As famílias paulistanas fecharam o ano de 2023 menos inadimplentes do que começaram. É o que mostra a pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e divulgada na terça-feira (16/1). Segundo o levantamento, o número de lares com contas em atraso no último ano diminuiu em 2,9%, embora se mantenha alto, com 22,7%, em dezembro.
Os números favoráveis se explicam pela inflação, que está voltando a uma trajetória mais comportada desde o início de 2023, apontou a pesquisa da FecomercioSP. Além disso, o consequente início do ciclo de corte da taxa Selic (taxa básica de juros), que deve fechar o ano de 2024 de volta à casa de um dígito — estima-se 9% —, também é um fator citado como explicação.
Conforme a Peic, o endividamento das famílias também caiu, de 74% para 69% em um ano, resultado que se justifica, segundo a FecomercioSP, pelo elevado custo do crédito. Para a entidade, porém, o fato de 10,1% das casas em SP não terem condições de pagar suas dívidas é preocupante.
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Além disso, as taxas de juros ainda elevadas dificultaram a quitação de muitas dívidas antes do encerramento do ano, junto ao fato de que muitas famílias estarem priorizando gastos essenciais e deixando a reorganização financeira para o futuro.
Mutirões de renegociação das instituições financeiras e programas de desconto, como o Desenrola Brasil, também não tiveram impacto significativo, de acordo com o levantamento, o que colaborou para um cenário de manutenção das dificuldades financeiras das famílias.
O percentual de famílias com renda mensal de até 10 salários mínimos e que têm contas em atraso caiu de 25,5% para 22,7% em um ano. Por outro lado, a proporção de famílias com renda maior que 10 salários mínimos e, ainda assim, inadimplentes, subiu de 11,1% para 11,8%.
Para 84,9% dos endividados, o cartão de crédito foi o principal fator para o endividamento das famílias em dezembro. O uso de outras modalidades de crédito também aumentou. O cheque especial passou de ser utilizado por 5,2% para 6,1% das famílias em um ano; o crédito pessoal saltou de utilizado por 10,6% para 14,1% das famílias; e o financiamento imobiliário, de 9% para 13,1%.
Outro dado que preocupa a FecomercioSP é a parcela da renda familiar comprometida com dívidas. Em dezembro, elas representavam 31,8% dos rendimentos das famílias paulistanas, enquanto 27,3% desses lares revelaram ter mais de 50% da renda comprometida com a quitação de despesas parceladas, apontando uma maior necessidade do uso de crédito.
Aumento da confiança
Em relação a gastos, as famílias de São Paulo fecharam o ano de 2023 com alta na intenção de consumo. A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias paulistanas (ICF), da FecomercioSP, passou de 94,7 pontos em dezembro de 2022 para 113,3 pontos, em dezembro de 2023, mostrando alta de 19,6% no período.
Segundo a entidade, o número foi puxado pela melhora das condições atuais de renda e emprego e por um aumento da confiança em relação à perspectiva profissional, que passou de 116,8 para 125,4 pontos em um ano.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) confirma a percepção positiva, deixando os 122,8 pontos para 133,5 pontos em um ano. Assim como no caso do endividamento, a melhora no indicador se dá em razão de uma menor pressão da inflação, da queda dos juros e da evolução da renda.
Ainda segundo a FecomercioSP, esse otimismo foi o responsável pelo avanço das vendas no comércio paulistano em 2023, que atingiram o melhor nível desde 2008, assim como pelo faturamento recorde das lojas no período que antecedeu o natal.
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*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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