro, é investir em setores que possam gerar resultados no futuro", aponta Sacconato. "Se o país quiser olhar para o longo prazo, não vai ser com política de desonerações ou de facilitações setoriais que o país vai para a frente. É preciso olhar para uma política industrial séria", completa.

Outros dilemas na balança comercial brasileira, apontados pelo estudo, são a dependência da China como principal parceiro comercial e a concentração excessiva das exportações em apenas três commodities: soja, petróleo e minério de ferro.

"É significativo que, em 10 anos, as exportações para o gigante asiático cresceram cinco vezes, enquanto os outros dois grandes receptores de produtos brasileiros, o Mercosul e os Estados Unidos, seguiram em patamares parecidos durante esse período", aponta o documento.

"Não é um dado animador imaginar que o Brasil está cada vez mais se concentrando em termos de destinos e cada vez mais se concentrando em termos de produtos. É necessário se fazer uma discussão de duas coisas: política comercial e política industrial", sugere o economista da FecomercioSP.

 


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postado em 21/01/2024 03:55
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