Em mundo cada vez mais preocupado com a transição energética, o Brasil precisa se tornar um mercado mais competitivo para não perder esse bonde mesmo sendo rico em recursos naturais e com uma matriz energética renovável.
“Temos recursos, mas não temos tecnologia”, alertou Sandra Utsumi, diretora executiva do Banco Haitong em Portugal. Ela lembrou que os países do Oriente Médio já estão investindo em formas para fazer a transição energética para não depender tanto do petróleo como atualmente.
“O mundo está mudando e o país perdeu uma década. Não podemos perder mais um dia”, frisou a economista, nesta terça-feira (19/12), no segundo painel do seminário CB.Debate — Desafios 2024: o Brasil no rumo do crescimento sustentado, promovido pelo Correio Braziliense com apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra) e da J&F Investimentos. Ela lembrou que o país ainda não conseguiu crescer de forma sustentada devido às várias crises que atravessou, além da pandemia da covid-19, que acabou ajudando a piorar o quadro fiscal de todos os países.
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A especialista elogiou os avanços das reformas no país, como a tributária, aprovada na semana passada pelo Congresso e que deverá ser promulgada ainda nesta semana, mas fez alerta sobre os riscos de uma transição muito demorada. “É louvável, mas ainda faltam ser negociados a regulamentação. Não podemos esperar 10 anos para a reforma ser implementada na economia. Outros países também seguem essa agenda e, portanto, o país precisa ser mais competitivo”, disse Sandra.
A diretora do Haitong lembrou que a falta de competitividade do Brasil para ter um ciclo de investimentos sustentáveis pode ser vista na área do café. Apesar de ter recursos naturais abundantes e ser o maior produtor global do grão, contudo, o país que mais exporta o produto industrializado é a Alemanha. “Quem ganha com o comércio do café no mundo, certamente, não é o Brasil”, lamentou a especialista.
A diretora do banco chinês reconheceu que a transição energética não será fácil, porque muitos países vão precisar de mais energia e a questão do Brasil será como gerar energia elétrica para essa demanda global crescente de veículos híbridos ou elétricos.
“O Brasil tem que começar a ver de forma estratégica como essas novas tecnologias estão aqui e analisar o que o consumidor vai querer”, orientou a especialista. Ela citou, por exemplo, que, na China, o governo chinês não dá mais licença para veículos que não sejam elétricos.
Melhora no rating
Ao comentar sobre à melhora da nota de classificação de risco soberano do Brasil pela pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, Sandra Utsumi e a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, contaram que o fato era esperado, mas ele veio antes do previsto. Ambas concordaram que a aprovação da reforma tributária ajudou nesse processo. Mas a diretora do Haitong lembrou que ainda faltam dois degraus para o Brasil recuperar o grau de investimento.
“É um grande passo para o país. Foi uma grata surpresa de dois nortes. É uma boa sinalização para o governo, porque os sacrifícios estão sendo premiados. E um governo com uma classificação de risco mais baixa tem taxas mais baratas de crédito. Além disso, uma soberania mais segura reflete-se na economia como um todo”, afirmou.
A executiva lembrou que os desafios do Brasil do ponto de vista da inflação, que é resiliente, ainda são grandes, e, nesse sentido, o país ainda vai ter que conviver com o aumento de pressões inflacionárias sobre o salário uma vez que isso tende a aumentar quando o desemprego diminui.
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