Investimento de risco

Criptomoedas: embora rentáveis, investimentos requerem cautela

Nos últimos 12 meses, a Bitcoin, moeda mais atrativa do segmento, alcançou preços históricos e valorização de aproximadamente 140%

Investir em criptomoedas pode ser muito atrativo à primeira vista, mas quem "cai de paraquedas" nesse mundo pode encontrar dificuldades e correr sérios riscos. Para fazer um balanço dos movimentos das principais moedas digitais em 2023 e ajudar investidores que desejam ampliar a carteira de ativos para o próximo ano, o Correio conversou com especialistas em criptos, em mais uma reportagem da série Seu Bolso.

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Antes de investir em moedas digitais, é preciso levar em consideração a extrema volatilidade desses ativos, como explica o head do Mercado Bitcoin Research, André Franco. "Da mesma forma que vemos 140% de ganho no ano (como é o caso da Bitcoin em 2023), podemos ver uma queda de 30% ou a dobra do ativo em meses", pontua.

O especialista acrescenta que é preciso ter cuidado até com criptos já consolidadas, como a Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH). O investimento em criptos, embora atraente por seu potencial de retorno, não está isento de riscos. As grandes oscilações de preço exigem que os investidores encarem o modelo como uma reserva de valor a longo prazo. A retirada em momentos desfavoráveis pode resultar em perdas consideráveis.

"Ele (o investidor) tem que aguentar a volatilidade e saber que é um dinheiro que pode ser perdido", afirma André Franco, ao reforçar a necessidade de cuidado redobrado ao investir em moedas digitais.

As criptomoedas foram lançadas após a crise imobiliária de 2008, quando uma pessoa anônima, que utilizava o pseudônimo Satoshi Nakamoto, enviou um e-mail para interessados em criptografia. Na mensagem, revelou que estava trabalhando em um sistema de moeda virtual totalmente peer-to-peer (ponto a ponto), sem intermediação de terceiros. Nesse contexto, surge a Bitcoin, a primeira e mais valiosa criptomoeda, atualmente.

A Bitcoin atravessa um de seus momentos mais promissores desde sua criação, alcançando preços históricos e acumulando uma forte valorização — aproximadamente 140% nos últimos 12 meses. A criptomoeda mais proeminente ultrapassou a marca dos US$ 40 mil e atingiu o valor mais elevado, desde 2022. Na avaliação de Franco, há uma forte expectativa da continuidade do crescimento em 2024.

Uma das apostas dos investidores para o próximo ano é o chamado Halving do Bitcoin, um evento que ocorre a cada quatro anos no qual se restringe a oferta da cripto no mercado, reduzindo a inflação sobre novas unidades de moedas digitais. A ação está programada para os meses de abril e maio de 2024. O halving consiste no choque entre oferta e demanda, impulsionando o preço da Bitcoin, tornando-a mais escassa e valiosa.

Mesmo gerando poucos efeitos práticos, os especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que o evento pode aumentar a popularidade da moeda, gerando uma supervalorização do ativo. "Historicamente, tais eventos precederam aumentos no preço, mas não há garantia de repetição do padrão. A percepção de escassez gerada pode elevar o valor se a demanda permanecer estável ou crescer", avalia o head de Produtos da Ribus, Victor Freire.

Mercado aquecido

De acordo com a Receita Federal, o número de pessoas que investem em criptomoedas no Brasil ultrapassou a marca de 4,1 milhões. O desempenho tem despertado o interesse de investidores, e analistas acreditam que esse cenário pode se estender para o próximo ano. "No último ciclo, vimos a Bitcoin dobrar de preço um ano antes do halving. Então, é bem provável que o ano que vem seja até melhor para o mercado. A gente acredita que pode subir o ganho no ano de 2024", revela André Franco.

O engenheiro e recém-ingresso no mundo das criptomoedas Victor Vasconcelos compartilha sua entrada no investimento, que ocorreu em meio à pandemia de covid-19. A alta notável dos ativos, em especial a Bitcoin, despertou sua atenção. "Inicialmente, a alta desses ativos chamou a atenção. Estava em todos os lugares a alta da Bitcoin. Assim como a maioria das pessoas que entra em cripto, senti medo em ficar de fora. Isso fez com que eu comprasse um pouco de moeda e começasse a acompanhar o mercado", conta.

Ao longo do tempo, além das duas principais criptomoedas — Bitcoin e Ethereum —, o engenheiro diversificou sua carteira com ativos como Matic, Solana, Link, Dot, Near, Aave, entre outros. Para Victor, o maior arrependimento foi investir em Luna. No entanto, apesar das perdas, enxerga as operações como uma oportunidade de aprendizado.

"A diversificação é importante. Aplicar nesse tipo de ativo tem um propósito como qualquer outro investimento: diversificação, proteção e probabilidade de ganhos a longo prazo. O investimento em Luna não foi meu favorito. Perdi dinheiro quando essa cripto foi praticamente a zero. Mas aprendi mais um pouco sobre o mercado, me ajudando a evitar perdas", revela Vasconcelos, que também é sócio da Cash Wise Investimentos.

ETF à vista

A Nydig, empresa de negociação de criptomoedas, sugere que a aprovação de um ETF de Bitcoin à vista pode injetar até R$ 150 bilhões no mercado de criptomoedas. O novo modelo é aguardado com ansiedade pelos investidores. As ETF funcionam como uma ação tradicional, contudo, o investimento não é feito apenas em uma determinada empresa, mas sim em diversas ao mesmo tempo. A expectativa tem contribuído para o aumento do interesse e da confiança na moeda digital mais famosa como um ativo. Vale ressaltar que, no Brasil, os ETFs de cripto já são uma realidade e se destacam entre os mais rentáveis.

Para o diretor de Bizdev da Lumx, Lugui Tillier, caso seja concretizada, a ETF da Bitcoin poderia ser uma boa opção de investimento para aqueles que não desejam ou não podem comprar a moeda digital pelo mercado descentralizado. "É um trade off. Você perde a custódia descentralizada dos seus ativos, que é um dos valores fundamentais da Bitcoin, mas tem uma jornada mais simplificada e regulada, que é importante para players institucionais", avalia.

A tokenização de ativos reais é outra área que deve explodir em 2024. A aprovação do ETF à vista de Bitcoin deve estimular o mercado a criar instrumentos semelhantes para outros ativos digitais. "A inovação tem o potencial de democratizar o acesso a diversas classes de ativos. A tokenização pode efetivamente revolucionar o mercado financeiro, tornando-o mais acessível e eficiente", destaca o head da empresa.

O Ethereum é o candidato mais provável, pois em novembro, a BlackRock anunciou o interesse em lançar um ETF à vista de Ethereum na Nasdaq, a bolsa de valores americana. Segundo o Mercado Bitcoin, esse impacto se estenderia até, pelo menos, 2026, com uma alta acumulada de 82,7%, devido à inauguração do instrumento de investimento.

Marco Legal

Em 2023, entrou em vigor a lei federal 14.478/22, conhecida como Marco Legal das Criptomoedas. As discussões para a regulação das moedas digitais começaram em 2015, mas só ganharam a forma de lei no ano passado. O objetivo é estabelecer um regime de licenças para corretoras de criptos, além de penas mais rígidas para quem comete crimes nesse segmento.

Mesmo em vigor, na prática, a lei carece de atenção, tendo em vista que o órgão regulador foi definido às vésperas da aprovação na Câmara, em junho. O desafio será assumido pelo Banco Central, que ainda se debruça sobre a pauta para estabelecer quais serão as regras específicas que nortearão a regulação do setor no Brasil.

Para os analistas do Mercado Bitcoin, a lei deve ser colocada totalmente em prática no ano que vem pela autoridade monetária. Ainda de acordo com os especialistas, o Banco Central mantém um diálogo estreito com as associações e empresas do setor. "Com isso, o MB vê um aumento da segurança para as empresas atuarem no Brasil, país onde ativos digitais são um assunto bastante popular", avalia.

Embora não seja propriamente uma criptomoeda ao estilo Bitcoin, outra inovação do Banco Central pretende expandir a influência do sistema monetário nacional no mundo virtual. Trata-se do Drex, a versão digital do Real, que deve ser lançada em 2024 pelo Bacen. Mais que uma nova forma de moeda, o ativo é uma plataforma que pode abrir portas para aplicações no universo das finanças digitais e tokenização, salientam os analistas.

*Estagiários sob a supervisão de Michel Medeiros

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