Investimento

Bolsa reverte perdas e volta a ser atrativa, após virada de chave

No último pregão do ano, IBovespa chegou a 134.185 pontos, maior patamar registrado. Previsões para 2024 são otimistas

Contrariando as projeções pessimistas, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou 2023 surpreendendo ao bater recordes e renovar máximas. Esse movimento que deve se repetir ao longo de 2024 pelas estimativas de analistas, que apostam na redução dos juros ao longo do ano.

O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, fechou o último pregão do ano aos 134.185 pontos, em seu maior patamar da história e registrando a maior alta anual desde 2019, com valorização de 22,28%. A variação supera por muito o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses, de 4,68%; o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que foi de 12,94%; e o rendimento da poupança no ano, de 8,21%.

pacifico - seubolso renda fixa

A estabilização das taxas de juros globais, o pontapé dado pelo Brasil iniciando o fim do aperto monetário e a diminuição de incertezas fiscais no âmbito doméstico contribuíram para a guinada dos investimentos e apontam para um desempenho atrativo da renda variável em 2024.

Segundo Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, a evolução do índice no ano mostra a importância da paciência em investir em renda variável. "Até outubro a bolsa tinha sido inexpressiva, tinha subido muito pouco, menos de 5% no acumulado do ano. Mas unindo novembro e dezembro, nos últimos dois meses do ano, teve uma alta de mais de 18%, fechando 2023 em um patamar muito bom. Não havia uma alta dessas desde antes da pandemia", destaca.

Lelis menciona fatores determinantes para a virada de chave do IBovespa. "Primeiramente, a sinalização da estabilidade na taxa de juros americana, que é conhecida como a mãe de todas as taxas, fez com que as expectativas para a alta de juros nos Estados Unidos possibilitasse a drenagem de capital, além de permitir que as taxas de juros de outros países pudessem cair ou, pelo menos, parar de subir", ressalta.

O analista afirma que houve a entrada de capital brasileiro, mas o fluxo estrangeiro também foi muito importante para a rentabilidade anual. "A queda das taxas de juros no Brasil contribuiu bastante para esse cenário de alta, porque isso atrai capital para a bolsa. Temos um investidor que não terá mais a rentabilidade das altas taxas de juros e acaba optando por comprar renda variável. A entrada do fluxo estrangeiro, principalmente do meio do ano em diante, também foi muito importante para essa alta expressiva."

Ao elevar a nota de crédito do país, a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) informou ao mercado que o desempenho macroeconômico e fiscal brasileiro está melhorando. "Isso faz com que alguns fundos internacionais, que antes não podiam investir aqui, agora possam e direcionem capital estrangeiro para cá, melhorando a percepção e o prêmio de risco da bolsa", comenta Lelis.

Destaques

As ações da Taesa, MRVE e CSN foram destaques positivos no ano, impulsionadas por uma combinação de fatores, como a melhora da economia brasileira, a alta dos preços das commodities e a expectativa de crescimento da demanda por energia elétrica. Já as ações das Casas Bahia, GPA, Minerva e Petz foram destaques negativos no ano, impactadas por uma combinação de fatores, como a inflação, a alta dos juros e a concorrência acirrada.

Em uma sequência de altas no Ibovespa e queda dos juros futuros (DIs), se sobressaíram as ações mais sensíveis às taxas, especialmente o varejo. "O setor é impulsionado pela queda dos juros futuros e as perspectivas para manutenção de afrouxamentos monetários em 2024", avalia André Vasconcellos, vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri).

Outro segmento presente no pódio é o das commodities metálicas, impulsionado pela alta do minério de ferro na China.

Vasconcellos ressalta que o IBovespa ainda é muito concentrado, com Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e B3, que somados representam 44% do total da carteira de ativos. Assim, o comportamento no próximo ano continuará a depender destas seis companhias-chave.

As ações que pagam dividendos são sempre as mais procuradas pelos investidores, no entanto, o volume de proventos distribuídos no ano encolheu. Os dividendos pagos a acionistas das empresas listadas na B3 caíram quase pela metade em 2023 em comparação ao ano passado. De acordo com dados da plataforma Meu Dividendo, que antecipa os proventos, o valor total saiu do recorde de R$ 225,8 bilhões em 2022 para R$ 123,6 bilhões neste ano, uma redução de 45%.

Segundo o vice-presidente do conselho de administração do IBRI, a redução está associada, principalmente, ao corte na distribuição de lucros por parte das maiores empresas da bolsa brasileira: Vale e Petrobras. Em 2023, a representação das duas nessa conta foi reduzida, mas ainda correspondeu a 41% do total distribuído.

"O cenário de incerteza nacional e global também incentivou companhias abertas a agirem com mais cautela e manter dinheiro em caixa, em vez de distribuírem os recursos entre seus acionistas", diz Vasconcellos.

No radar

Em linhas gerais, a perspectiva para o principal índice da bolsa brasileira no próximo ano é positiva, pela fundamentação da continuidade da redução da taxa de juros e de suas consequências para a atividade econômica no médio e no longo prazo. "Além disso, estamos com um cenário internacional que pode contribuir positivamente para essa perspectiva, dado que a fase mais restritiva das condições financeiras implementadas pelos Bancos Centrais para redução dos índices de inflação parece ter ficado para trás", diz Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart XP. Para a analista, é possível esperar que o IBovespa termine 2024 num intervalo entre 140 e 150 mil pontos.

O próximo ano também será bastante relevante sob a ótica geopolítica, que é apontado como um dos riscos para a economia global. Mais de 50 países terão eleições presidenciais em 2024, fator que também está no radar dos analistas.

A economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais, pondera que há uma percepção crescente de ampliação de riscos fiscais e ajustes orçamentários no Brasil. "Neste início de ano podemos perder um pouco nos preços de ativos da bolsa novamente, porque na volta do Congresso retomaremos o andamento da agenda fiscal. Há um impasse em resoluções finais após a aprovação da primeira parte da reforma tributária. Essa agenda deve ser o principal vetor de volatilidade do Brasil", afirma.

Cautela

A renda variável deve continuar a ser uma opção interessante para os investidores, mas é importante realizar uma análise cuidadosa do cenário econômico e do desempenho das empresas antes de investir. Com base nos resultados de 2023 e as perspectivas positivas para a economia brasileira e mundial em 2024, é possível esperar que as ações de determinados setores tenham um bom desempenho no próximo ano, mas é preciso cautela.

Bruno Lima, especialista em mercado financeiro e fundador do método Nômade, dá algumas recomendações para quem quer começar a investir em renda variável no próximo ano. "Antes de investir em qualquer ativo, é importante realizar uma análise cuidadosa do cenário econômico e do desempenho da empresa. Além disso, uma dica importante é diversificar seus investimentos e não colocar seus ovos na mesma cesta", sugere.

O especialista lembra também que para investir em renda variável é preciso ser paciente.

 


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